PESAROSO SENTIDO
Chego a este lugar medonho,
Que de tão belo, se faz outro.
Cai-me dentro dos olhos,
Cega-me e atinge-te,
Enfeitiça-nos apenas,
E num abismo, se faz noite.
Quem ousa enfrentar,
Essa mãe natureza?
E esse velho rio vigoroso?
Enterro a melhor parte,
Do meu coração desejoso,
Nesta copa teia emprestada.
E colho por isso, o dever,
Da testemunha que permanece,
Fiel e seguidora
Que pesaroso sentido.
Da copa das árvores,
Vejo o que não atinjo,
Aventuro-me de ramo em ramo,
De Lima em lima, te pego.
Que a dor que trago comigo,
Prove da beleza que enxergo,
Estou de olhar-ouvido, atónito.
Mas não acordo essa árvore.
Inventem-me, um outro sentido!
Preciso de vir preparado,
Que Seja, lúcido também,
Inventem-me, outro dia,
Pois não estou programado,
Da Lúcia musa serpente,
Sabe ao que vim, detalhado.
É tão perto de mim,
O que ao longe avisto,
É Perfeita e bela,
O seio dela.
Como na confusão,
Que me encontro.
E belo também é o caos,
Não há quem suporte o calmo,
Que do seu mundo monótono,
Não nos oferece a alma.
As feras multiplicam-se de dia,
Mas devoram-se, mais à noite.
É tão previsível, essa tua
Impiedosa natureza.
Tua marca duradoura,
Teu desprezo por nós, revoltante,
Mas eternamente necessário.
Ela não cresce,
Apenas acontece,
Livre e sã, deliberada.
Enquanto recupero da dose,
Mais, que da tua altiva pose,
Os meus inimigos alimentam-te,
E dão-me da eterna miséria.
Todos estamos reunidos,
Ao teu redor uma língua certa,
Por onde circula o ar e
Esses micos, a navegar.
Pé ante pé, suspensos na vida,
A serpente reaparece nua,
Senhora do reino
A única que mata e
Não deixa rasto.
Que animal é tão perfeito?
Nenhum outro,
Se conhece assim,
Nem o pesaroso sentido.
Rodrigo Camelo
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário