domingo, 14 de dezembro de 2008

We are the World



Estimados seguidores deste blog, a propósito de canções de solidariedade que by the way Os Contemporâneos souberam parodiar tão bem no último episódio, escrevo-vos sobre, e imaginem só – “We are the World”. Bem sei que parecer-vos-á estranho, ou muitíssimo estranho até, mas, não querendo debruçar-me sobre a polémica música de “solidariedade” (com umas aspas - enormes) de alguns dos maiores autores Norte americanos do séc. XX da chamada canção popular, para angariar um fundo monetário de apoio ao Continente Africano (costuma dizer-se, de boas intenções está um inferno cheio) e digo polémica porque nunca ficou claríssimo se a musica, de quem se diz: da autoria de Michael Jackson, terá mesmo sido escrita por este ou, ao invés, Lionel Richie como muitos apregoam. Quincy Jones que a produziu, deve ter qualquer coisa a dizer sobre isto. (Risos)
Concentremo-nos no vídeo portanto!
E poderá facilmente ser encontrada uma versão no youtube.
Não deixa de ser extremamente irónico Michael Jackson entrar com a parte “We are the World, we are the children”. Ok! vou deixar-me de piadas parvas e vou respeitar o gosto que (Michael) toda a vida nutriu por criancinhas, até porque não foi isso que me levou a escrever sobre a musica.

A reunião de nomes como Ray Charles, Bob Dylan ou Paul Simon dentro deste contexto musical é logo à partida de arrepiar. De estranheza claro.
Mas se ouvirmos atentamente a musica desde o inicio, deparamo-nos aos 04:50..e tal… da mesma, com a entrada impetuosa de Ray Charles, quase parecendo anunciar o que aí vinha. A combinação das vozes de Stevie Wonder e Bruce Springsteen é, quanto a mim, arrebatadora. Talvez das mais felizes de toda a canção e o momento de maior originalidade melódica. Sobretudo Stevie é mesmo brilhante… Não sei se terei ouvido muitos timbres de vozes assim. Stevie parece competir com cada um de seus parceiros, num desafio vocal que deixa a concorrência a milhas e milhas distancia.
Lembro-me da época em que a musica saiu, tinha para aí uns 5 anos, passado todo este tempo, percebo muito melhor porque é que a mesma terá ficado no meu imaginário ou memória musical. Fundamentalismos à parte (lol) Desafio o leitor a encontrar alguém que cante como Stevie Wonder nesta musica.

Por: Tiago Pereira da Silva

“Quem se atreve a me dizer…”




Los Hermanos

Por: Tiago Pereira da Silva

Quem se atreve a me dizer que estes senhores não são/(eram?) uma das melhores bandas da actualidade?
Como chegou a sugerir Pedro Adão e Silva: a melhor banda a fazer rock em português. Que inteligentemente chamou a atenção para mais um aspecto de extrema importância no universo do rock, a confluência de duas guitarras numa banda. Existem inúmeros exemplos de como é muitíssimo difícil.
Então com este cessar, já longo, de actividade por parte dos membros de Los Hermanos lembrei-me por diversas razões de Los Hermanos como uma espécie de “Beatles” brasileiros. E os próprios membros da banda que me perdoem a imensa ousadia, mas vejo a força da criação colectiva numa banda de rock (por mais que os possamos encaixar noutros estilos) tal como identificava nos fab-four. Um Lennon/McCartney como Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante. A individualidade e originalidade parecem desafiar um e o outro. Mas enquanto membros da banda. Um individuo ao serviço do colectivo. Quer John Lennon, quer Paul McCartney nunca chegaram a compor um tema (em suas carreiras a solo), ao nível de grandes temas, enquanto Beatles. Penso que muitos criticos concordarão com esta apreciação.
Vejo mais paralelos entre Los Hermanos e os Beatles. Quando penso por exemplo, que o grandíssimo George Harrison numa de suas últimas gravações, fez uma cover de “Anna Júlia”.
Mas não é só isso que dignifica a musica, muito menos, por tocar vezes sem conta nas Rádios, numa até, alguns anos atrás galopante banalização militante. Mas como diria Amarante, parece que pelo facto de vender e fazer sucesso já é sinónimo de mediocridade. Parece que incomoda as pessoas.
Eu vejo-a como uma espécie de “She Loves You” de Los Hermanos. E é tão redutor avaliar Los Hermanos por ela, como os Beatles por “She Loves you” É inqualificavelmente superior o segundo período de criação dos Beatles, em termos de criação musical (65-69), relativamente ao primeiro (62-64). Curiosamente corresponde ao período de menor sucesso comercial da banda. Muito embora estejamos a falar claramente de um exemplo onde o popular convive de mãos dadas com a qualidade e excelência, ou não fossem eles a “maior máquina de fazer música de todos os tempos”.
Pois bem, com Los Hermanos acontece algo semelhante… é preciso ouvi-los. E tudo se impõe naturalmente. “4”, “Ventura” ou “Bloco do eu sozinho” são tão importantes na música contemporânea feita em português, como foram alguns dos discos dos fab-four para a Inglaterra dos anos 60.
Ir um pouco ao encontro das figuras, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante como cantores/compositores/letristas, sobretudo enquanto cidadãos e como olham para o mundo. O entusiasmo é ainda superior quando a relacionamos com estes discos de Los Hermanos.
Aliás a sua relação com a indústria musical é sui generis, a própria forma como desafiam o Statu Quo - deveria ser ensinada em algumas escolas de formação musical. Não via/ouvia alguém tão provocativo, critico, corrosivo para um determinado tipo de imprensa como Rodrigo Amarante, há muitos anos. Aliás, para os mais curiosos, poderão dar uma espreitadela no Youtube: qualquer coisa como Rodrigo Amarante Vs Repórter é sublime de tão lúcido, o seu ataque ao repórter. A fazer lembrar um estilo Dyliano moderado. (Risos)

O surgimento de Rodrigo Amarante no 2º álbum “Bloco do Eu Sozinho” com composições como "Sentimental" ou "Cher Antoine" trazem uma nova dinâmica ao grupo. A primeira, para mim, um dos temas mais bem feitos que ouvi nesta década musical do Brasil. Passamos a ter Camelo e Amarante numa espécie de diálogo individual, para a construção de uma narrativa colectiva.
O espaço do teclista Bruno Medina na banda, passa a ser do tamanho do seu talento - como magnifico instrumentista que de facto é.
Se observarmos o videoclip oficial da música “Condicional” deparamo-nos com outra interessante realidade em cada um destes quatro músicos se insere. A total “despreocupação” (leia-se no bom sentido do termo) com a imagem… o visual quase descuidado, barbas do tamanho de um revolucionário cubano.
O oposto do que as grandes produtoras musicais procuram hoje em dia.
Tudo isto cria uma forma muito própria de estar no universo fonográfico, parecendo dizer: nós só estamos aqui para fazer música com afecto e sinceridade. Da melhor forma que sabemos.
Nós, agradecemos.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Chuva...



Por: Tiago Pereira da Silva


Confesso que não sou fã de Mariza.
Ando muito mais pela praia de Ana Moura ou até mesmo de Cristina Branco.
Qualquer uma das últimas, sente-se privilegiadamente bem num universo não-fado.
Mas devo também salientar, que esta, é uma daquelas versões que me fez encostar o carro, para um ouvir de verdade.

Não sendo extraordinária a versão de estúdio, importa por isso, prestar atenção à versão do concerto em Lisboa. Aqui a reunião feliz de alguns talentos potencia de sobremaneira a intensidade poética com que Mariza interpreta o tema. Talvez dos poucos, perdoem-me os fãs, em que ela não me causa alguma irritação. Com um arranjo de cordas irrepreensível do maestro Jaques Morelenbaum, que dispensa quaisquer apresentações (escusado será dizer que foi o último director musical de António Carlos Jobim ou num passado mais recente – Caetano Veloso), com a Sinfonietta de Lisboa, tornando o intervalo melódico da voz de Mariza uma ampliação do sentimento expresso na letra de Jorge Fernando.

Mas se me permite, caro leitor, gostaria de sublinhar o trabalho da guitarra portuguesa de Luís Guerreiro (um dos grandes interpretes contemporâneos deste instrumento). Perdoem-me mais uma vez a adjectivação - mas sublime. Parece querer transmitir-nos, desde os primeiros acordes, a proximidade com o universo lusitano. Essa melancolia tradicionalmente portuguesa, profundamente embebida, numa esperança sebastianista. Eu sei que este texto começa a parecer lamechas… (risos)… Mas aquele solo de guitarra é assombrosamente revelador da nossa identidade cultural. Finalizo dizendo: é completamente impossível não pensar em Carlos do Carmo na parte final do canto de Mariza. Essa parte final do seu canto, é talvez maior, que qualquer homenagem que Mariza pudesse fazer ao nosso Sr. fado.

