sexta-feira, 24 de julho de 2009

Memória Musical



Por: Tiago Pereira da Silva
De um maneira ou de outra, todos gostamos de perder algum tempo a elaborar um Cd com musicas que se apoderaram da nossa existência.
No outro dia ao fazer um CD de músicas só com temas tocados ao vivo, reparei, um pouco incrédulo que continha precisamente 24 musicas de 7 registos e de 7 autores diferentes.
Não, caro leitor! Não estou a fazer nenhuma suposição afecta à temática da numerologia.

É engraçado como funciona a nossa memória musical. Permite-nos coisas tão “fascinantes” como: no momento exacto do inicio de cada faixa, com o som do público a começar a irromper, as muito naturais pausas entre as mesmas, sabemos, muito antes de ouvir um qualquer instrumento inicia-la, que música se vai iniciar. Ainda para mais tratando-se, em muitos casos, de um numero considerável de musicas.
Já teremos todos de uma forma ou de outra pensado nisto. É como se o som do público de cada concerto ficasse gravado como uma musica, na nossa memória. E na realidade fica. Aquele som denuncia a faixa ou a musica que sabemos começar em instantes... como se o som do público fizesse parte da própria melodia.

Let´s Dance - David Bowie ou não será antes SRV?





Por: Tiago Pereira da Silva
A propósito de Let´s Dance de David Bowie, que para mim surge nos anos 80 como que um recado de que ainda era possível fazer grandes temas de rock, sobretudo para a geração de Bowie, Reed, e claro a de Jagger, Clapton, McCartney e outros; mas dizia eu que re-ouvir Let´s Dance fez-me lembrar, veja só caro leitor (o mais que improvável comentário ou comparação), um testemunho de Chico Buarque sobre a poesia de João Cabral de Melo Neto. Chico dizia que entre outras coisas, parecer uma poesia polida em cimento, quase fria, anti-derramamento emocional, mas capaz de nos emocionar brutalmente.

Este paralelismo com o universo da poesia, e a por demais necessária para mim, comparação com o universo desse talentosíssimo e saudoso guitarrista chamado: Stevie Ray Vaughan.

Este é o senhor que ouvimos no tema de Bowie, que certamente à época fez milhares de adolescentes (pretendentes a guitarrista) procurarem conhecer o guitarrista de Let´s Dance, de tão simples e bem feita que é a sua contribuição no tema.
Mas é totalmente escusado dizer que SRV foi, é (porque o seu legado vive) muito mais do que um grande guitarrista… e até parece redutor invoca-lo, através desta musica (não sua e que pouco tem que ver com o seu património musical) de DB.

Mas a verdade é que ouvi-lo nos créditos finais do inconsequente filme “O Barco do Rock” através desta música, fez-me recordar a verdadeira paixão que tenho por esta referência. Para mim e com uma considerável carga de subjectividade (tantos seriam os subgéneros dentro do mesmo instrumento) o guitarrista mais influente que apareceu pós-Hendrix. Aliás é curioso que ninguém consegue se aproximar tanto da sonoridade de Jimi e ao mesmo tempo ter uma marca tão pessoal. Por exemplo, a muitos anos luz de distancia, John Mayer quer sugar tanto a influencia de SRV sobre a sua forma de interpretar aquele instrumento que acaba por não criar nada de muito seu. E atenção que tenho uma profunda admiração pela forma de Mayer tocar Rock-Blues. Mas só para citar um exemplo, que demonstra que o que SRV fez em tão pouco tempo é extraordinariamente difícil.

Tal como a poesia de João Cabral, não é fácil (na minha opinião) entrar na música de SRV, mas depois dá a sensação como acontece quando se lê (João Cabral) que não existe mais nada.
Como ele fez por exemplo com «Little Wing» de Hendrix – em que se apropriou de tal forma do tema, que já não conseguimos ouvir mais nenhuma versão. E como é poeticamente agressiva a sua forma de tocar, com um nº de cordas de deixar mudo quase todos os pretendentes a próximos SRV. Agressiva no maravilhoso sentido do termo. É difícil até explicar!

Coloco então um desafio ao leitor e a propósito do post: coloque Let´s Dance num volume considerável, (vinil seria ideal) …depois é só esperar pelo aguardado 01:40 da música e perceber que aquela entrada de Vaughan é inconfundível. Ninguém tocava daquela maneira. Aos 03:27 David Bowie deixa SRV solar até, silenciar-se a música, nessa altura o caro leitor já terá sido levado até Ayers Rock na Austrália.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Em III Actos

I Acto
Prólogo Inicial:Se eu fosse rio

Ela deita-se sobre o meu verso,
Sem rumo, sem mar
E eu sei me ausente e imerso
No líquido, onde a dor foi parar!

És humilde, mãe de húmus mil, se
Até na dor – vejo-te minha sabedoria
Acompanhas o corpo e não permites que haja - se
Queres alma, coração e pura alegoria

E quando finalmente colocares-me as mãos,
Já serei rio. Mas sei que ainda desespero.
Terias de entender a tal terra sem Nãos,
Onde sou Velho Chico, onde sei que te espero.

