terça-feira, 30 de outubro de 2007

Maria Rita Show

Com engano e tudo...

Gato Fedorento: Segurança Social - Incentivo à natalidade

Um dos melhores de sempre...

Para que surja esse dia.

Prólogo Inicial: Aqueles que não estão connosco, são nossos inimigos. Pensamento reinante, de sucessivos presidentes dos EUA.


Ele consome
E ainda
Durante décadas.
E continua…
Abastecido de sua verdade,
Nunca está deliciado.
Esse homem,
Quer do sangue e
Do beber.
Embebido do mal.
Antropófago?
Talvez…não!
É que os, que ele come,
São por certo
De outra espécie.

A tortura é teu reino,
O choro das mulheres
Deusa rotina.
Encaixa-se sempre
À espreita, desse imperador.
Acende e Ascende – fascista!
Maldito sejas,
Em teu realismo.
Teu capital, cruza
Noutra palavra.
Multiplica-a num abismo
E vês crescer o,
Capitalismo.

A fome das crianças,
Teu estorvo.
Não, que te retire a calma,
Nem a pose de
Um ser nojo,
Que és.
Que nos consome,
Que arde o mundo,
Na mais que
Profunda ferida.
Cava e afunda,
Cava e afunda,
Cala para sempre
Esse mundo.

As lágrimas sepultadas,
Nessa areia não achada,
Mar, deram à nossa costa.
Que num grito de alvorada,
Floresce nossa energia.
De todos os
povos latinos-mortos
Essa esperança fez,
Das cinzas molhadas,
Seu emergir.

É que os, por ele,
Silenciados,
Saltam das trevas,
Insubmissos e também,
Prontos a surgir,
Em deuses loucos
Do horror,
Dos que viram de perto,
Aquele aperto de mão -
Terror.
É hora de acabar contigo,
Nasceu esse dia.
Ele disse:
Estou pronto!
E nós:
Que a nossa glória
Seja teu fim.


Continua...


Inspirado no documentário de John Pilger - "The war on democracy" - E em todas as vítimas, directas ou indirectas, por essa América Latina fora, de sucessivas administrações, dos opressores do norte.

Tiago Pereira da Silva

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Despercebida Origem do Outro

Eu sou outro
Artigo definido –
O outro.
Não, esse outro,
Noutro qualquer.
Aquele que se vê cego
Em si próprio.
O que tem, o gigantesco carisma.
O que sente e mente à saudade.
Um outro, sim,
Como esse outro sim,
Que é contrário de não,
Bem assente num prisma
Da insígnia de verão.

Sou neto,
Num outro livro descalço,
Que sem roupa
Mente ao Inverno.
A madrugada verte,
O vidente da vontade,
De ser gente diferente,
Para deixar descrito,
O acto da formação.
O outro lado do medo
De um anão entre as gentes,
Que vê e ouve por baixo,
Num ser eco, sem dentes
Por esse rio abaixo.

As ruas acordam,
Com o grito-silêncio,
Desse outro…
Que nasce em mim.
Que cabe e cresce de lado.
Esse sem voz no mundo,
Desse mundo sem nós,
Que não te auxilia no trato
E que culmina num - vós.
Todos, produtos
Dessa intrigante multiplicação,
De uma terra não escolhida,
Na promessa de uma equação.
Reina a origem, despercebida.

Tiago Pereira da Silva

domingo, 28 de outubro de 2007

John Pilger - The War On Democracy

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Obrigatório. Um dever civíl!
Trabalho documental do jornalista Australiano que realiza de forma absolutamente despretensiosa, um trabalho, que depois de visto, até percebemos melhor porque tem sido tão ignorado, por essa imprensa fora. Escolhi a parte sobre o Chile, na visão infame de um Allende vencido, mas nunca "derrotado" na memória colectiva, dessa imensa Améria Latina. Ouvir e ver o ex-agente da CIA, a responder à questão, num arrepiante, mas sobretudo arrogante: "de mais uns, ou menos uns, mortos como se de baratas ou ratazanas se tratassem... é por demais arrepiante. E que todas aquelas mortes foram ou são justificadas... Revoltante.
John Pilger, assina um documento, mais do que obrigatório para todo o tipo de mentalidades. Inegavelmente, não reina na sua obra documental, a cena-circo dos Michael Moore(s) da actualidade.
Sobretudo, para quem acredita, que existem outras formas politicas ao serviço do povo e não servindo-se dele. Mas também, para quem acredita que nasce nas pessoas, pelo exemplo da América Latina, uma reposta ao Capitalismo.

sábado, 27 de outubro de 2007

Mariza - Chuva

Maravilhosa interpretação da música de Mafalda Veiga. A interpretação que me fez descobrir o universo Mariza...

Gilberto Gil - Refavela (1977)

Prólogo Inicial:
Refavela, como Refazenda um signo poético
Refavela, arte sob trópicos de Câncer e de Capricórnio.
Refavela, vila / abrigo das migrações forçadas pela caravela.
Refavela, como Luís Melodia
Etnias em rotação na velocidade da cidade/nação.
Não o jeca mas o Zeca total.
Refavela, aldeia de cantores, músicos e dançarinos pretos, brancos e mestiços.
O povo chocolate e mel.
Refavela, a franqueza do poeta; o que ele revela, o que ele fala, o que ele vê.