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudades
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
da história da gente
e outras de quem nem o nome
lembramos ouvir

São emoções que dão vida
à saudade que trago
Aquelas que tive contigo
e acabei por perder

Há dias que marcam a alma
e a vida da gente
e aquele em que tu me deixaste
não posso esquecer

A chuva molhava-me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai... meu choro de moça perdida
gritava à cidade
que o fogo do amor sob chuva
há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
meu segredo à cidade
E eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade


José Fernando

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Carta de omaggio a Cassandra Wilson


Por: Tiago Pereira da Silva

Ouvimos constantemente música. Estamos constantemente a ser bombardeados de sons, música de elevador, música nos ginásios, átrios de hotel, barulho, ruídos, etc. Lembro-me de ouvir numa entrevista, Adriana Calcanhotto dizer a Ana Sousa Dias que: “Temos música a mais no planeta, existe um excesso de música, em todos os sítios por onde passamos hoje”. Não só partilho da opinião de compositora, como acrescentaria:
É essa canseira musical que não nos permite, muitas vezes, prestar atenção em algumas coisas extraordinárias que se vão fazendo por esse mundo fora.

O meu primeiro contacto com a música de Cassandra Wilson deu-se em 1999, num daqueles insistentes zappings pela Tv. Foi então que sintonizando o canal Mezzo, reconhecido canal francês pelo seu mérito musical, apercebi-me da força negra de uma cantora americana com um dos mais belos perfis de mulher que alguma vez tinha visto. Ao mesmo tempo que o deslumbramento ia se multiplicando em mim, essa tal cantora desconhecida (para mim) parecia aperceber-se disso e reticente, ria-se para mim. Depois começou a vislumbrar-se a construção natural de um novo projecto musical em minha pessoa. Como ouvi alguém dizer um dia: “Ela só me surpreendeu uma vez, quando a conheci e a ouvi cantar. Foi uma surpresa tão grande e tão profunda que ainda hoje vivo sobre o seu impacto”.

O Homem precisa de arte porque tem alma, foi o que me ocorreu intuitivamente. A voz baixo desta cantora do Mississipi teve um impacto tão forte, que só descansei quando comecei a procurar toda a sua discografia… a tal mulher do perfil inesquecível. Bom! então a escolha recaiu sobre o seu disco de homenagem a Miles Davis – o soberbo “Travelling Miles” com um duplo sentido. Ficamos automaticamente rendidos com o tema de abertura “Run the voodoo Down”, talvez o mais jazzistico álbum de Cassandra Wilson”.


Concebido inicialmente como um meio de experimentar outros universos musicais, a cantora maravilha-nos com o disco “Belly of the Sun”.
Cada faixa de abertura de um disco de Cassandra parece determinar a sua nova intenção musical “The Weight” dos The Band fica a contemplação do que significa para os músicos a palavra – arranjo. O bem-aventurado “You gotta move” revelam uma cantora muito bem aconchegada num registo Blues. “Waters of March” de Tom Jobim e “Only a dream in Rio” canção de James Taylor de tributo à música brasileira, fazem a cantora reencontrar a Bossa Nova, imprimindo-lhe um sofrimento mais típico do Blues e a sofisticação nítida do Jazz embebida no universo da Country… uma das suas maiores paixões, e, importante fonte de inspiração musical.
No outro dia, ouvindo Pedro Almodôvar dizer que considerava Bebel Gilberto a sua cantora preferida da actualidade, pus-me a pensar se esta seria merecedora de tamanha honra e distinção por parte do realizador espanhol.
Mas o que é que isso interessa…não é de todo importante.
Uma representa um pequeno rio e a outra um imenso oceano musical. Não que sejam comparáveis. Fui buscar isto para dizer que Cassandra Wilson, para mim, representa a força musical de todo aquele continente chamado América. Ela reúne todos aqueles sons em sua música, desde o norte (Blues, Country, Jazz, Soul, Rock and Roll) ao Central Reggae e a Bossa Nova do Sul. Não há nada para ela que não posso ser reinventado. Nada que lhe pareça estar oculto numa canção e que não arranje sempre forma de ser revelado.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Azul

Passaste …
E os meus olhos acompanharam o que passou!
Não sei se desprevenidos da dor?
Não sei se possibilitados pela cor?

Sei que a insistência de um azul profundo
Me perseguiu na cegueira do que passou.
Tal como qualquer suplica de presa,
Diante do traço exacto da mãe natureza.

E sem saber ao certo, se o antes – existia,
Mergulhei no plasma azul desse teu líquido
E vim desgarrado à superfície
Capaz do bem do mal, nossa Folia.

A terra é pequena diante dos teus olhos!
Que quase me lesam a retina
E humilham o meu desconhecimento!
É que não vejo em arcos ou íris – esses olhos

Que tomaram o meu viver
E romperam o anonimato da cor.
Eu rondo num quarto pálido como amador
E tu fazes brotar da cama, todas as flores

Mas vamos tornar tudo visceral!
Cruzemos esse rio imenso de sangue,
Com genes úteis de Neandertal,
Apagando tudo o que não é nosso

E Durmo contigo nas noites
Em que vejo a forma de teu corpo mergulhar
No atlas imenso de minha cama…
Sem prosa, sem versos, apenas mar.

Novembro 2008, Rodrigo Camelo

sábado, 22 de novembro de 2008

Paul Simon


Por: Tiago Pereira da Silva

Alguém que só por uma ocasião escrevesse uma música como “Bridge over troubled water”, já seria certamente recordado e, necessariamente, ouvido e respeitado em várias partes do mundo. Já li que a coro-refrão de “The Boxer” foi considerada a melodia mais inspirada da música pop anglo-saxónica de todos os tempos. Eu, continuo achar "At the Zoo" a mais que perfeita paródia musical que ouvi até hoje.
Paul Simon nem sempre foi recordado, nem sempre foi entendido, nem sempre poupado, muito poucos, acreditaram por exemplo, que se daria bem numa carreira a solo, tal foi o sucesso estrondoso da dupla Simon & Garfunkel nos anos 60.
É inegável falar de uma carreira de um imenso sucesso comercial. Mas não é isso que é, definitivamente importante quando falamos de Paul Simon. Um músico que tal como se referiu ao seu grande amigo George Harrison, depois de desaparecido, de uma forma maravilhosamente bonita, dizendo aquilo que coincidentemente, ou não, lhe assenta como uma luva. “Ele não sentia propriamente necessidade em ser ouvido”. Paul Simon deve ser respeitado e lembrado como são, por exemplo: Paul McCartney, Eric Clapton, Mick Jagger, entre muitos outros. Só que Paul Simon, mais do que quase todos os seus companheiros de geração, divulgou a música do mundo ao seu próprio universo musical. E para que fique claro, Simon foi talvez o primeiro músico anglo-saxónico e, já na época de Simon & Garfunkel a misturar ritmos do continente Sul-Americano. Se não vejamos, El Condor Pasa, do álbum “Bridge over troubled water” com letra de Paul Simon é uma música Inca-Peruana de celebração, entre outras virtudes, da paisagem abençoada do céu de Machu Picchu – Montanha Velha, seu significado inca. Nesse disco encontramos também uma pérola chamada Cecília que revela um Simon cada vez mais mergulhado no som, de uma América imensa.

O lançamento do álbum homónimo “Paul Simon” em 1972 é um grito de libertação e resposta ao que dele diziam, na época, incapaz de se aventurar a solo. Já sem os condicionamentos de trabalhar em grupo, Simon tem liberdade para fazer o que quer em estúdio. E podemos ouvir pela primeira vez, até antes de Clapton, o som forte jamaicano em temas como Mother and Child Reunion,. O álbum, inteiramente gravado no Sound Studios na Jamaica, abriu um leque de possibilidades para outros músicos seguirem as pisadas de Paul Simon. O som está repleto de influencias Sul-Americanas e Porto-riquenhas. Ou não fosse a faixa “Me and Júlio Down by The Schoolyard” testemunhar isso mesmo, como o seu impetuoso começo de Cuíca.

A importância de Simon na ponte cultural de ligação ao chamado terceiro mundo foi sem precedentes. Muitos, se lhe seguiram. Como Peter Gabriel. Mas Paul foi sem sombra de dúvida, o mais feliz, o mais iluminado, o mais criativo, e o mais inspirado criador de canções do seu tempo, dentro deste contexto específico. O seu mérito é ainda mais importante se considerarmos a maneira como foi feita. Paul nunca se limitou a consumir e a explorar a música anglo-saxónica, percebeu claramente a magnificência que florescia a cada década na música, primeiro na América do Sul, depois no continente Africano. Paul Simon percebendo exactamente o timing de ser escutado, ou quando mundo o ouvia, quis partilhar a sua descoberta. Existirá maior mérito que este?

