segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

XX Century´s Genius




Jokerman


Standing on the waters casting your breadWhile the eyes of the idol with the iron head are glowing.
Distant ships sailing into the mist,
You were born with a snake in both of your fists while a hurricane was blowing.
Freedom just around the corner for you
But with the truth so far off, what good will it do?

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh, oh, oh, Jokerman.
So swiftly the sun sets in the sky,
You rise up and say goodbye to no one.
Fools rush in where angels fear to tread,
Both of their futures, so full of dread, you don't show one.
Shedding off one more layer of skin,
Keeping one step ahead of the persecutor within.

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh, oh, oh, Jokerman.

You're a man of the mountains, you can walk on the clouds,
Manipulator of crowds, you're a dream twister.
You're going to Sodom and Gomorrah
But what do you care?
Ain't nobody there would want to marry your sister.
Friend to the martyr, a friend to the woman of shame,
You look into the fiery furnace, see the rich man without any name.

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh, oh, oh, Jokerman.

Well, the Book of Leviticus and Deuteronomy,
The law of the jungle and the sea are your only teachers.
In the smoke of the twilight on a milk-white steed,
Michelangelo indeed could've carved out your features.
Resting in the fields, far from the turbulent space,
Half asleep near the stars with a small dog licking your face.

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh. oh. oh. Jokerman.

Well, the rifleman's stalking the sick and the lame,
Preacherman seeks the same, who'll get there first is uncertain.
Nightsticks and water cannons, tear gas, padlocks,
Molotov cocktails and rocks behind every curtain,
False-hearted judges dying in the webs that they spin,
Only a matter of time 'til night comes steppin' in.

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh, oh, oh, Jokerman.

It's a shadowy world, skies are slippery gray,
A woman just gave birth to a prince today and dressed him in scarlet.
He'll put the priest in his pocket, put the blade to the heat,
Take the motherless children off the street
And place them at the feet of a harlot.
Oh, Jokerman, you know what he wants,
Oh, Jokerman, you don't show any response.

Jokerman dance to the nightingale tune,
Bird fly high by the light of the moon,
Oh, oh, oh, Jokerman


Bob Dylan, 1983 in Infidels

Saudades de Sophia !




"O Velho Abutre"




O Velho abutre é sábio e alisa as suas penas


A podridão lhe agrada e seus discursos


Têm o dom de tornar as almas mais pequenas.




Sophia de Mello Breyner Andresen in Livro Sexto




Poetisa maior da nossa língua...


Sophia tinha também o dom de espelhar, através de metáforas na sua poesia, a nossa sociedade


ao rídiculo e à barbarie de um regime salazarista... facilmente substituimos o velho abutre por Salazar.


O curioso é o poema continuar extremamente actual...


Conseguimos ver em não sei quantos líderes políticos mundias velhos abutres!




Tiago Pereira da Silva

domingo, 28 de janeiro de 2007

Excertos do texto "Diários de Londrina"

10/08/04


Da varanda do meu quarto avisto tantas marcas tão características de uma cidade que até então virgem de meu olhar, com tudo e nada, do que se espera encontrar na América do Sul.
Os carros circulam agressivamente nas ruas, as pessoas precipitam-se em pequenos gestos, quase singelos, peculiares, como que não temendo o avançar na direcção de uma vida incerta. Tudo isto está repleto de traços muito fortes, que identificam qualquer brasileiro, qualquer Brasil... Here, There and everywhere. Estou quase só em Londrina, sentido aquilo que acredito ser a solidão aquando da fascinação de uma primeira imagem – a da varanda. Os portões de todas as cores tornam-se belos para os meus olhos de um europeu que se divide entre dois lugares. E enquanto os meus olhos procuram no céu a cor da saudade, o cheiro que me invade trás a brisa de ... o azul invade todos os sentidos(...)

Tudo parece tranquilo, mais próximo, mais meu, mais brasileiro, mais luso, ou será simplesmente, o tão natural fascínio de ser o outro e de realmente o estar a ser, sendo mais eu, conhecendo o que até então estava oculto, uma outra dimensão em mim.
O Caetano e o Chico falam-me ao ouvido, o sim, o não e o talvez, a bruta voz do ser do Brasil. O Chico tão representativo e a mais exacta adequação do ambiente boémio cultural do Bairro da Lapa (Rio de Janeiro), ou o poeta do povo, aquele que consegue chegar a todas as classes, mesmo tendo vindo de uma família elitista, filho do grande sociólogo brasileiro Sérgio Buarque de Hollanda o autor de Raízes do Brasil. Chico...
Caetano corre me nas veias, tal como Chico mas de uma forma diferente, mais intensa, mais empática, é como que o camaleão que se transforma como uma rima exacta, no tempo exacto de um som.... Lá fora, alguém fala da TV Globo e o mundo para mim circula ao “bumm” de uma percussão. As palavras na fala de Caetano parecem-me sempre ter uma dimensão superior, um outro significado, a contemplação perfeita do seu significado(...)
De repente, sou transportado para daqui a seis meses, para um centro comercial qualquer e vejo-me estupidamente a passear e percebo o impacto e a importância que o Brasil todo teve e tem para mim e como foi alucinante a nossa viagem (...)