Por: Tiago Pereira da Silva

“Iaiá, Kiriê, Kiriê, iaiá…A refavela, revela aquela, que desce o morro e vem transar, O ambiente, Efervescente, de uma cidade a cintilar” … Aos primeiros acordes de uma linguagem musical pejada, de uma outra, recorrente de um português genuinamente Afro-Brasileiro, desse quotidiano pobre e paradoxalmente - feliz, apercebemo-nos de estarmos na presença de algo completamente diferente no panorama musical do Brasil. É como se Gilberto Gil tivesse feito (“apenas”), até esse afortunado ano de 1977, discos preparatórios para a sua obra-prima absoluta. Bem sei que não poderemos esquecer, o seu magistral trabalho em Refazenda de 1975, nem tão pouco ignorar, muito pelo contrário, a era Tropicalista e subsequente, mas em Refavela, a parada é alta mesmo.

O álbum terá começado a germinar no final do ano de 1976, quando Gil e Caetano foram convidados para participar no 2º FESTAC – Festival Mundial de Arte e Cultura Negra – que teve lugar em Janeiro de 1977 em Lagos na Nigéria. Gil, entusiasmadíssimo, reuniu uma super banda para a ocasião. “Refavela” começaria por isso, em seu estado embrionário. O peso da sonoridade e instrumentalização em “Refavela” não são de todo, mais uma incursão de um músico Brasileiro na descoberta de suas raízes Africanas. De modo nenhum. Este é o disco de um músico, que se sente com um pé em cada continente.

Já no final do tema-título, quando Gilberto Gil vai numa direcção musical e o Background vocal, noutra, alcançamos definitivamente, o conceito absoluto de melodia estética. Eu nunca ouvi um coro assim. O Disco tinha apenas começado. Seguem-se pérolas como “Aqui e Agora”, “No norte da Saudade”, sua versão muito pessoal de “Samba do Avião” e as incríveis - “Balafon” e “Patuscada de Gandhi” as mais africanas do álbum.

Escolhi escrever sobre “Sandra” - a faixa seis do disco e uma das minhas músicas preferidas de Gil. No ano da génese do álbum – 1976, Gilberto Gil fora preso em Florianópolis, aquando da digressão dos “Doces Bárbaros”, por posse de maconha. Sandra, sua mulher na época, aparece quase omnipresente na canção. Escrita parcialmente no sanatório onde Gil foi internado, por ordem da justiça brasileira, as enfermeiras do sanatório, aqui, transformadas em personagens, vão se cruzando na canção, como que princesas de sonho esquizofrénico. Se o compasso é fortemente marcado pela batida do violão de Gil, o baixo de Moacyr de Albuquerque (um dos melhores da época), introduz e induz pequenas revelações em “Sandra”. O solo de Sax e o piano de Cidinho, revelam a sonoridade dos afrorismos da época, ou não fosse ela, a do funk e dos movimentos Black Rio. Já para não falar da bateria de um Sr. Chamado Paulinho Braga, baterista de eleição de Elis Regina, que Tom Jobim reconheceu, como um dos melhores do mundo do seu tempo. Encontramos também o coro de Ronaldo Boys e isso é, sem palavras.

Já algumas vezes reconhecida, não as suficientes, nunca é demais enobrecer o trabalho magistral da escrita de Gilberto Gil. Com elevadíssimos níveis de suscitação poética. Talvez, não ao nível dos dois mestres da escrita de sua geração - Caetano e Chico, como o próprio deve reconhecer sem enigma. Mas importa sublinhar aquilo em que Gil é, ou pelo menos foi, mestre. E este eterno menino negro de olhos curiosos, além de transpirar música por todos os poros, joga muitíssimo bem com as vastíssimas possibilidades desta nossa língua. Formando pontes fonéticas de alto teor linguístico e só para citar alguns exemplos em Refavela. O já, anteriormente, descrito: “A refavela, revela aquela”; “Entre a favela-inferno e o céu” (…) “De um povo chocolate-e-mel”. Ou, “Do samba duro de marfim, Marfim da costa, de uma Nigéria”, fazendo mais uma alusão perfeita à região da Costa do Marfim.
Continua…

PS – Especialmente… para quem me deu a conhecer este prodigioso disco, numa das mais gratas lembranças recebidas.

O Infindável Corcunda


Desculpe aí Mezinha!
Mas só quando vier…
Quero lançar a rede
Se feliz der…
Apanhar qualquer coisinha.

Desculpem lá, pá!
Mas assim é demais, também…
É que quando lanço a rede vejo,
Que dos males sofridos, vem também
Um qualquer, que me diz vá…

Ao sagrado espaço frio,
De onde aliás,
Não deverias ter saído.
Nem olhes mais para trás,
Segue adiante esse trio.

Se possível for,
No mais que alto partido,
Faz o teu pouso fixo,
Sem osso ruído
E vais ver extinta essa dor,

Vinde tu, sapo, e afunda
Tem sempre algum pivete
Estragando seu Carnaval.
Espera só um Feedback,
E destrói esse infindável corcunda.


Rodrigo Camelo

domingo, 21 de outubro de 2007

"Primo Basílio" - Daniel Filho


• Informações Técnicas
Título no Brasil: Primo Basílio
Título Original: Primo Basílio
País de Origem: Brasil
Gênero: Drama
Classificação etária: 16 anos
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento: 2007
Estréia no Brasil: 10/08/2007
Site Oficial: http://www.primobasilio.com.br
Estúdio/Distrib.: Buena Vista
Direção: Daniel Filho

• Elenco
Débora Falabella ... Luísa
Fábio Assunção ... Basílio
Glória Pires ... Juliana
Reynaldo Gianecchini ... Jorge
Simone Spoladore ... Leonor
Laura Cardoso ... Tia Vitoria
Gracindo Júnior ... Castro


Por: Tiago Pereira da Silva
A propósito da “2ª mostra de cinema Brasileiro” a decorrer no São Jorge e que hoje termina, assisti ontem ao filme de Daniel Filho - “Primo Basílio”, baseado no romance do escritor português – “O Primo Basílio” - de Eça de Queirós. O filme foi precedido de uma mesa redonda, que entre os demais convidados, estavam, Glória Pires (a actriz homenageada este ano pela mostra) e Daniel Filho. Ouvir Daniel Filho a falar sobre a obra de Eça, nomeadamente do romance em questão, foi uma aula de literatura portuguesa, como poucas, estou em crer, a que poderemos assistir ao longo da nossa vida. Fantástica viagem pelo mundo, daquele que poderá muito bem ser, o maior responsável pela transformação da nossa língua. Tal e qual, a conhecemos hoje.
A mesa redonda, bem ao jeito de tertúlia, foi pautada com ritmo humorístico dos intervenientes, sobretudo Daniel Filho. Tudo começou com o questionamento, quase despropositado: Quem é que já leu uma obra do Eça ?
ou até, quem identifica o Eça no espaço e no tempo?

Foram estabelecidas, várias comparações com Machado de Assis, é sabido que este último, não morria de amores por Eça, apesar de ser também reconhecida a sua profunda admiração pelo seu universo, enquanto escritor.
Também foi levantada a questão, ou no Brasil quem conhece Machado de Assis?
O ponto alto do debate, foi a explicação de Daniel Filho, da sua proposta cinematográfica de adaptar o mais importante romancista português, numa obra até um pouco incompreendida, convergindo com um estilo “teatral” do enormíssimo dramaturgo brasileiro, Nelson Rodrigues. Nada mais ousado, diria ele, arrecadando um misto de aplausos e gargalhadas. Sem querer ofender as obras de um e de outro, Daniel Filho, convergindo a conversa para o perigoso mundo das adaptações cinematográficas de romances de autores não-vivos, o realizador, actor, produtor e guionista, explicou de forma sucinta que não há nada mais errado, do que entrar para um filme esperando uma reprodução detalhada do livro. Devo dizer, se me permitem, que não poderia estar mais de acordo. Deu até, um exemplo engraçado do sucedido, num festival de cinema na índia: “Certa vez num festival de cinema, numa palestra com o realizador americano de um filme, após o visionamento do mesmo, alguém na plateia invocou – mas veja bem, o sr. … retirou esta parte e esta e mais esta do livro. Ao que o realizador americano respondeu – Não, não é verdade. Se o Sr. For comprar o livro a uma livraria, vai ver que o livro está lá todo. risos”
Resposta brilhante, devo acrescentar.

Sobre o filme.
Tenho de confessar, que entrei na sala 1 do São Jorge, aliás repleta, com a expectativa nos píncaros, depois de ouvir, tantos e tão rasgados elogios à obra de Daniel Filho, o “Primo Basílio”, em particular. Para este 2º romance de Eça, do já longínquo ano de 1878, em que o romancista fazia o espelho da futilidade reinante na sociedade lisboeta do séc. XIX, atacando directamente a classe burguesa, Daniel Filho opta cuidadosa e inteligentemente por encaixar ou transferir a história, para o Brasil do séc. XX, mais concretamente a cidade de São Paulo no ano de 1958. Vivia-se uma época áurea em alguns aspectos. Foi a época do arquitecto Óscar Niemeyer, responsável pela projecção e desenvolvimento de uma nova capital chamada Brasília. Daniel Filho é atento à transversalidade e versatilidade do romance de Eça, e, faz desta adaptação, uma das mais bem conseguidas que vi no cinema, em anos. De facto, o filme está embebido de uma condução e ritmo narrativo, que associado ao fantástico trabalho dos actores, excepção feita talvez do esforçado, mas incapaz, Reynaldo Gianecchini, como Jorge. Perdoem-me as fãs! Pode ser galã, mas não consigo gostar de um trabalho deste simpático e esforçado actor, mas muito aquém do que exige a sua personagem. Ainda para mais, na exigente tarefa de interpretar o “cornudo” (risos).

O “Primo Basílio” é dos poucos filmes que até hoje, e, após sair da sala, provocou-me um mau estar perturbante. Os minutos vão decorrendo, o espectador vai ficando desconfortável, na sua cadeira e não sabe exactamente porquê. Ontem, apercebi-me do incómodo feroz, das duas pessoas, que tinha sentadas ao meu lado e que eram, completamente desconhecidas para mim. Esse desconforto, vem também, de uma convergência plena entre o plano cinematográfico de Daniel e literário de Eça, como por exemplo, a descrição detalhada das personagens. Permitam-me uma vez mais, sendo no caso do cinema, uma tarefa muitíssimo mais difícil.

Ouvindo e vendo ontem, a afinidade e cumplicidade entre Glória Pires (Juliana) e o Director (como se diz no Brasil) Daniel Filho, percebe-se com grande ajuda do filme, o dificílimo compromisso de tornar Glória Pires numa Juliana credível. Aliás, a actriz dizia ontem que, seu medo de parecer feia, era muito inferior ao medo, de parecer igual a Marília Perâ (um de seus ídolos) que já havia feito a adaptação, para a mini-série brasileira em 1988. Ao que Daniel Filho interrompe, dizendo qualquer coisa do género: “Marília não quis ir até ao fim mesmo, você vai-me prometer que vai ficar feia mesmo”.

Esta referência à parte, à a actriz Glória Pires, é não só necessária como justa. Sendo um imenso admirador da actriz Marília Perâ e não tendo assistido à mini-série, claro que fico sempre algo reticente. Não se deve comparar textualmente duas grandes actrizes que fazem em épocas diferentes um mesmo personagem, seria tão ridículo como comparar um livro e um filme. Quero apenas dizer… que: desde a 1ªcena, em que aparece Glória Pires no filme, o desconforto do telespectador vai-se ampliando e ampliando. É simplesmente sublime o trabalho da dupla, Pires-Filho. A actriz vai aparecendo sempre aos poucos, como que uma aparição, um fantasma, revelando-se a cada apontamento, a cada maneirismo, muito feia mesmo. Incrivelmente bem conseguido. Mérito brutal da actriz, mas obviamente, o caso típico de uma grande Direcção de Actores.

Uma nota também para dizer, que o Brasil é provavelmente o país do mundo, onde melhor se filmam, as cenas de sexo e erotismo. Para eles é uma escola natural. Sexo é vida. E eles são mestres a filmar o nosso quotidiano. Daniel Filho fez, duas das cenas, mais arrebatadoras de erotismo, que vi num filme até hoje.

sábado, 20 de outubro de 2007

O Rio desses duzentos mil...

Nesse rio,
Lanço-me, alerta!
Vejo o pavor de meu tio
Tenho a cabeça deserta

Lanço só meu corpo,
Lanço-me mais vezes,
Lanço me quase morto,
Lanço-me todas as vezes…

As piranhas que com gozo olham,
Jubilam, pelo ser gente-inoperância;
Do meu destino fatal, molham
E afogam, a nossa militância.

O Milton, contou–nos do Milagre
Dos peixes, um dia…
Eu quero fazer, do milagre
Da multiplicação, este dia.

As piranhas estão, para ficar!
Para baixo não olham, se der,
Não é assim, sua visão a vibrar,
Contra a agonia dos povos, sequer.

Erro já, de formação
Somos nós os culpados até,
Desta, tamanha, programação,
Que alimentámos com fé.

Eu encontro mais peixes,
Com eles ajudo, a reunir.
Fugimos todos à espreita
De um lugar seguro, dormir.

Quero ver meus pés,
Muito além, desse rio fundo.
Preciso mais de uns dez,
Desses peixes tigres do mundo…

As piranhas são zelosas,
Têm tudo preparado,
Suas propagandas maldosas,
Deixa-me seco e apertado.

Mas…
Faz do nosso ser seco, molhado.
Desse rio húmido, preciso,
Da urgência, Prestes, o mirrado
E dessa força, o que for preciso.

Junta-te a nós, voz de outros, mil
Vezes, duzentos desses, Camarada
Que Desse rio terrível senil,
Trago-te à tona, essa escumalha.

Rodrigo Camelo

domingo, 14 de outubro de 2007

São Paulo - Rio: Por Inês Pedrosa

(...) Condensa o melhor da cultura brasileira - a música e a literatura. Nesta definição de literatura incluo também o ensaio, que o Brasil - como país novo e destemido que é - cultiva (e publica) muitíssimo mais do que Portugal. Estudos recentes demonstraram que a inteligência das crianças musicalmente instruídas se desenvolve muito mais do que a das que não são - e, no entanto, a música continua a ser desprezada, no nosso país. É também por isso que Portugal é uma país emperrado -e o Brasil consegue dançar, com uma delicadeza infinita, sobre todos os problemas. (...) Talvez consigamos ver em DVD «Pedrinha de Aruanda», um filme em que Maria Bethânia e Caetano Veloso atravessam a noite, a caminho de Santo Amaro, conversando sobre a infância e sobre a lua de Fernando Pessoa. A Caetano, pelo menos, podemos vê-lo e ouvi-lo agora, nos coliseus de Lisboa e Porto. Um show-aula de letra e música, que nos faz tanta falta.

Por: Inês Pedrosa
In: Crónica Feminina, Única-Expresso

Caetano - Cê veio, para ficar!


Ele avisou-nos, e, há bem pouco tempo, mas ainda houve quem não o levasse muito a sério: “Eu sou eternamente tropicalista”. Então, este concerto, soou-me, como uma atitude inconsciente, para os que vaticinaram o seu fim.

A minha “Transa” com Caetano, já tem uns anos. Talvez poucos, mas inevitavelmente sinápticos. Já vão entender. Devo até acrescentar, antes de começar a história, que era daqueles que à partida, não tinha muita expectativa para este concerto. Fruto até, do que vinha ouvindo sobre a sua digressão, mas sobretudo, pela insatisfação com algumas das últimas coisas que Caetano, tinha feito enquanto musico.