Saltando muitos anos na sua fabulosa carreira musical a solo, para um período, curiosamente, de deserto, crítica cerrada, de desencanto pela indústria musical. Todas estas condições estiveram reunidas em meados dos anos 80. Paul Simon passava por uma das maiores crises pessoais de sempre nos meses que antecederam a criação de “Graceland” a sua suprema obra-prima. “O disco anglo-saxónico pop mais bem feito de sempre” na opinião Philip Glass.

Mas voltando a essa época em que Simon encontrava-se musicalmente bastante perdido, tinha por hábito ouvir no carro uma cassete, que lhe tinha sido emprestada por um amigo, de uma banda Sul-Africana chamada Gumboots. O impacto foi tão profundo e durador, que meses mais tarde Paul, viu-se a caminho de Johannesburg, para gravar um álbum sem qualquer música na “manga” ou pré-ensaiada . A produtora ficou “louca”, mas ninguém conseguiria demover, um já decidido Paul Simon.
Sua ideia era, sobretudo, procurar conhecer e aprender um pouco da música da Africa do Sul e de todo aquele maravilhoso e riquíssimo continente.
Muitas eram as pressões para que Paul ali não estivesse presente. Em pleno período do Apartheid, a repressão social e racial em crescendo nas ruas, acrescido ao facto de Simon ter convidado maioritariamente músicos negros. Tentaram calá-lo. Há até quem considere que em determinadas situações, se expôs em demasia ao “inimigo branco”. Mas nada disto o interessava mais.

Era a celebração negra, era um grito de desespero ao mundo. Em “Graceland” não se ouve nem se lê letras politizadas, ou pelo menos, directamente. Paul Simon optou por “usar” a alegria e celebração de um povo, por celebrar a vida e não a morte, e também por isso, foi criticado. O público deu a resposta. O disco foi um estrondoso sucesso. E a sua qualidade, jamais poderá ser confundida com o imenso apelo popular do mesmo. Até os temas mais pop-comerciais como “You can call me Al”, estão extraordinariamente bem feitos, permaneceu semanas atrás de semanas como nº1 da bilboard. Mas “Graceland” é, sobretudo, o disco do tema título, de “Boy in the Bubble” e do excepcional encontro entre Simon e os LadySmith Black Mambazo um grupo negro-vocal Sul-Africano. Desse encontro resultou por exemplo "Diamonds on the soles of her shoes" que percebemos logo na entrada, tratar-se de uma abordagem diferente das canções até então feitas por Paul Simon. Encontro esse, que se revelou “mágico” nas palavras de Paul, seria a projecção internacional dos Ladysmith. Vale a pena assistir ao DVD: Paul Simon – Graceland Classic/albums e perceber, pelos protagonistas o encantamento desse encontro que mudou até mais Paul Simon do que os próprios Ladysmith, como surgirá naturalmente numa qualquer audição do fabuloso “Homeless”, cuja a entrada, inteiramente criada pelo seu líder Joshep Shabalala, é das melodias mais belas e apelativas que vi criadas pela voz humana.

AMIZADE!!!!!! (Vinícius de Moraes,1913-1980)





Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos .
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ...
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida. Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os.


Imagem: Frida Kahlo, duas caras

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Nesse Rio Maldito

E é em Blindness de Meireles que penso, e, uma banda sonora que se funde, com o que os olhos ditam.

Anos de vida amarga,
Entardecer…
Velhos oiço cá dentro.
Essa voz que vós escutais
É também meu coração sangrento,
Ferido dos inúmeros punhais.

É nessa gruta que o guardam?
Não vêem que ele espreita
Sempre um pouco?
Fechem-no às vezes…
Nesse cofre-asfixia de um louco
E deixem que apodreça uns meses.

Findem todas as passagens de ar.
Que estranha fragrância que deita!
É como se de matéria tratasse,
Dessa entranha de mim,
Quero um volte face,
Nessa luz branca sem fim.

Vinde tu, sino da morte.
Toma-o como teu segredo,
Derrama o vinho brando sobre a testa
Guarda, ri e esconde…
Engole a chave nesta,
Dose de corpo onde

Os cafezais são seu abrigo,
Como um vácuo ao subversivo.
E nem a luz desses ordinários
Coloca negros nus ou ao relento,
Mutação estilo Portinaris
Ou as selvas que me deixam sedento,

De ir ao som de um Purus River.
Desse copo de corpo Inglês,
Que agita as águas de um rio
Minimalista, de onde vêem peixes
E os teus tesouros no frio,
Só precisa, mesmo, que deixes

No bater desse coração,
Propicio como algo que vejo
Na escuridão de um rio maldito,
Entrar no Amazonas de ti.
Sem mais um grito erudito
De um corpo som Uakti.


Rodrigo Camelo

domingo, 16 de novembro de 2008

Paisagem Intelectual

Aumenta a chances de prosopopeia
Abrindo a porta dessa árvore deslumbrante!
Uma porta com um terceiro elemento
Que não a entrada, que não a saída;
Com todos os bichos por dentro.

No primor da tua linguagem,
Emerge um povo diferente na técnica;
Que tem na étnica, a sua imaginação sagrada.
Um povo imenso de constrangimentos geográficos,
Mas iluminado do velho sábio, meu camarada.

Vejo-te orgânica e emocional
Nessa graciosa aliteração em s,
Sob um sol de seiva de um sobreiro
E uma longa e abstracta abstracção.
É que a tua gente resume tudo num viveiro

Onde a música agarrou meu viver
Dentro de um livro sem autor de base
E uma longa bíblia sem criação.
Em memória de todos aqueles cuja génese
Foi queimada, nos cálices “nobres” da inquisição.

Fomos salvos, apenas, pela musa - vocábulo.
Sim, a que casou no mar novo - nasceu Sophia!
Porque o mar inteiro que nos rodeia,
É todo dela na exactidão e na promessa;
Que me levou e dilacerou a veia.

A única onde corre meu sangue atento
Ao ritmo são, das máquinas sem rosto,
Que atiçam o medo, na verdade do que pintam.
A carme denunciou “abutres”, enquanto
Outros fingem que não vêem e fintam


Esse povo amargurado e cinzento
“Nocturno da Graça” na graça do medo.
Nisso sempre quiseram insistir!
Mas é onde sei que a força dela, convoca
Todos os elementos e adoça o nosso persistir.

Sophia não é “só” mais uma da fonte!
É a própria imagem da origem.
É a que fez um povo inteiro desnascer,
Enraizando o seu perfume na língua;
Como um novo começo de um deus nascer.

Para: Sophia de Mello Breyner Andresen

Rodrigo Camelo

O Preguiçoso das Palavras

O poeta é …
O preguiçoso das palavras
Aquele que sem medo
Mente e ri à verdade.

Ousado desrespeito esse
Por um João Cabral sem memória,
Que nas voltas mil de anil
Dormiu revirado e acena.

Logro desses fins.
Vejo me errado na cena,
Em filmes que não sei contar
E é pelo sinal, dele, que temo.

Ó errante Pessoa!
Quero ver a luz, nessa escuridão.
Quero ver-te nela e a desenhar
O poço fundo a transbordar

Um desses - de ti!
Em que te multiplicas
E sabes que só precisas de adormecer
Os outros que, por vezes, acendem.

Despe a pele completa,
Ossos e músculos até…
Deixas alguns órgãos
E fazes de conta que és.

Ficou lá em cima a luz
Na quarta estancia te vejo.
Já não brilha o pó do céu,
De um Camões que viu o mérito.

Sabem…
Dois génios entendem-se
Suas mentes comunicam
Como dois satélites num passo
Para o espaço de antena.


Rodrigo Camelo

Come Rain or come shine...


I'm gonna love you like nobody's loved you,
come rain or come shine.
High as a mountain, deep as a river,
come rain or come shine.

And I guess when you met me
it was just one of those things.
but don't ever bet me,
'cause I'm gonna be true if you let me, let me.

You're always gonna love me like nobody's loved me,
come rain or come shine.
Happy together, unhappy together,
and won't it be fine?

Days may be cloudy or sunny.
We're in or we're out of the money.
But I'm with you always.
I'm with you rain or shine.

Days may be cloudy or sunny.
We're in or we're out of the money.
But I'm with you always.
I'm with you rain or shine.
Rain or shine.

Performed by Don Henley

My one and only love - Sting


The very thought of you makes
My heart sing
Like an April breeze
On the wings of spring
And you appear in all your splendour
My one and only love

The shadows fall
And spread their mystic charms
In the hush of night
While you're in my arms
I feel your lips so warm and tender
My one and only love

The touch of your hand is like heaven
A heaven that I've never known
The blush on your cheek
Whenever I speak
Tells me that you are my own

You fill my eager heart with
Such desire
Every kiss you give
Sets my soul on fire
I give myself in sweet surrender
My one and only love

The blush on your cheek
Whenever I speak
Tells me that you are my own
You fill my eager heart with
Such desire
Every kiss you give
Sets my soul on fire
I give myself in sweet surrender
My one and only love

My one and only love

Performed by Sting

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Wild Beasts - The Devil's Crayon

This truly is the devil's crayon
Tracing your shoulder blades
Aglow like rayon
This truly is the devil's crayon
That all his children can use to draw

And we are so many tiny pieces
And we are so many tiny pieces

This truly is the devil's answer
Carved from the tongue of this romancer
This truly is the devil's answer
The oldest children used to kiss

And we are so many clambering hands
And we are so many clambering hands

The way you say her name
I want mine said the same, devil
Devildevildevil
The way you say her name I want mine said the same
Devil

This truly is the Devil's shoulder
Your arm draped around
Ten times over

This truly is the Devil's shoulder
That all his children will use to throw their loads, their loads on you
To throw their loads on you

And we are so much moulded dough
We are so much moulded dough

Used to throw their loads on you
Used to throw their loads on you

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Slow Dancing in a Burning Room

It's not a silly little moment,
It's not the storm before the calm.
This is the deep and dying breath of,
This love that we've been working on.

Can't seem to hold you like I want to,
So I can feel you in my arms.
Nobody's gonna come and save you,
We pulled too many false alarms.

We're going down and you can see it too.
We're going down and you know that we're doomed.
My dear, we're slow dancing in a burning room.

I was the one you always dreamed of,
You were the one I tried to draw.
How dare you say it's nothing to me,
Baby you're the only light I ever saw.

I'll make the most of all the saddness.
You be a bitch because you can.
You'll try to hit me just to hurt me,
So you leave me feeling dirty cause you can't understand.

We're going down
And you can see it too
We're going down
And you know that we're doomed.

My dear, we're slow dancing in a burning room.

Go cry about it
why don't you?

Go cry about it
why don't you?

Go cry about it
why don't you?

My dear, we're slow dancing in a burning room.

Don't you think we ought to know by now?
Don't you think we should've learned somehow?

John Mayer

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sob a prosa de Nery

Inscreve teus olhos na minha vida!
É que essa flor denunciou teu cheiro no meu viver.
E vens mansa como o pássaro que canta o silêncio
Que atravessa a porta do meu corpo e traduz
Tudo o que vejo acontecer, em mil anos-luz
E quero premissa!
Avesso de gravidade ou de preguiça…
E prosa é nossa Amor!

Veste as câmeras de programas finos,
As que sentem a cor que nasce em filme
E rezas um credo ateu das mil nuvens.
Talvez seja a jura eterna por fim,
A que me comprometo, caso sejas assim.
Porque tornas manchas de Nery tesouro
Desse Eduardo sem mãos de tesoura…
E amor nosso é prosa!

Quem sabe um pulso – Guevara,
Faz, de um talvez, não haja talvez em nós?
E vejo infinita beleza nessa canção muda
Vinda de impulsos fraternos e nunca mais,
E dorme a fonte que a viu nascer demais
Perdendo a rota, mas também o medo,
De teu olho azul ao sul mar do segredo.
E nossa é a prosa do Amor

Esse acaso já tem dono!
Porque voas no nada e trazes,
Um cravo de Abril, num sol de Julho,
Abrindo portas nas nuvens da vontade
Ou lentes para graduar minha saudade.
E eu nunca voava, mas vejo agora -
Dessas asas para nos levar, vida fora
E nem cabe em nós essa prosa!

Rodrigo Camelo

domingo, 2 de novembro de 2008

Oasis - Dig Out Your Soul




"Tradicionalistas num mundo em mudança, os Oasis são a banda mais representativa do Reino Unido na actualidade"
in: Blitz; Mário Lopes


Waiting for the Rapture

I still don't know what I was waiting for
A big love to fall down from the sky
She took my hand and picked me up off the floor
She put an apple in my eye

I said I'm tired
Come get me off the merry-go-round
I'm wired
Come feed me and then bring-a-me down

She come up to me
I can't remember what she said
Cause I was in a trance and I forgot it all
Banging on about all that
Revolution in her head
She'd make a lover seem so magical

She said I'm tired
Come get me off the merry-go-round
I'm wired
Well heaven must have sent ya
To save me from the rapture

I'm tired
Come get me off the merry-go-round
I'm wired
Come feed me and then bring-a-me down


Atenção a este tema!!!!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Justin - Got to give it up, Part 1(Marvin Gaye) 1977 Motown Record


(...) he hit again with "Got to Give It Up", the seductive homegrown dance groove which became a successful oddity in the age of disco. Ironically, the song speaks to Marvin's shyness and obsessional fear of dancing.
In Marvin´s Biography

É curioso como tenho ligação com esta musica de Marvin Gaye. Já a tinha referenciado no meu Blog. O autor o multinstrumentista e um dos mais influentes músicos do séc. XX segundo a revista “Rolling Stone” dispensa qualquer tipo de apresentação. Alguém que só por uma vez escrevesse uma música como “what´s going on” já mereceria lugar de destaque, alguém que fez um álbum inteiro como “What´s going on” será para sempre lembrado, como o responsável por um dos discos mais importantes de todos os tempos.

Importa ouvir a versão de estúdio de Got to give it up, part1, importa também ouvir a muito bem conseguida versão do festival de Montreux de 1980…qualquer uma delas poderá encontrar no Youtube, mas volto a escrever sobre a musica, porque fiquei completamente atónito com a versão de Justin Timberlake. Confesso que estava munido de preconceito relativamente a qualquer coisa que fosse ouvir dele, mas esta versão (que também pode ser ouvida no Youtube) de homenagem a Marvin Gaye e provavelmente por ser tão colada ao espírito da mesma (e que é absolutamente exigida) – surpreendentemente resulta. Justin num falsete incrível (bem próxima da voz de Gaye), e poderá confirmar pela imagem, espanta até alguns membros da banda em palco.
Fez-me lembrar por exemplo o comentário de alguns ex-musicos de Sinatra quando se reuniram em estúdio para gravar com Robbie Williams uma versão da música: Mr. Bojangles, no final a banda toda levantou-se espontaneamente para um aplauso de 5 min.

I used to go out to parties and stand around
'Cause I was too nervous to really get down
But my body yearned to be free
I got up on the floor, boy
so somebody could choose me.

No more standin' up side the wall
I have got myself together, baby
And I'm havin' a ball

Long as you're grovin'
There's always a chance
Somebody watchin' might want to make romance

Move your body, ooo baby,
you dance all right
Get down and prove it,
feel all right

Move it up
Turn it down
Shake it down

(repeat and fade):
Keep on dancin'
Got to give it up

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dave Matthews Band - Rapunzel



Ha, open wide
Oh so good I'll eat you
Take me for a ride
In your sweet delicious,
Perfect, little mouth
There upon I linger
You will have no doubt
That I do my best for you
I do, love...

Let's stop to get it going
Lost myself just thinking
'Bout the two of us
From each other drinking
Begin with the lips
Fingertips and kissing
Turn me inside out
I do my best for you

Up and down we go
From the top you push me
This is such a thrill
lost in love and dancing
Shake your tambourine
You blow my head open
Of one thing I'm sure
I do my best for you
I do...

For you I would crawl
Through the darkest dungeon
Climb a castle wall
If you're my Rapunzel
You let your hair down
Ride in through your window
Good, they locked the door
'Cause I do my best for you

I think the world of you
With all of my heart I do
This blood through my veins for you
You alone have all of me
From you my strength is full
To you I will be true

Too good to be real
The smell of something cooking
My soul you're to steal
Food of love we're filling
What you've given me
For it there's no measure
Of one thing I sure
That I give my best for you

I think the world of you
With all of my heart I do
This blood through my veins for you
You alone have all of me
From you my strength is full
To carry your burdens, too
I give my word to you

Locked up so tight
Good God you drive me crazy
But crazy is alright
With you looking at me
You make me feel high
Every single thing you do to me
Is like I'm drunk

Given me, given me the shivers

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele econtrará
o único agasalho possível
- um outro coração.


in "A Chuva Pasmada"
Mia Couto

Conselho do Avô

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Song to Rodri!

Nomeiem alguém que seja expressão do meu inconsciente
Dessas, cujos ossos da face, parecem tornar tudo iminente
Como te chamas, ó cria que danças materna e nua?
E abraças as misérias dessa escrava que creio - tua.
É que a intima palavra, empresta-se, na solidão que te descreve.
Empregas todos os esquemas e escondes-te no leite que espreme
O cínico desejo. Eu oiço-te como o “Parvo” na ponte estreita
Dessa Barca Giliana, entre as duas grandes verdades:
O Inferno de viver, ou, o paraíso como possibilidade.

Como é afinal teu nome, que não cantas em vão ou frases feitas?
E que é meu mar no rio da descoberta ou na margem mãe em que te deitas
As linhas dessa folha não permitem que eu absorva as emoções
Ou a desordem que despejas, num diário novo de canções.
As palavras acumulam-se nesse rol que insistes em mimar,
De um qualquer texto que não é mais que o teu fervilhar.
Essas linhas são o filtro, para as palavras que destilam no intuito
De retirar todo o velho sofrimento, apenas com um plano fortuito.
Faz do cínico, um antónimo e deixa me voar na beldade
De um Inferno, sobreviver, ou o paraíso da vaidade.