Por: Tiago Pereira da Silva

Poema não previsto

Respirar as cidades ásperas
Sem a uniformidade de cores
Seus narradores e seus ícones
Despem as máscaras no calor

Os não heróis são tão lúcidos
Abrem os livros pós-modernos
Procuram a verdade no objecto terno
Mas as palavras teimam em se dar
Cortadas na água-reino de um lúcio

O desinteresse é agora o reino
A agonia, o solo da terra suja
Todos fazem as malas, cuja
Criação é deveras um treino

As cidades respiram agora sorte
Pelo abandono não programado
De todos os deuses da ovelha nua
Que brotam dos céus para a rua.

Domingo, Julho de 2006

Tiago Pereira da Silva
Mendigo

Renegas o conto livre
Que a estátua imóvel
Teima em te dar
No seio da confusão urbana
Só ela te vê
E não avistas nada
No meio do barulho ensurdecedor
Ela contigo fala ao ouvido
Sussurra baixo
No teu silêncio só
Ela sábia e mãe diz a verdade
Ela é, a testemunha
A realmente única
Ela transpira vida

Mas um movimento perpétuo e renegado
Conduzem-te à incerteza
Do outro lado avistas mais
E mais e mais
As estátuas tomam agora o teu caminho
Na rua sentes-te só e perdido
Renegas o bom conselho
A vergonha é agora tua
Elas, avaliam a tua dor
Mas não te salvam da angústia

Enxergas por fim a verdade
Que cruelmente negavas
Eu renego de quem diz
Que avistas alguma salvação
A imagem do horror
Permites que seja tua
Mas o impulso fraterno
Fazem de ti um mundo
Como o mundo todo.

Tiago Pereira da Silva
2005

Continuando ... nas "Sonoridades do Mundo"

Elis Regina e Tom Jobim: Elis & Tom (1974)
O novo sempre vem!


Se existissem cadeiras de “Sonoridades do Mundo” numa qualquer faculdade, num qualquqer canto do planeta...Sim isso mesmo!

Se assim fosse (...) para mim não haveria melhor forma de começar do que o resultado da gravação “Só tinha de ser com Voçê” deste disco. Elis com uma voz quase irreconhecível, mas cantando como nunca e o arranjo magistral desse pianista fabuloso e tantas vezes esquecido, César Camargo Mariano. Aquele arranjo de arrepriarrrrrrrr... é desse Sr., então marido de Elis. Tom depois de múltiplas discussões com Elis, e o peso cada vez maior de uma tensão nos estúdios em Los Angeles (local da gravação), cedeu á monstruosa pressão de Elis para se usar o piano electrónico aquando das gravações (segundo Elis o novo grito de modernidade no som), bem como o não abdicar da utilização de músicos por ela escolhidos. O resultado foi feliz como nem o próprio Tom esperaria. Ele ofereceu a resistência natural pelas novas tecnologias e engenharia de som, de um homem que era um prefeccionista e que escutava tudo meticulosamente até chegar ao resultado desejado. E vá lá diga se em bem da verdade, um conhecedor profundo da forma como suas músicas poderiam ser recriadas. O resultado espantoso desta gravação é também a evidencia da inteligência de um musico que percebeu que “O novo sempre vem”.

A crítica inacabada...

Caetano Veloso: Transa

Provavelmente o melhor disco deste genial poeta e compositor baiano. Aqui tudo é perfeito, as harmonias, as letras, os músicos. Curiosamente sempre que recordado do período londrino da vida em exílio, Caetano lembra com alguma amargura e tristeza admitindo ter sido um dos períodos mais infelizes da sua vida. Mas aqui, se comprova uma vez mais, aqueles que dizem que muitas vezes os grandes mestres precisam entrar em determinados abismos emocionais para atingirem o apogeu da sua arte. Caetano refere-se ao período em Londres como fulcral para ter continuado a fazer música pois o seu “violão” no Brasil não era considerado de nível profissional. Foi em Londres que se sentiu pela primeira vez confortável para tocar em estúdio. Lá os técnicos (curiosamente) acharam a sua técnica de tocar guitarra de uma originalidade única e que contratar alguém para o fazer no seu lugar, tiraria toda a originalidade e profundidade das canções. "Nós ficamos agradecidos por este feliz acaso".

Caetano arrisca-se um ano depois de “London, London” também gravado em Londres a gravar mais uma vez em inglês, quase todos os temas...surpreendentemente resulta. O tema de abertura é o filosófico “You Don´t Know me” em que ele advoga que: - “You don´t Know me, You don´t know me at all, there´s nothing you can show me from behind the wall" que de súbito se mistura com a sua famosa canção “Saudosismo” ...”Eu voçê, nós dois, já temos um passado meu amor” que é revelado na música através de uma mulher, com um profundo agudo sentimental com tudo de belo e nada de brega[1]. “It´s a Long Way” e “Neolithic Man” fazem-me lamentar profundamente o facto de nunca ter visto referenciado este disco como um dos mais importantes albuns de música popular do Séc XX. Aliás, engano meu, este disco é anti-classificações, é sem possíveis juízos de valor, nem pretenciosas "críticas inacabas"... só é possivel contemplá-lo.


[1] Expressão recorrente no Brasil para Cafona, que significa piroso, fuleiro.