terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Lágrima do Sul - Uakti e Milton Nascimento


Lágrima do Sul
Milton Nascimento
Composição: Marco Antônio Guimaraes e Milton Nascimento

Reviver
Tudo o que sofreu
Porto de desesperança e lagrima
Dor de solidão
Reza pra teus orixás
Guarda o toque do tambor
Pra saudar tua beleza
Na volta da razão
Pele negra, quente e meiga
Teu corpo e o suor
Para a dança da alegria
E mil asas para voar
Que haverão de vir um dia
E que chegue já, não demore, não
Hora de humanidade, de acordar
Continente e mais
A canção segue a pedir por ti
(a canção segue a pedir por nós)
África, berço de meus pais
Ouço a voz de seu lamento
De multidão
Grade e escravidão
A vergonha dia a dia
E o vento do teu sul
É semente de outra história
Que já se repetiu
A aurora que esperamos
E o homem não sentiu
Que o fim dessa maldade
É o gás que gera o caos
É a marca da loucura
África, em nome de deus
Cala a boca desse mundo
E caminha, até nunca mais
A canção segue a torcer por nós

sábado, 26 de janeiro de 2008

Ferreira Gullar - Poema Sujo- Uma Reflexão



Por: Ivan Junqueira

(...)Poema Sujo essa nova e estranha canção do exílio que constitui talvez a mais alta e bem sucedida experiência realizada de um contemporâneo entre nós no que se refere ao poema longo, de que é escassa, aliás, a moderna poesia brasileira. Exilado pela ditadura que se instalou no país em 1964, Gullar volta à sua infância maranhense para conceber, segundo Vinicius de Moraes, “o mais importante poema escrito em qualquer língua nas últimas décadas”. Para Otto Maria Carpeaux, o poema sujo “merceria ser chamado de poema nacional, porque encarna todas as experiências, vitórias, derrotas e esperanças da vida de um homem brasileiro. (…)
É discursivo, palavroso, pungente, carregado – enfim, sujo. E é nessa sujeira, nessa sinceridade a qualquer preço, que reside exactamente a sua grandeza. Suas fundas entranhas memorialísticas doem, comovem, arrebatam. (…)
Ao ver-se submetido às dolorosas instancias do exílio que não escoilheu, Gullar recosntroi a sua própria vida e, de alguma forma, reescreve a sua poesia através de um regresso às matrizes de sua formação como poeta e como ser humano. Tudo aqui está a serviço de uma única verdade, a da sua existência concreta dentro de uma situação dada, na qual o arbítrio jamais é livre, e com tudo o que nela existe de sublime ou de asqueroso, ou seja, de sujo:

E também rastejais comigo
pelo túneis das noites clandestinas
sob o céu constelado do país
entre fulgor e lepra
debaixo de lençóis de lama e terror
vos esgueirais comigo, mesas velhas,
armários obsoletos gavetas perfumadas de passado,
dobrais comigo as esquinas do susto
e esperais esperais
que o dia venha


(…) Sufocado e sem perspectivas imediatas, o poeta arranca às próprias entranhas essas imagens e metáforas do desespero. E o que fulgura no poema não se reduz à náusea ou aos miasmas de suas vísceras, mas à própria nudez de sua alma, aos ossos que lhe restaram após a dilaceração da carne e de seus efémeros prazeres.

In: Ferreira Gullar – Obra poética, prefácio de Ivan Junqueira

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Descobrimento



Mário de Andrade

Abancado à escrivaninha em São Paulo
Na minha casa da rua Lopes Chaves
De sopetão senti um friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito comovido
Com o livro palerma olhando pra mim.

Não vê que me lembrei lá no norte, meu Deus!
[muito longe de mim,
Na escuridão activa da noite que caiu,
Um homem pálido, magro de cabelo escorrendo nos olhos
Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou, está dormindo.

Esse homem é brasileiro que nem eu...


ANDRADE, Mário de. Poesias completas. Belo Horizonte: Villa Rica, 1993, p.203.