Quem és tu afinal que me fazes tanta falta?
Que surges na luz altiva da noite de um sonho que veio de Malta,
Ou daquelas, numa tarde que tarda em se dar
Não, dizes tu! Venho da batalha entre - múltiplos medos a entrar.
Agora que te conheço, viajamos para o imenso vazio do mundo
Onde juntos enxergamos a luz, que suspeito bem lá no fundo
Vir toda de ti. E que fazem da minha solidão sedenta
O bem mais profundo, na epopeia da rota de colisão,
Entre dois mundos que não recebem, só dão.

E que se apropria e apropria da dor.
Ou na imensa barragem que canaliza meu suor no calor.
Provavelmente, como um mano fez da canção - Paloma
Sua propriedade. O seu mais que singelo cantar de broma.
Talvez até como - a “Guernica” se apropriou de Picasso
Ou de um Djavan cantando: “Faltando um Pedaço”.
Não vês que só desejo o teu ser em dias bissextos!
Podes esperar uns anos e multiplicar pelo número de textos,
Que escrevo lembrando, que a tua beleza é a maior coisa que existe,
Que sei do sítio, onde és de verdade e tua alma nunca desiste.

Sítio com um inferno e um paraíso a conviver
Onde o apelo da selva deixa a civilização a esmorecer.
Encontra-te também no outro de mim que não dói
E vê - beleza, no espinho que se crava no corpo que mói.
Estou para sempre no plasma desse teu corpo
Onde alimentei os mitos, como aquele que contempla um morto.
Ó meu Deus ateu de brancas nuvens, amplia o peso
E a pretensão de um pastor, que se quer sempre preso
Ao desejo de ver teu céu colidir, na bruma que não tem preço.

Rodrigo Camelo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

À conversa com Eça...



Por: Tiago Pereira da Silva

A propósito do filme”Crime do Padre Amaro”- exibido há pouco tempo num dos nossos “sensacionais” canais, devo confessar que me arrepiei, para não variar, e, arrepio sempre que vejo o universo de Eça explorado desta maneira. Não querendo recorrer a nenhuma figura de estilo demasiado previsível lembrei-me muito, por exemplo e sem satirizar a um extremo, do Sketch dos Gato Fedorento - «Javardola». Parece um projecto feito às três pancadas, uma procura de receita através de uma fórmula miraculosa muito simples chamada Soraia Chaves. Á desculpem! Mamas da Soraia Chaves.
Não pensem que tenho algum tipo de implicação com o cinema português, tenho sim com este tipo de filmografia em Portugal, que mesmo recorrendo a um vastíssimo leque de personalidades do nosso cinema e televisão, entre consagrados e figuras mediáticas que se tornaram actores, não conseguimos nunca, observar uma narrativa sólida, uma direcção de actores credível, uma banda sonora interessante e valha nos deus, diálogos bem construídos. Em vez disso, temos mudanças súbitas de planos que começam com os eternos: foda-se!

A utilização de Soraia Chaves como fórmula para o sucesso comercial através da utilização da sua imensa telegenia, não prestigia nem o cinema português, nem a actriz, nem o publico, ainda para mais quando no caso de Soraia é ingrato o balanço da sua actuação, considerando que esta se revelou em Call Girl muito mais que uma simples redução a um conceito estético visual. É possível dizer-se que estamos na presença de uma potencial actriz. E digo potencial, porque actrizes – actrizes, são poucas e talvez percebamos quando olhamos e ouvimos um monólogo qualquer de uma tal de Beatriz Batarda, só para citar um exemplo, talvez a melhor da sua geração.

Mas desviei a atenção, do que me propunha partilhar com o caro leitor, neste À Conversa Com Eça. A minha estupefacção em algumas adaptações do universo literário de Eça de Queirós para o cinema, quer português quer estrangeiro, também são associadas a algumas agradáveis surpresas. Infelizmente em menor numero.

A Eça podemos dever, por exemplo, a nossa forma de escrever. Um homem que foi em quase tudo um visionário, dentro de um séc. XIX rico e complexo para a história da literatura escrita em português, e digo escrita em português porque estou a lembrar-me por exemplo do seu “rival” - Machado de Assis no Brasil.

A forma desprestigiante com que se adaptam determinadas obras de Eça para o cinema, deixam-me totalmente incrédulo. Por mais que sua ficção literária seja de um preciosismo e de um realismo muito característico, levando mesmo ao nascimento de uma nova corrente literária, não perceber cirurgicamente a exigência de um trabalho quase de dramaturgia numa adaptação de Eça ao cinema, por parte de um cineasta, é quase tão grave como ter a tentação de “pegar” na intriga/trama de uma historia de Eça e reduzia-la a um conceito telenovelesco.

Sejamos frontais e perdoem-me desde já a expressão, mas o homem era muito à frente para o seu tempo. E sem pegar na diferença de estilo que veio introduzir, olhemos por exemplo para a temática de algumas das suas obras mais reconhecidas do grande público. Escrever por exemplo em 1875 uma obra como “O Crime do Padre Amaro” ou o “Primo Basílio” creio que três anos depois, era um manifesto contra-corrente, uma critica à sociedade hipócrita reinante sobretudo na Aristocracia Lisboeta do séc. XIX. No ataque à instituição Igreja há mais actualidade em Eça, do que na maior parte dos escritores contemporâneos. Tal como é muito difícil encontrar alguém mais satirizante para este século do que o próprio poeta barroco Gregório de Matos.

A forma detalhada como Eça constrói a caracterização das suas personagens, sempre me anestesiou. Encontro por exemplo uma força claramente em confronto com a época e mesmo que não directa, nas mais importantes personagens femininas que criou. Quer em Os Maias através de Maria Monforte e Luísa de O Primo Basílio é abordada a questão do adultério feminino, uma vez mais de forma amplamente conseguida, uma vez que triunfam em cada narrativa, numa imensa ousadia de Eça considerando um dos assuntos tabus da época. A personagem Juliana de “o Primo Basílio” e a forma absolutamente irónica com que Eça a coloca a chantagear Luísa, confere-lhe uma das personagens mais interessantes e corajosas na obra de Eça.

Eça de Queirós estilhaçou, tal como já referi, a hipocrisia de determinados sectores da sociedade da época. Falou dos temas tabus, infidelidade feminina, agitou o modelo/instituição família, jogou até com relações incestuosas, criticou ferozmente a igreja católica, etc. Poucos autores ousaram mexer com tantos modelos sociais, descrever inacabavelmente o nosso mundo de fantasmas, ainda para mais com resultados tão felizes. Pensei até, que pena não ter visto Stanley Kubrick adaptar uma obra de Eça. De certa forma vejo uma forma na génese criativa e de pensar a complexidade das relações humanas, que é transversal aos dois autores.

Um bom exemplo de uma muito bem conseguida adaptação cinematográfica de uma historia de Eça de Queirós é a obra do cineasta Brasileiro Daniel Filho com “O Primo Basílio”. Reparem como houve também a preocupação de construir uma obra cinematográfica baseada no livro, mas profundamente adaptada ao universo da sociedade brasileira de meados do séc. XX. Criando pontes analógicas com a realidade da sociedade lisboeta do Séc. XIX.

Continua…

Sobre o filme. (O Primo Basilio) - Daniel Filho
Para este 2º romance de Eça, em que o romancista fazia o espelho da futilidade reinante na sociedade lisboeta do séc. XIX, atacando directamente a classe burguesa, Daniel Filho opta cuidadosa e inteligentemente por encaixar ou transferir a história para o Brasil do séc. XX, mais concretamente a cidade de São Paulo no ano de 1958. Vivia-se uma época áurea em alguns aspectos. Foi a época do arquitecto Óscar Niemeyer, responsável pela projecção e desenvolvimento de uma nova capital chamada Brasília. Daniel Filho é atento à transversalidade e versatilidade do romance de Eça, e, faz desta adaptação uma das mais bem conseguidas que vi no cinema, em anos. De facto, o filme está embebido de uma condução e ritmo narrativo, que associado ao fantástico trabalho dos actores, excepção feita talvez do esforçado, Reynaldo Gianecchini como Jorge. Perdoem-me as fãs! Pode ser galã, mas não consigo gostar de um trabalho deste simpático e intrépido actor, muito aquém do que exige a sua personagem. Ainda para mais, na exigente tarefa de interpretar o “cornudo” (risos).

O “Primo Basílio” é dos poucos filmes que até hoje, e, após sair da sala provocou-me um desconforto perturbante. Apercebi-me do incómodo feroz, das duas pessoas que tinha sentadas ao meu lado e que eram, completamente desconhecidas para mim. Esse desconforto vem também, de uma convergência plena entre o plano cinematográfico de Daniel e literário de Eça, como por exemplo, a descrição detalhada das personagens. Permitam-me uma vez mais, sendo no caso do cinema, uma tarefa muitíssimo mais difícil.