Numa breve história, resumo o que aconteceu. Uma bela tarde, ao chegar a casa, liguei a TV e depois de um insistente “Zapppping”, estacionei vidrado na “Sol music”, canal ainda existente na época (decorria o ano de 1998). Esqueçam tudo, em que se tornou o tema “Sozinho”. E é preciso fazê-lo, realmente, com um certo distanciamento e já agora, despretensiosamente. Agora imaginem-se a ouvir o final da música, pela primeira vez. O engraçado, ou curioso desta história, foi ter-me concentrado, quase exclusivamente, no momento dos aplausos.
Aquela imagem, gravou-se para sempre na minha reminiscência. O figurino, não desconhecido de Caetano Veloso, um homem em plena meia-idade, cabelos brancos, voz docemente envelhecida, provocou, um sentimento de perplexidade na mina pessoa. Remeteu-me para as imensas tardes de uma infância, em que entre, outras coisas, alguém lá em casa ouvia a riquíssima música, do Atlântico sul.
Aquelas rugas, determinantes, de uma imensa expressão no rosto cansado, mas feliz de Caetano, pareciam transportar, uma intensa história de vida. Do som ensurdecedor de uma plateia ao rubro… Vi e ouvi, um homem sentado, depois de guardar seu violão, que com um simples esfregar de mãos nas pernas, ajeitou o cabelo grisalho, muito grisalho mesmo, afastando os braços na direcção do público, com as mãos enunciando o gesto da entrega, seguindo-se o, Amaliamente, eternizado: “Muito obrigado…”. Aquele homem, não o sabia, nem poderia, mas aquele gesto límpido da simplicidade dos que realmente, transcendem na arte e se reconhecem como medíocres, havia criado em mim, inadvertidamente, o maior projecto musical. Um jovem que até então, vivia mergulhado no universo dos Beatles, Stones, Zeppelin e outros monstros do Rock. Mal sabia eu, o duplo sentido desta, recém, descoberta. A ligação perfeita, de dois universos, que para mim na época, não se misturavam.
Esta introdução, necessária, para se perceber que tenho vindo a ler e a ouvir muita coisa, ligada ao universo - Caetano Veloso, tem uma segunda intenção. A de invocar e recordar que também ele, foi e é um grande fã do Neo-Rock inglês.

Caetano Veloso apresentou ontem à noite, no Coliseu dos Recreios, o seu disco mais recente “Multishow Cê - ao vivo”, a digressão do álbum de estúdio de 2006 “Cê”.
Logo nos primeiros sons da batida do baterista Marcelo Callado, percebemos estar na presença de um concerto diferente de Caetano Veloso. E para quem já o viu a fazer de quase tudo, mesmo para esses, o concerto poderá ter suado a fresco, directo, duro, mas surpreendente. Eu, que o acompanho apenas, desde a digressão de “Livro vivo”, já não o ouvia assim, há pelo menos 7 anos. Caetano pulou, dançou, cantou com a energia indisfarçável de um homem, que não nega os 65 anos, mas que paradoxalmente rejuvenesce musicalmente, na sua forma clássica de reinvenção. Ele nunca gostou do monótono...

Para quem imaginava um Caetano, na sua 60ª década de vida, a dedicar-se exclusivamente à herança João Gilbertiana de voz-violão, arrastando-se e desgastando-se na reconstrução de um legado, inegavelmente, importante na música do mundo; para esses, que o imaginavam assim... Desculpem a franqueza, mas enganaram-se redondamente. Aí está ele, camaleonicamente, respondendo aos críticos, que ousaram afirmar (e não foram assim tão poucos), que ele não saberia cantar o rock. Como ele um dia terá dito, que por um acaso, se tornou músico e não, artista-plástico ou cineasta, também vou ousar dizer que Caetano, só por uma partida do destino, não ter-se-á dedicado, exclusivamente, pós-tropicalismo, a ser um cantor rock. Não, que não ache Caetano, o mais importante intérprete vivo, de violão e voz Brasileiro de há muitos anos para cá. E até quem sabe, no mundo. Mas se existe coisa maravilhosa, que este homem nos ensinou, é a da transmissão, de uma insatisfação permanente, na busca de um novo projecto musical, na sua pessoa. Transferível até, para outras esferas da sua vida. Esta Insatisfação, amplamente positiva, e não exactamente, a celebrada por Jagger e os Stones, no eterno “I can´t get no, Satisfaction”, fazem dele, uma matriz cultural, que deveria ser incutida em todos os jovens nas escolas. Só para citar um exemplo.

Mas voltando ao concerto. Quem pretende dedicar-se à música, qualquer que ela seja, teria em Caetano Veloso, um muito bom exemplo de como se constrói um alinhamento musical de um concerto. A inteligência com que Caetano, constrói pontes, mensagens e intertextualidades entre as canções, que escolhe tocar, são demonstrativas, da complexidade de um homem, que se interessa sobre todas as coisas. Não se perdendo na intenção. Nem sendo inconsequente musicalmente.
A incursão de Caetano, fez-se, neste espectáculo, por alguns temas dos mais aclamados discos da sua carreira. Casos de “Nine out of ten” e “You don´t know me” de «Transa», esta última já no «encore», “O homem velho” de «Velo» e “Um Tom” de «Livro», dedicado ao maestro e Jaques Morelenbaum, que como se sabe, foi músico e director musical de Caetano, por mais de 15 anos. Também “Sampa” fez parte do espectáculo, com um arranjo nunca antes visto.Uma das mais belas canções escritas em português, fez-se crua e dura, para um público deveras, já contagiado. Voltando a “Um Tom”, e, voltando porque, foi dos momentos mais belos da noite. Caetano procurou dar, uma sonoridade muito própria, desta magnifica banda de jovens músicos (entre eles, o próprio Caetano), a canções emblemáticas, com arranjos simples de rock, como arrojados, potencializados pela versatilidade de uns jovens Srs. chamados: Pedro Sá (Guitarra e Contrabaixo), Ricardo Dias Gomes (Contrabaixo e teclas) e finalmente, Marcelo Callado (um monstro na bateria).