Mário de Andrade


BRASIL AMADO NÃO PORQUE SEJA A MINHA PÁTRIA,
PÁTRIA É ACASO DE MIGRAÇÕES E DO PÃO-NOSSO ONDE DEUS DER...
BRASIL QUE EU AMO PORQUE É O RITMO DO MEU BRAÇO AVENTUROSO
O GOSTO DOS MEUS DESCANSOS,
O BALANÇO DAS MINHAS CANTIGAS, AMORES E DANÇAS.
BRASIL QUE EU SOU PORQUE É A MINHA EXPRESSÃO MUITO ENGRAÇADA,
PORQUE É O MEU SENTIMENTO MUITO PACHORRENTO,
PORQUE É O MEU JEITO DE GANHAR DINHEIRO, DE COMER E DE DORMIR.


trecho do poema
"o poeta come amendoim"
Mário de Andrade

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Bob Dylan - Hurricane

Pistol shots ring out in the barroom night
Enter patty valentine from the upper hall.
She sees the bartender in a pool of blood,
Cries out, my god, they killed them all!
Here comes the story of the hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

Three bodies lyin there does patty see
And another man named bello, movin around mysteriously.
I didnt do it, he says, and he throws up his hands
I was only robbin the register, I hope you understand.
I saw them leavin, he says, and he stops
One of us had better call up the cops.
And so patty calls the cops
And they arrive on the scene with their red lights flashin
In the hot new jersey night.

Meanwhile, far away in another part of town
Rubin carter and a couple of friends are drivin around.
Number one contender for the middleweight crown
Had no idea what kinda shit was about to go down
When a cop pulled him over to the side of the road
Just like the time before and the time before that.
In paterson thats just the way things go.
If youre black you might as well not show up on the street
less you wanna draw the heat.

Alfred bello had a partner and he had a rap for the cops.
Him and arthur dexter bradley were just out prowlin around
He said, I saw two men runnin out, they looked like middleweights
They jumped into a white car with out-of-state plates.
And miss patty valentine just nodded her head.
Cop said, wait a minute, boys, this ones not dead
So they took him to the infirmary
And though this man could hardly see
They told him that he could identify the guilty men.

Four in the mornin and they haul rubin in,
Take him to the hospital and they bring him upstairs.
The wounded man looks up through his one dyin eye
Says, whad you bring him in here for? he aint the guy!
Yes, heres the story of the hurricane,
The man the authorities came to blame
For somethin that he never done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

Four months later, the ghettos are in flame,
Rubins in south america, fightin for his name
While arthur dexter bradleys still in the robbery game
And the cops are puttin the screws to him, lookin for somebody to blame.
Remember that murder that happened in a bar?
Remember you said you saw the getaway car?
You think youd like to play ball with the law?
Think it might-a been that fighter that you saw runnin that night?
Dont forget that you are white.

Arthur dexter bradley said, Im really not sure.
Cops said, a poor boy like you could use a break
We got you for the motel job and were talkin to your friend bello
Now you dont wanta have to go back to jail, be a nice fellow.
Youll be doin society a favor.
That sonofabitch is brave and gettin braver.
We want to put his ass in stir
We want to pin this triple murder on him
He aint no gentleman jim.

Rubin could take a man out with just one punch
But he never did like to talk about it all that much.
Its my work, hed say, and I do it for pay
And when its over Id just as soon go on my way
Up to some paradise
Where the trout streams flow and the air is nice
And ride a horse along a trail.
But then they took him to the jailhouse
Where they try to turn a man into a mouse.

All of rubins cards were marked in advance
The trial was a pig-circus, he never had a chance.
The judge made rubins witnesses drunkards from the slums
To the white folks who watched he was a revolutionary bum
And to the black folks he was just a crazy nigger.
No one doubted that he pulled the trigger.
And though they could not produce the gun,
The d.a. said he was the one who did the deed
And the all-white jury agreed.

Rubin carter was falsely tried.
The crime was murder one, guess who testified?
Bello and bradley and they both baldly lied
And the newspapers, they all went along for the ride.
How can the life of such a man
Be in the palm of some fools hand?
To see him obviously framed
Couldnt help but make me feel ashamed to live in a land
Where justice is a game.

Now all the criminals in their coats and their ties
Are free to drink martinis and watch the sun rise
While rubin sits like buddha in a ten-foot cell
An innocent man in a living hell.
Thats the story of the hurricane,
But it wont be over till they clear his name
And give him back the time hes done.
Put in a prison cell, but one time he could-a been
The champion of the world.