Tendo já assistido ao vivo à cumplicidade entre Glória Pires (Juliana) e o Director (como se diz no Brasil) Daniel Filho, percebe-se com grande ajuda do filme, o dificílimo compromisso de tornar Glória Pires numa Juliana credível. Aliás, a actriz dizia que seu medo de parecer feia, era muito inferior ao medo de parecer igual a Marília Perâ (um de seus ídolos) que já havia feito a adaptação para a mini-série brasileira em 1988. Ao que Daniel Filho respondeu, dizendo qualquer coisa do género: “Marília não quis ir até ao fim mesmo, você vai-me prometer que vai ficar feia mesmo”.

Esta referência à parte, à a actriz Glória Pires, é não só necessária como justa. Sendo um imenso admirador da actriz Marília Perâ e não tendo assistido à mini-série, claro que fico sempre algo reticente. Não se deve comparar textualmente duas grandes actrizes que fazem em épocas diferentes uma mesma personagem, seria tão errado como comparar um livro e um filme. Quero apenas dizer… que: desde a 1ªcena em que Glória Pires aparece no filme, o desconforto do espectador vai-se ampliando e multiplicando. É simplesmente sublime o trabalho da dupla, Pires-Filho. A actriz vai aparecendo sempre aos poucos, como que uma aparição, um fantasma, revelando-se a cada apontamento, a cada maneirismo, “maravilhosamente” -feia. Incrivelmente bem conseguido. Mérito brutal da actriz, mas obviamente, o caso típico de uma grande Direcção de Actores.

Uma nota também para dizer, que o Brasil é provavelmente o país do mundo, onde melhor se filmam as cenas de sexo e erotismo. Para eles é uma escola natural. Sexo é vida. E eles são mestres a filmar o nosso quotidiano. Daniel Filho fez, duas das cenas, mais arrebatadoras de erotismo, que vi num filme até hoje. Agora lembrem-se do “Crime do Padre Amaro” versão portuguesa (é preciso sublinhar) e pensem no equivoco de cenas entre Chaves e Currula.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

There is a pleasure in the pathless woods

There is a pleasure in the pathless woods,
There is a rapture on the lonely shore,
There is society, where none intrudes,
By the deep sea, and music in its roar:
I love not man the less, but Nature more(...)

Lord Byron

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Soneto da tua ausência

Um dia vou te chamar Pilar
Um dia vou ter-te nos meus braços
Presentes quentes e ausentes de tédio
Porque tu serás a mais que perfeita escolha,
De tudo ao que da vida pertencia.

Um dia vou poder te dar
De tudo ao que a mim, te proponho dar
Porque não posso mais esperar
Presentes quentes e a teimosia ardente.
Um dia vou ter-te a olhar.

Porque eu sou sebastianista na espera
De tudo o que um homem quer criar
Um dia vou ter de esperar
Presentes quentes e a tua chegada.
Um dia vou ter de te contar

De todo o sofrimento,
Porque a espera é sempre intensa
Presentes quentes que a tua não chegada,
Um dia criou em mim a angustia
Dessa tua ausência imensa.

Rodrigo Camelo

domingo, 5 de outubro de 2008

Bessie Smith - Imperatriz do Blues


Algodão e Melancolia
Por: Cristiano Gobbi
Começa pela tradução da palavra. “Blues” quer dizer melancolia no jeito peculiar de falar dos habitantes do delta do rio Mississipi, berço do ritmo. E melancólicas são as raízes do blues. Ele começou a surgir em Agosto de 1619, quando o primeiro navio negreiro atraca na costa-americana. Nos porões, negros arrancados à força da África para o trabalho forçado em lavouras de algodão, tabaco e milho nas cercanias de New Orleans, nos estados de Alabama, Mississipi, Lousiana e Georgia.
No espírito dos desafortunados escravos, uma profunda saudade do que ficou para trás e uma rica cultura folclórica amordaçada. Mas a musicalidade latente dos africanos não tardaria a se manifestar. Aos poucos, surgem as “work songs”, verdadeiros lamentos melódicos, entoados pelos negros na árdua tarefa de plantar e colher os produtos da terra. Enquanto uma voz entoava um verso, os outros trabalhadores faziam o coro. No início, nas línguas nativas: fon, bantu e yorubá; com o passar do tempo, uma mescla de palavras de dialectos africanos e inglês, incorporado na convivência com os fazendeiros da região. Tudo a capela, de uma forma primitiva mas não menos visceral, sentimental e sempre rítmica. É a primeira manifestação musical dos negros na América que começavam a erguer com o sacrifício da liberdade perdida em pontos diferentes da África. A Guerra da Secessão, vencida pelo norte, representa a liberdade para os negros escravos do sul em 1865. Nessa época, em New Orleans havia cinco negros para cada quatro brancos. Muitos desses negros são netos e bisnetos dos pioneiros escravos. Os recém libertos também cantam e tocam, com a diferença de pelo menos um século de assimilação da cultura branca. Começa a surgir assim a figura do blueseiro, ainda com um banjo em lugar da guitarra. Como o blues é uma música vocal por natureza, em sua versão instrumental o ritmo exige instrumentos de habilidade vocal, capazes de “imitar” a voz humana. E nada melhor para se obter este efeito do que a técnica de “knife-song”, de deslizar sobre as cordas do violão uma placa metálica para se obter um som lamurioso, que mais parece um gemido humano. Assim a guitarra acústica desbanca o banjo e passa a frequentar os braços, mãos & dedos dos blueseiros. Instrumentos de percussão de origem africana como o djambè e harmônica, com sua versatilidade, complementam o kit básico do blues primordial, que não dispensa a interpretação, o sentimento absoluto no cantar.
A esta altura as canções já não são apenas lamentos, mas também bravatas, histórias de rixas terminadas com filetes de sangue manchando de vermelho as lâminas de navalhas, de mulheres conquistadas, de corações despedaçados. Agora o inglês prepondera sobre os dialectos africanos nas letras e o blues já é uma música americana, feita por negros e cada vez mais amada pelos brancos. Chega o rádio, o gramofone, o show-business. Surgem cantoras como Bessie Smith e guitarristas blueseiros como Ottis Redding. E isso tudo é só o começo de uma longa história regada a paixão pela música e litros e mais litros de Jack Daniels.

Por: Tiago Pereira da Silva

Tal como prometido a alguns seguidores deste Blog, escrevo, talvez, sobre uma das minhas maiores paixões musicais – o Blues. Num misto confuso de alegria e tristeza, de certa forma colado à génese embrionária do Blues, exactamente por ter demorado o tempo de uma vida a ouvir uma cantora como Bessie Smith. Não que nunca tivesse ouvido, mas talvez agora tenha entrado no meu espírito como sopro pujante de vida.
Aquela breve apresentação do aparecimento e historia do Blues por parte do critico Cristiano Gobbi, vai ao encontro do real surgimento dos movimentos musicais negros no continente Americano, uma das suas formas mais ricas, exactamente o «Blues» na América do Norte. Este “acaso” na invenção de formas de arte, através de um autentico jogo labiríntico entre oprimidos vs opressores, só poderia consistir para mim a real natureza da atracção ou curiosidade. Como lhe quiserem chamar. Quase todas elas desenvolveram das manifestações culturais mais ricas em séculos e séculos de história.

Bessie Smith teve como, muitos músico(a)s de Blues, um final trágico, mas o seu legado, da considerada imperatriz do Blues, é do mais rico e inovador da historia daquele género musical.
Ontem dizia a um amigo que para mim a descoberta só faz sentido – quando partilhada.
Quando estou a ouvir uma canção como “Alexander´s walkin babies from home” parece que sou transportado para um outro lugar, com - “Me and my Gin” identifico uma das mais arrebatadoras interpretações que já ouvi, mas é com “Cake Walkin Babies From Home” que percorro os campos de algodão cheios de escravos e faço a mais que inebriante audição e a desonra dos outros sentidos, sobretudo quando canta a frase «Now the only way to win is to cheat 'em,
you may tie 'em but you'll never beat 'em» e percebemos que só mais duas ou três cantoras num século poderiam cantar assim - e isto partilho com vocês.


In Net biography_: Nem a maior diva dos blues de sempre escapou ao fado do asfalto. Bessie Smith (1894-1937) não sobreviveu aos danos de um desastre na estrada, ficando com um braço amputado e sofrendo uma perda excessiva de sangue fatal. Quando Janis Joplin descobre em 1970 que a campa de Bessie Smith estava anónima, a estrela de blues-rock, indignada, compra uma lápide com a seguinte inscrição: A maior cantora de blues de sempre jamais deixará de cantar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Sem palavras...