Mas foi também o concerto de “Como 2 e 2”, ou “Fora da Ordem”, que parece ter feito sentido outra vez, agora que, para mal dos nossos pecados, temos o filho Bush no poder. Aliás, vendo bem, a letra nunca deixou de permanecer actual. Virtude dessa Lupa gigante, que insiste em profetizar o essencial, chamada Caetano Veloso, ou não tivesse dito em 1991: “E o cano da pistola que as crianças mordem, reflectem todas as cores, da cidade que é muito mais bonita, muito mais intensa, do que no cartão postal”. O que mudou desde aí? Ou, a tão proclamada, Nova Ordem Mundial do presidente Bush. Realmente, Cê tem razão, “alguma coisa está fora da ordem”.
Ficou talvez a faltar, (interessantíssima sugestão de uma amiga) a, também, extremamente actual: “Podres Poderes”. Caetano surpreendeu-nos até com, em voz e violão", "Fado de Amália", com a sua visão muito particular do fado. O público rendeu-se claro. Em "Desde que o samba é samba" vimos Marcelo Callado, Ricardo Dias Gomes e até Pedro Sá no acompanhamento, em belos solos instrumentais, sobretudo no particular-bateria.

A reacção do público, foi-se transformando ao longo, das quase duas horas de concerto. Até os mais puritanos, terão resistido enquanto puderam. Lá se terão contentado, com os “Leõezinhos” e “Meninos do rio”. Mas até aí, os músicos se revestiram da imaginação, celebrando novos arranjos, e estabelecendo uma iconográfica versão de “Leãozinho”. Só comparável à de «Fina Estampa ao vivo».
Caetano está vivo e bem vivo. Está jovem e é, seguramente, eternamente tropicalista. Depois de ontem à noite, não restam dúvidas. Caetano é “um tom para todos nós…”.

Por: Tiago Pereira da Silva


PS - Só ficou faltando mesmo, usando um gerúndio bem brasileiro, a música "O Herói".

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

João Bosco - Linha de Passe (1979)



Por: Tiago Pereira da Silva

Numa das últimas entrevistas a Elis Regina, já nos anos 80, podíamos ouvi-la dizer, depois de perguntado (versão - questionário rápido) por Marília Gabriela: Um compositor? - João Bosco.
E é tanto mais importante falar de Elis, quando sabemos, que são pouquíssimos os discos, em que ela homenageou e dedicou integralmente a um compositor, excepção feita, talvez, de António Carlos Jobim, no célebre “Elis & Tom” de 1974. Elis fê-lo, com João Bosco.

1979, foi o ano do lançamento de “Linha de Passe” de João Bosco. Um disco que acima de tudo, confirma João como um dos mais originais, composositores-cantores da história da MPB. Elis “roubou” logo dois temas. Este fascínio da cantora por Bosco, percebe-se a até, no uso de sua linguagem musical. Outrora, tinha amado Gil e Milton, até Caetano, mas tenho para mim que, perdeu-se de amores, pelo génio criativo de João Bosco. O “Bêbado e Equilibrista”, um monumento-hino ao som singular, infectadíssimo por João. “Linha de Passe” deixa, ainda hoje, qualquer plateia ao rubro. “Cobra Criada”, felizmente, regravada por Elis na emblemática abertura do concerto de Montreux, é um bom exemplo, da sua misteriosa consideração temática, no seu processo de criação musical.

Toda a sonoridade do álbum, vastamente superior a tudo, o que outros imitadores de João Bosco, sempre tentaram fazer, consagra ainda mais, músicos participantes, do calibre de João Donato – Piano; Luizão Maia – Baixista de Elis Regina; Wilson das Neves – baterista roubado, posteriormente, por Chico Buarque, entre outros.
Ainda hoje, deliro a ouvir, a interessantíssima brincadeira chamada “Boca de Sapo”. Essa, história maluca de um sapo chamado Honorato, que nem Elis Regina, se atreveu a regravar.

Este sim, é o branco mais negro do Brasil… ou será, o negro mais branco do Brasil? Fica à consideração do leitor.


PS - Não se percebe, como tanta qualidade, possa ser sempre, ignorada. Nunca ouvi uma música de João Bosco, na rádio. Fica o registo.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

domingo, 7 de outubro de 2007

Balada do Picoto


Respira um pouco,
Expira mais e mais.
Avisto ao longe a cruz,
Meu pai.
E não há quem
Te siga, pra essa Luz.

Subi a árvore mais alta,
Verti, cada pingo no tronco
E fiz do animal mais apto,
Minha bússula.
Dos que reúnem toda
A história num acto.

Sobe ao cume, irmão
E deixa-te, avistar o lume
Brando da erupção.
O húmido esconde-se
À espreita e faz
Detonar o Carvão.

Abraço ainda, a serra
E ajuda-me desta
Peste, João.
Que nós ao cume
Vamos, desta
Vertiginosa emoção.