1975


Incrível como Dylan consegue, através de uma das suas melhores canções de protesto, dissecar todo o processo de Rubin Carter. A canção terá servido mesmo para, anos mais tarde, ser escrito o Guião do Filme - Hurricane.
A última estancia é arrepiante, na forma como invoca o possível destino dos verdadeiros criminosos enquanto inocentes tomam os seus lugares, como se não estivéssemos a falar de seres humanos.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

O Estudo de um Sonho Teu

Golpadas, sorte e tu também
Enquanto a luz dormir
Vem cá onde, eu vou também
A tua roupa, eu sei despir
Rumo ao norte e prende alguém
Eu toco sempre, nesse insistir
Vento ao sul e mergulho - além

Entro na dança que o sexo elogia
E fazes o meu terceiro ser voar
Quero ter te sempre, Filologia
Perto do soneto desse olhar
Rumo ao estilo dessa Fisiologia
Descanso apenas para voltar
Para dentro dessa tua antropofagia


Rodrigo Camelo

My all time favourite... Rock Drummers





1- John Bonham - Led Zeppelin

2- Keith Moon - The Who

3 - Ginger Backer - Cream

4 - Mitch Mitchell - The Jimi Hendrix Experience

5- Ian Paice - Deep Purple


Neil Peart dos "Rush" - considerado por muitos como o melhor de sempre, não conheço o suficiente para colocar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O preguiçoso das palavras



O poeta é …
O preguiçoso das palavras
Aquele que sem medo
Mente e ri à verdade

Ousado desrespeito esse
Por um João Cabral sem memória.
Que nas voltas mil de anil
Dormiu revirado e acena.

Logro desses fins.
Vejo me errado na cena,
Em filmes que não sei contar
E é pelo sinal, dele, que temo.

Ó errante Pessoa!
Quero ver a luz, nessa escuridão.
Quero ver-te nela e a desenhar
O poço fundo a transbordar

Um desses - de ti!
Em que te multiplicas
E sabes que só precisas de adormecer
Os outros que, por vezes, acendem.

Despe a pele completa,
Ossos e músculos até…
Deixas alguns órgãos
E fazes de conta que és.

Ficou lá em cima a luz
Na quarta estancia te vejo.
Já não brilha o pó do céu,
De um Camões que viu o mérito.

Sabem…
Dois génios, se entendem
Suas mentes comunicam
Como dois satélites num passo
Para o espaço de antena.


Rodrigo Camelo

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Manuela Azevedo e o medley da nossa infância.


Na grande noite do “Diz que é uma espécie de Reveillon”, além da graça natural de Ricardo Araújo Pereira e o “determinante” Zé-Diogo Quintela, algo mais surgiu num transbordante Pavilhão Atlântico, que nos encheu de força, magia, intelecto e saudosismo. Estou a falar na destacadíssima presença dos Clã e de Manuela Azevedo, em particular. Eu arrisco dizer que, no momento musical mais bem conseguido da noite, esteve aquela que pode muito bem ser a melhor banda de rock da actualidade em Portugal.

Os Clã entraram em palco para apresentar um medley de séries infantis dos anos 80, que marcaram profundamente o imaginário de uma geração que hoje se encontra perto dos 30 anos. A exacta geração dos Gatos. Desde Verão Azul a Dartacão, passando pela abelha mais famosa do mundo, só ficando mesmo a faltar o já “épico” - Tom Sawyer.
Queria contudo destacar a presença, sempre irreverente (perceba-se no óptimo sentido do termo) de Manuela Azevedo. Esta advogada de profissão, formada em Coimbra, que quis o “destino” – se tornasse música. Li algures, que Manuela Azevedo é e sempre foi bastante tímida, mas parece mais, quando se encontra num palco a cantar, tudo o resto parece girar em seu torno. É uma daquelas mulheres que chega e ilumina um palco. De onde vem tanta energia? E tão inteligente, ao serviço do que procura transmitir?

Manuela Azevedo que sendo uma grande cantora é e permitam-me a expressão, um animal de palco. Uma das figuras femininas mais interessantes da sua geração. A forma como nos deslumbra é, toda ela, natural. É como se não pudesse evitar. E sem artifícios na linguagem corporal, porque as pequenas imperfeições que trás no seu mundo, são todas elas, de outro mundo. Manuela Azevedo está tão longe das “divas” de bustos gelatinosos, como a Terra da Lua. Porque é uma mulher naturalmente linda.

Por: Tiago Pereira da Silva