Caro leitor: partilho consigo, aqui no Blog, um email que acabei de receber, com um texto escrito por um aluno (infelizmente sem referencia do ano de escolaridade), mas pela tentativa de descrição da matéria será sempre para cima do 2º ciclo, o que torna a questão ainda mais preocupante.
Recorri a uma das ferramentas do Blog, para fazer um exercício interessante - verificar a ortografia do texto (lol)... E não consigo parar rir, saiba porquê, dentro de instantes! Desculpem também a imagem que escolhi, segundo o verdadeiro e autor deste post, poder-se-ia escrever: FODASSE!

Texto - de um qualquer aluno, de uma qualquer escola portuguesa:


"Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem
direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q
á razões qd um aluno não vai á escola. primeiros a peçoa n se sente motivada
pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.

Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto
montanhoso? ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? ou cuantas estrofes tem
um cuadrado? ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?

E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os
lesiades', q é um livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no
aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.

Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes
até dam gomitos e a malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem
abitos de leitura e q a malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras
foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu
assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o
Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???

O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço
de otelaria e a malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de
xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um
gravetame do camandro. Ah poizé. Tarei a inzajerar?"

A tradição já não é o que era

Prólogo inicial:
No outro dia a falar com uma senhora muito simpática no meu ginásio, na casa dos seus 245 anos – talvez, que me alertava para os perigos desta nova geração sem uma ideologia, um identidade… recordei dois acontecimentos prósperos do ano 2007. E partilho novamente com o caro leitor, o que já havia publicado no blog humorístico Osapoeaparafusa.
Falo-vos, claro, da mesma geração que grita a expressão “Foda-se” (desculpem o termo) sem mais nada, como grito de guerra, como manifesto de uma nova geração, cheia de criatividade e bom gosto. Não me perguntem porquê!
Mas recordemos então dois belos exemplares desta espécie em vias de… proliferação massiva, eles vem aí!

Por falar em hipérbole... Gostaria de escrever sobre uma parvoíce qualquer, daquelas a que recorro muitas vezes. Aliás, nada de estranhar para quem me conhece, como parvo que sou.
Recorrendo mais uma vez ao sentido enfático de hipérbole, para dizer que os tempos é que são e estão um exagero. Se não vejamos:
Antigamente, aqui no terraço de casa, os meus irmãos e eu passávamos (algures na pré-adolescência, quando as hormonas ainda não nos mandavam para outro sitio) grandes temporadas a: brincar ao futebol, às escondidas, a fugir do meu irmão André (que nos batia), construir carros de rolamentos, a subir aos telhados dos prédios ao lado, etc. Bons tempos esses, em que o nosso sentido de responsabilidade era inversamente proporcional à idade de todos os inquilinos do prédio somadas.
Isto tudo mais ou menos até à idade de uma hormona chamada testosterona nos dizer: "Eh pá o que é que estão para aí a fazer? Vão comer gajas, meu!"
Atenção! Repararam? Recorri a outra figura de estilo. Desta feita, a personificação.
Que giro este texto.
Bem... mas vamos a exemplos concretos de como os tempos estão mudados.•Este ano de 2007 estão a ser um ano riquíssimo em acontecimentos sobrenaturais aqui no prédio. Acordei, no outro dia, com uma barulheira que parecia vir do terraço. Qual não é o meu espanto quando ao dar a volta para ir ao terraço vejo um miúdo cá em baixo e outro ainda pendurado na janela do 2ª andar. Eu, ainda meio taralhoco, esfreguei bem os olhos para ver se estava a ter algum surto de... mas não. Resumindo e baralhando, os miúdos justificaram-se dizendo que as miúdas os tinham trancado no quarto e que por isso a única salvação era começarem a sair todos pela janela. Eu disse:
- "Ah bom. Isso é normal!"
Muito mais sensato, cair no terraço do vizinho, ir dar a volta pelas escadas e pedir, novamente às raparigas (desta feita) para entrar (e não deixar sair) pela porta da rua.
Claro que, como gajo porreiro que sou, deixei a turma toda sair pela janela. É que derivado do facto dos rapazinhos e raparigazinhas não terem tido aula de substituição, culpa de algum professor que é um vagabundo e não quer trabalhar, os miúdos ainda se arriscaram a fracturar a tíbia ou o perónio. Eh pá, não pode ser. Malandros dos professores.

Segundo episódio, este, mesmo insólito:
No outro dia, com a minha mãe e eu em casa, um dos jovens moradores do prédio ao lado, cujo terraço também tem acesso ao nosso, tocou-nos à campainha. Quando ouvimos uma voz do outro lado da porta a dizer: "Sou eu o....., esqueci-me da chave". Como é uma situação que acontece com alguma frequência num ano, naturalmente abrimos a porta para deixar o miúdo entrar. Agora o que não esperávamos era abrir a porta ao nosso jovem vizinho e encontra-lo em trajes menores (cuecas), de meias, com as calças e sapatos na mão. Acelerando para o terraço como se nada fosse, com um simples: "Obrigadão Tiago, desculpe lá D. Cidália" e seguiu à sua vida.
É assim mesmo juventude. Foste aliviar uma inquilina qualquer do prédio.
Isto é que é prestar serviços à comunidade.

Nós realmente fomos uma geração rasca, que não se desenrascava, absolutamente - nada. Vamos ver o que ainda nos reserva este próspero ano de 2008. Façam as vossas apostas!


Por: Tiago Pirado da Silva

I'd rather dance than talk with you - Kings Of Convenience


I'd rather dance with you
than talk with you,
so why don't we just move into the other room.
There's space for us to shake,
and 'hey, I like this tune'.

Even if I could hear what you said,
I doubt my reply would be interesting
for you to hear.
Because I haven't read a single book all year,
and the only film I saw,
I didn't like it at all.

I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.

The music's too loud
and the noise from the crowd
increases the chance of misinterpretation.
So let your hips do the talking.
I'll make you laugh by acting like the guy who sings,
and you'll make me smile by really Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.
Getting into the swing.

I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.

I'd rather dance than talk with you.
I'd rather dance than talk with you.

domingo, 28 de setembro de 2008

SONETO DA FIDELIDADE


De tudo, meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Vinícius de Morais

Menino da Inquietante Coragem

Meu menino…
“Os muros nunca são altos!”
Desafia a lógica e rompe,
Cordas de aço
Desse eterno sistema.
Vê também
Que seres pequeno
É apenas uma perspectiva.

Aqui onde me encontro,
Na margem das cores,
Não há lugar para as palavras.
Somos todos herdeiros do silêncio
Não existem controvérsias
És sempre tu - Mãe natureza.
Ela escolheu-me
E não o contrário.

O improviso recolheu-me
Na corda e na navalha
Parecia já preparado
Para o que adiante constato.
Comprovo chocado
E testemunho o fulgor
Desse interminável
Segundo acto.

Vira ali à esquerda
E quando ameias vires,
Grita o eco
De um Zeca ao ouvido.
Derruba as cercas
Que te fazem sonhar.
Vê te no alto…
E tudo parece brinquedo.

Eu reencontro o sábio
A cada leve a cada passo.
Sua barba, sua mochila,
Contam-me as histórias
Da eterna geração
Que interna meu medo
E dá alta ao templo
Da inquietante coragem.

Rodrigo Camelo

Grandes Águas (1542)


Estava prestes a saltar!
E tu,
A fazer o mesmo…

Reuniste todos os pássaros,
Duas, sete ou cinco – quedas!
E enfeitiçaste-me
Em mil léguas.

Eu sou Nuñez,
O Alvar, que te vê
Virgem e
Jura amar.

Adoptámos teus filhos
Em verde lar.
Nesse eterno breu,
De um rio mar.

Rio - meu,
Desci em tuas termas
De um Paranaense
Azul sem bermas.

E Ennioiço…

A música circula
Sempre pelo ar
Vem dessa falha
Que a geologia sobe isolar.

Ao rubro dos tambores
Guaranis suave,
Celebramos a união
Da eterna ave.


Pareces desconfiar
De meu sangue.
Que da miséria diária
Fez de um vulgo, mangue.

Arquitecto da vida,
Que me deste a provar
Da garganta de um
Diabo a degolar.

Grandes águas
De um perturbar,
Vens do ventre mãe
Desse Iguazú - olhar.

Um recipiente chega.
Cinco Contornos, vezes,
Quatro líquidos e
Dois meses.

Duas mil partes
De mim,
Caminham em ti
Todas as noites.

As outras quatro,
Asseguram voltar.

Rodrigo Camelo

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

John Mayer Trio - Try - URGENTE




Por: Tiago Pereira da Silva

Confesso que a primeira vez que ouvi a John Mayer Trio, lembrei-me do som de meia dúzia de guitarristas que desafiaram a minha memoria musical. O mais recente álbum ao vivo de John Mayer (Trio – musicalmente bem mais interessante, estou em crer, que o resto da sua carreira toda somada), “Where the Light is” in Los Angels – Consigo ter uma reminiscência do som de Hendrix a dada altura, mas também vejo o arsenal “controladamente” explosivo de Beck, a pureza de um Bluesman branco como Clapton, e, porque não de um próprio Albert King. Todos estes criadores da guitarra eléctrica, talvez o mais importante instrumento solo da história do Blues, devem ter feito parte do imaginário iconográfico-musical de John Mayer (…) Até na entrada de “Slow dancing in a burning room” na versão do DVD é quase impossível não pensarmos em Mark knopfler.