A ideia de não alcançar-te
Paira em nós
Tão duradoura.
Picoto, pai,
Minha ambição,
De voltas estás…

Sobe, sobe, em
atenção e volta logo,
Para onde, irmão,
Somos filhos,
Das movediças
Almas de intenção.

No turbilhão do fogo,
Contamos mais,
O que não falta.
Voa livre e paterno,
Voa livre e fraterno,
E Acende a cruz da malta.


Por: Tiago Pereira da Silva

"Fados" - Carlos Saura


Por: Tiago Pereira da Silva


Imaginem um filme, que pretende homenagear a bossa-nova no Brasil. Agora concebam o seguinte. Que um cineasta argentino pega na ideia e procura ao longo do mesmo, desenvolver o nascimento dos movimentos de música popular no Brasil, sem subir os morros da cidade do Rio de Janeiro, para compreender a origem do samba-canção. Não percorrer, os bairros boémios como o da Lapa ou Santa Teresa, onde começaram os primeiros movimentos da Bossa-Nova. Fazer aqui e ali, umas alusões necessárias à importantíssima influencia de Heitor Villa-Lobos, em personalidades como, Ary Barroso, Noel Rosa, Pixinguinha, entre outros, que influenciaram irreversivelmente, a geração de Tom, Vinicius e João Gilberto.

Carlos Saura, realizador de “Fados”, conseguiu, um resultado cinematográfico polémico sobre a nossa, maior expressão cultural.
Ao optar, por esta primeira interpelação ao leitor, não quero com isto dizer que, Carlos Saura não terá deambulado pelas ruas de Alfama e Bairro Alto, respirando necessariamente uma das matrizes endémicas do fado. Simplesmente digo, e para quem já viu “Fados”, que Carlos Saura ousou muito, ao realizar um filme sobre a maior manifestação cultural do país vizinho, sem sequer filmar as ruas de Lisboa (O filme é quase totalmente filmado em Madrid), excepção feita na aparição musical de Carlos do Carmo, em que aparece-nos, como cenário fotodigital, algumas ruas, dessa imensa Lisboa. Esta opção arriscadíssima, já produziu, no seio de alguma critica portuguesa, imensos velhos do Restelo. Da mesma espécie de puritanismo, a que assistimos nos anos 80, quando era frequente ouvir Caetano Veloso cantar “Que estranha forma de vida”, homenageando a influencia que Amália e Portugal tiveram na sua poesia e pessoa, sendo “naturalmente” vaiado por uns e aplaudido por outros.

De facto, Carlos Saura tem uma outra intenção, que pode até não ser devidamente enobrecida por esta nação, vezes a mais, provinciana…Mas o seu eco, já se reflecte um pouco pelo mundo. E não estou a falar dos imensos prémios ou ovações de pé, que arrecadou, em festivais por essa Europa fora.
A proposta cinematográfica de Saura é a de homenagear o Fado, procurando, a criação de pontes culturais da sua possível origem e influencias, casos de África e Brasil. E que bem servidos estamos, devo acrescentar.

Ter como realizador de “Fados” o espanhol Carlos Saura, só poderia resultar na ampliação, da importância multicultural de outros movimentos musicais na nossa música. Aliás, o mais interessante do filme, se me permitem é, justamente, reforçar essa origem histórica, conferindo-lhe uma sonoridade e modernidade, dos nossos dias. É por isso possível ver, em “Fados”, a cantora mexicana Lila Downs, fazer uma das mais belas metamorfoses do fado, que alguma vez vi, conseguidas. Mariza brilha, no canto de fado pró-moçambicano, na reinvenção de “Transparente”, com um quase irreconhecível ou, se quiserem, anónimo, Rui Veloso. Sua guitarra parecia há anos, silenciada. E sobre isso, não é preciso acrescentar, mais nada.

Confesso, que me é difícil falar deste Caetano Veloso, do filme. É um misto de evidência do seu envelhecimento, com o reconhecimento de ser (e é seguramente, não me canso de dizer) um dos grandes intérpretes vivos do mundo. O seu “violão” tornou-se ao longo dos anos mais terno. E sua voz, hoje, sem o alcance de outrora, surpreende-nos, numa “re-re-invenção”, do seu “Que estranha forma de Vida” em jeito de falsete. Um dos grandes momentos do filme.
Ver novamente Chico Buarque, associado a imagens da revolução não é inteiramente novo. É até, para algum público português, um pouco previsível na sequência lógica, das imagens a preto e branco (as cores que ele tanto gosta) da revolução dos cravos, com um “Grândola Vila Morena” a preceder uma nova versão de “Fado Tropical”, com Júlio Pereira no Bandolim. Sem a força interpretativa de Caetano, Chico arrepia nas suas incursões lusófonas do ser português, mesmo quando o texto associado às imagens, parecem inexplicavelmente erradas: - “Quando as minhas mãos estão ocupadas em matar, trucidar, esganar(…). É um Chico velho e magro, que nos aparece nas imagens, mas o azul sedento de seus olhos, nunca defraudou a curiosidade atenta, de ser, um dos poetas maiores da nossa língua.

O “Rap do Marceneiro” deverá surpreender, até, os mais cépticos. Uma lindíssima homenagem a Alfredo Marceneiro. Mas a Brigada Victor Jara, no seu “Fado Bailado” é um dos momentos mais altos do filme; bem como a ponte de junção do Flamenco e Fado.
Carlos Saura, realizador de “Flamenco (1995)” e “Tango (1997)”, inventou um novo estilo cinematográfico. A ligação do género - musical, com o documental, criando ainda sensação no público, e, reconhecimento, na inclusão na Dança, através de um sem número, de coreografias.