Também não estou certo, de que seja exactamente um elogio sentir estas “colagens” de Mayer, em muitas versões e canções de sua autoria, a um universo de tantos músicos que revolucionaram aquele instrumento. Em muitos outros casos eu diria que é uma “colagem” (permitam-me mais uma vez) manifestamente infeliz, no caso de John Mayer não o é.

Vamos esquecer um pouco o John Mayer das, desculpem-me a expressão, cagadas românticas – mas este jovem de apenas 30 anos, toca Blues a sério, como há muito tempo não ouvia. Até Clapton já teve incursões por universos pop musicais mais duvidosos, mas deixemo-nos de preconceito. Este Trio é uma outra história. E este senhor toca uma enormidade.
Muitos guitarristas talentosos fizeram incursões pelo universo do Blues, nos anos 90 por exemplo - Gary Moore é talvez um dos expoentes máximos. Mas mesmo gostando muito de Gary Moore tenho sempre a sensação de ouvir um certo virtuosismo pelo virtuosismo. Com John Mayer isso não acontece. Blues é controle. John Mayer percebe isso intuitivamente.

Já nem vou aconselhar “Vultures”, “Out of my mind” ou a tão bem conseguida versão da canção de Hendrix “Bold as love”
Oiçam, pela vossa saúde, esta versão ao vivo de “Try” e não pensem em Jimi Hendrix porque isso é batota.


Takes four days to get to like me
But two to wanna leave
But the part that really gets me
Are all the moments in between
Now I lie to get a little
And laugh at every little thing
She's high on information
But now I'm low on self-esteem

So I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself
Although myself will wonder why
I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself this time

I'm a hundred kinds of crazy
But I only wanna find
One sweet little angel
Who's gonna let me speak my mind
All I ever do these days
Is dumb my process down
She's making her decision
But now I'm losing all my ground

So I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself
Although myself will wonder why
I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself this time

Easy does it now
Just keep your damn mouth shut
She thinks you're hot already
Don't go and press your luck
No news is good news coming
You gotta wait to find
Don't go and blow it
You do every single time

Oh I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself
Although myself will wonder why
I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself this time

you know, you know
I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself
Although myself will wonder why
I'm gonna try (try)
I'm gonna try (try)
Gonna try to be myself this time

domingo, 21 de setembro de 2008

Bob Dylan - Sara



I laid on a dune I looked at the sky
When the children were babies
and played on the beach
You came up behind me, I saw you go by
You were always so close and still within reach.

Sara, Sara
Whatever made you want to change your mind
Sara, Sara
So easy to look at, so hard to define.

I can still see them playing with
their pails in the sand
They run to the water their buckets to fill
I can still see the shells
falling out of their hands
As they follow each other back up the hill.

Sara, Sara
Sweet virgin angel, sweet love of my life
Sara, Sara
Radiant jewel, mystical wife.

Sleeping in the woods by a fire in the night
Drinking white rum in a Portugal bar
Them playing leapfrog and hearing about Snow White
You in the marketplace in Savanna-la-Mar.
[ Find more Lyrics at www.mp3lyrics.org/aGc ]

Sara, Sara
It's all so clear, I could never forget
Sara, Sara
Loving you is the one thing I'll never regret.

I can still hear the sounds of
those Methodist bells
I'd taken the cure and had just gotten through
Staying up for day in the Chelsea Hotel
Writing "Sad-Eyed Lady of the Lowlands" for you.

Sara, Sara
Wherever we travel we're never apart
Sara, Sara
Beautiful lady, so dear to my heart.
How did I meet you ? I don't know
A messenger sent me in a tropical storm
You were there in the winter, moonlight on the snow
And on Lily Pond Lane when the weather was warm.

Sara, Sara
Scorpio Sphinx in a calico dress
Sara, Sara
You must forgive me my unworthiness.

Now the beach is deserted except for some kelp
And a piece of an old ship that lies on the shore
You always responded when I needed your help
You gimme a map and a key to your door.

Sara, Sara
Glamorous nymph with an arrow and bow
Sara, Sara
Don't ever leave me, don't ever go.

Bob Dylan

Blues da Piedade

Agora eu vou cantar pros miseráveis
Que vagam pelo mundo derrotados
Pra essas sementes mal plantadas
Que já nascem com cara de abortadas

Pras pessoas de alma bem pequena
Remoendo pequenos problemas
Querendo sempre aquilo que não têm

Pra quem vê a luz
Mas não ilumina suas minicertezas
Vive contando dinheiro
E não muda quando é lua cheia

Pra quem não sabe amar
Fica esperando
Alguém que caiba no seu sonho
Como varizes que vão aumentando
Como insectos em volta da lâmpada

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Quero cantar só para as pessoas fracas
Que tão no mundo e perderam a viagem
Quero cantar o blues
Com o pastor e o bumbo na praça

Vamos pedir piedade
Pois há um incêndio sob a chuva rala
Somos iguais em desgraça
Vamos cantar o blues da piedade

Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Pra essa gente careta e covarde
Vamos pedir piedade
Senhor, piedade
Lhes dê grandeza e um pouco de coragem

Cazuza

sábado, 20 de setembro de 2008

Fantasia Apurada

Não me prometeste o destino
Apuras-me a poesia,
E estudo-te, como se de fantasia tratasse,
Que brilho é esse de Gávea?
Ou de elemento neutro de pátria.

Zélia és tu, e eu devasso-te
E sinto a tua sede
Corre louca pelo ar
Que me procura,
Que me procura.

Come meu tronco
E ramos da minha existência,
Come tudo em mim!
Até ficares saciada.
Pára de fingir
Alimenta-te simplesmente…

Não desperdices essa vontade.
Aprende-te, e, convoca
Todos os sentidos
Até os que ainda não inventaram.

Nesse mediterrâneo te encontro,
A tua cabeça dança ao acaso
A sorte vem dessa força
A que chamamos vontade.

Não desistas de tentar ser,
Só eu te descubro de facto
Porque estou, deveras, programado
Para fazer do novo o acaso.

Rouba todo o meu fluido
Toma-o como teu
Confunde-o com o teu transpirar
Mergulha toda em ti… Iara,
Suplica pelo meu respirar.

Eu atinjo tudo
E subo alto,
Bem alto onde,
Não enxergo mais teu olhar,
De deusa boto amazónica.

Quero por ti esperar,
Para enfim colidir nas lonas.
Escorre todo o teu líquido
Na minha boca sedenta
Que de ti precisa
E que espera e espera,
Mas improvisa.

Rodrigo Camelo

Os Acrobatas

Subamos!
Subamos acima
Subamos além, subamos
Acima do além, subamos!
Com a posse fisica dos braços
Inelutavelmente galgaremos
O grande mar de estrelas
Através de milênios de luz.

Subamos!
Como dois atletas
O rosto petrificado
No pálido sorriso do esforço
Subamos acima
Com a posse física dos braços
E os músculos desmesurados
Na calma convulsa da ascensão.

Oh, acima
Mais longe que tudo
Além, mais longe que acima do além!
Como dois acrobatas
Subamos, lentíssimos
Lá onde o infinito
De tão infinito
Nem mais nome tem
Subamos!

Tensos
Pela corda luminosa
Que pende invisível
E cujos nós são astros
Queimando nas mãos
Subamos à tona
Do grande mar de estrelas
Onde dorme a noite
Subamos!

Tu e eu, herméticos
As nádegas duras
A carótida nodosa
Na fibra do pescoço
Os pés agudos em ponta.

Como no espasmo.

E quando
Lá, acima
Além, mais longe que acima do além
Adiante do véu de Betelgeuse
Depois do país de Altair
Sobre o cérebro de Deus

Num último impulso
Libertados do espírito
Despojados da carne
Nós nos possuiremos.

E morreremos
Morreremos alto, imensamente
IMENSAMENTE ALTO

Vinicius de Moraes

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Pale Blue Eyes - Lou Reed



Sometimes I feel so happy
Sometimes I feel so sad
Sometimes I feel so happy
But mostly you just make me mad
Baby, you just make me mad

Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes

Thought of you as my mountain top
Thought of you as my peak
A thought of you as everything
Ive had, but couldnt keep
Ive had, but couldnt keep

Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes

Skip a life completely
Stuff it in a cup
They said, money is like us in time
It lies, but cant stand up
Down for you is up

Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes

It was good what we did yesterday
And Id do it once again
The fact that you are married
Only proves youre my best friend
But its truly, truly a sin

Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes

If I could make the world as pure
And strange as what I see
Id put you in a mirror
Id put in front of me
Id put in front of me

Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes
Linger on your pale blue eyes