Embora, a “nossa” música saia, imensamente prestigiada do resultado final de “Fados”, devo acrescentar também, que a sua obsessão coreográfica no filme, quanto a mim, peca por isso mesmo, por excessiva e muitas vezes descontextualizada. Dando a sensação, de que o possível resultado coreográfico, poderia ser bem melhor.
Frustra um pouco, ver quase “esquecidos”, alguns dos poetas maiores do nosso fado, com escassas referências documentais.
O tema “Amália” seria sempre tratado, de forma redutora, mas também Carlos Saura, deverá saber disso. Sendo uma cantora singular do séc. XX.
Eu, como mero espectador, apenas lamento não ter visto uma referência ao mestre da guitarra portuguesa, instrumento nobre do fado, Carlos Paredes. Terá sido intencional? Fica por esclarecer. Ou até, uma mais do que merecida referência aos Fados de Coimbra. E porque não também, no canto ímpar, de Zeca Afonso homenagear os dois.

De qualquer forma, o resultado é profundamente feliz. Por cá, continuamos a assistir cineastas, a desgastarem-se com “corrupções”… De facto, o maior reflexo, de que nem para nós, somos bons. Importando os formatos americanos Hollywoodescos, para desenvolver produtos descartáveis, que caem no esquecimento. Depois queixam-se do provincianismo. Será que estamos dispostos a exigir um outro tipo de produto? Porque se cozinharmos e alimentarmos este sistema, a “merda”, perdoem-me a expressão, será para sempre, uma coisa natural.



PS – Este é um filme que poderá muito bem aproximar, as gerações mais nova do Fado. Senão tivesse mais mérito nenhum, pelo menos este, já ficaríamos a dever a um Sr. Espanhol chamado, Carlos Saura.

sábado, 6 de outubro de 2007

Rubrica: Escolha do dia - Chamaram-me Cigano


CHAMARAM-ME CIGANO
(José Afonso)

Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rês
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela
A minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive
O diabo na mão

Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi
O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito
De penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão

Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá
Outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive
O diabo na mão

Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio
O diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas
Que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive
O diabo na mão

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O (om) do Brasil…

É Tão bom,
E...

Tá tudo certo,
Bem depressa e se dá bem,
Com tudo aberto,
Tem também,
Você não vai ficar,
No tom…

Lugar cabreiro,
Despe logo, e minha casca,
De um morteiro
Vede logo, essa tasca,
Você só quer saber
Do bom…

Veado em cima,
Tudo pode, me brotar
Lugar de Lima,
Mas deixa a mim, falar
E pede para embalar
No som…

E dou permisso,
Rio apagado,
Mil e um enguiço,
Tudo afagado,
Mas pede para ficar…
No dom…

Não sobra nada,
Rainha quer teimar
Com, Tv ligada,
Vê lá não vá queimar,
E…
É tão bom!


Rodrigo Camelo

Joao Bosco

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Durmo em ti... Amazónia!

PESAROSO SENTIDO

Chego a este lugar medonho,
Que de tão belo, se faz outro.
Cai-me dentro dos olhos,
Cega-me e atinge-te,
Enfeitiça-nos apenas,
E num abismo, se faz noite.

Quem ousa enfrentar,
Essa mãe natureza?
E esse velho rio vigoroso?
Enterro a melhor parte,
Do meu coração desejoso,
Nesta copa teia emprestada.
E colho por isso, o dever,
Da testemunha que permanece,
Fiel e seguidora
Que pesaroso sentido.

Da copa das árvores,
Vejo o que não atinjo,
Aventuro-me de ramo em ramo,
De Lima em lima, te pego.
Que a dor que trago comigo,
Prove da beleza que enxergo,
Estou de olhar-ouvido, atónito.
Mas não acordo essa árvore.

Inventem-me, um outro sentido!
Preciso de vir preparado,
Que Seja, lúcido também,
Inventem-me, outro dia,
Pois não estou programado,
Da Lúcia musa serpente,
Sabe ao que vim, detalhado.

É tão perto de mim,
O que ao longe avisto,
É Perfeita e bela,
O seio dela.

Como na confusão,
Que me encontro.
E belo também é o caos,
Não há quem suporte o calmo,
Que do seu mundo monótono,
Não nos oferece a alma.

As feras multiplicam-se de dia,
Mas devoram-se, mais à noite.
É tão previsível, essa tua
Impiedosa natureza.
Tua marca duradoura,
Teu desprezo por nós, revoltante,
Mas eternamente necessário.
Ela não cresce,
Apenas acontece,
Livre e sã, deliberada.

Enquanto recupero da dose,
Mais, que da tua altiva pose,
Os meus inimigos alimentam-te,
E dão-me da eterna miséria.

Todos estamos reunidos,
Ao teu redor uma língua certa,
Por onde circula o ar e
Esses micos, a navegar.

Pé ante pé, suspensos na vida,
A serpente reaparece nua,
Senhora do reino
A única que mata e
Não deixa rasto.

Que animal é tão perfeito?
Nenhum outro,
Se conhece assim,
Nem o pesaroso sentido.


Rodrigo Camelo

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Durão Barroso e o Ensino Burguês

Genial... Resumindo e baralhando .. não se percebe nada.