Não foste convidada a entrar nesta terra
E é difícil aceitar que ausente,
Estás muito mais em mim. Mas enterra
A tua tradução, nessa imensa margem presente

Naquela onde virás num tronco assente,
Fintando a nuvem escura à luz do sol,
Agora que avistas algo e vens como presente,
Ao som da água em si bemol

Convoco o clube inteiro da esquina - em prosa
Minas e ouro preto - em carros de boi
Escondo-me “apenas” de Drummond e Guimarães Rosa
É que só dentro dos livros consigo dizer-lhes: Oi !

Agora que sou, no teu livro
Não interessa se bicho, homem, rio ou ar
Vejo o teu sertão e é para onde migro
Porque se sou rio, ela tem que ser mar

II Acto
Prólogo Inicial: O ciúme é humilde

O ciúme é algo que não vou estudar,
Não quero entender-te dentro desse critério.
Tem algo de humilde e que nos faz corar
Deixo, por isso, o entendimento para o mistério...

Sei também que ainda o guardas com um dedo
Como se pudesses prender essa palavra!
A metáfora, intimida e cria o medo
E nasce outra vez, raiz brava

Porque como diria alguém que eu conheço:
Deus é a parte do medo que todos temos.
Por isso existe a fé. E é onde permaneço.
Então e a bíblia – por quanto tempo a lemos?

Perguntarás, tu e tu - irmão.
A desconhecida sombra na parede tem resposta,
Também é a memória do homem em criação.
E tudo torna à forma composta.

Alta noite e pobre de mim sou eu.
Desses, com eco de Cecília
Nem Arnaldo avista um outro que – eu
Estou só. Apesar de invocar-te em tudo o que lia.

Como posso eu, não te ver meu transpirar ?
Se te vejo em tudo o que se faz.
Alguns vêm de visita, outros para ficar
Tu és entendimento, a promessa que se traz

Não quero um terceiro acto
Vou para onde comecei
Onde sou mendigo ou um condor nato.
Onde vejo-me rio ou o melhor que sei

Rodrigo Camelo, 21 de Julho 2009

David Bowie - Word on a wing


David Bowie


"Word On A Wing"


In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
I don't need another change, still you forced away into my scheme of things
You say we're growing, growing heart and soul
In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
Sweet name, you're born once again for me
Sweet name, you're born once again for me
Oh sweet name, I call you again, you're born once again for me
Just because I believe don't mean I don't think as well
Don't have to question everything in heaven or hell

Lord, I kneel and offer you my word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
My prayer flies like a word on a wing
Does my prayer fit in with your scheme of things?

In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
Sweet name, you're born once again for me
just as long as I can see, I'll never stop this vision flowing
I look twice and you're still flowing
Just as long as I can walk
I'll walk beside you, I'm alive in you
Sweet name, you're born once again for me
And I'm ready to shape the scheme of things

Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh...

Lord, I kneel and offer you my word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
My prayer flies like a word on a wing
Does my prayer fit in with your scheme of things?

Recomenda-se a versão do agora reeditado Storytellers

domingo, 19 de julho de 2009

Grey Street - Dave Matthews Band

Oh look at how she listens
She says nothing of what she thinks
She just goes stumbling through her memories
Staring out onto Grey St.
And she thinks...hey
How did I come to this
I dreamed myself thousand times around the world
But I can't get out of this place
There's an emptiness inside her
And she'd do anything to fill it in
But all the colors mix together
To grey, and it breaks her heart

Oh how she wishes it was different
She prays to God most every night
And though she swears He doesn't listen
There's still a hope in her He might
She says I pray
But they falls on deaf ears
Am I supposed to take it on myself
To get out of this place
There's a loneliness inside her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now,
It feels like cold blue ice in her heart
When all the colors mix together
It's grey, and it breaks her heart

There's a stranger speaks outside her door
Says take what you can from your dreams
Make them real as anything
It will take the work out of the courage
She says please
There's a crazy man creeping that's outside my door
I live on the corner of Grey Street
And the end of the world

Oh there's an emptiness insider her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now
It's more like cold blue ice in her heart
She feels like kicking out all the windows
And setting fire to this life
She could change everything about her
Using colors bold and bright
But all the colors mix together
To grey
And it breaks her heart...Oh and it breaks her heart
To grey, Yeah...


Uma das grandes joias desta banda fantástica.
Porque não, como melhor versão a do concerto de Lisboa editado em Cd?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Se sou ...verbo ou substanticia

Se desmorono, sou edifício
Se rasgo, sou livro
Se rebento, sou mar
Se sofro, sou Blues

Se conto, sou denuncia
Se acrescento, sou prosa
Se verso, sou lírico
Se detalhe, sou Eça

Se jogo, sou vicio
Se alcanço, sou grito
Se caio, sou ar
Se pranto, sou!

Sou país, se Africano
Sou sopro, se balão
Sou riso, se criança
Sou bandeira, se real

Sou jazz, se Americano
Sou mulher, se cometa
Sou mar, se Sophia
Sou misticismo, se perdão

Sou capitão, se Neruda
Sou margem, se rio
Sou velho, se Francisco
Sou ausente, se cego.

Se exagero, sou Cazuza
Sou cuba, se fiel
Se noite, sou luz
Sou marginal, se fascinado

Sou verdade, se finjo
Se água, sou fogo
Sou animal, se primata
Se duvida, sou pragmático

Se pátria, sou língua
Se concreto, sou ambíguo
Sou homem, se poeta
E sou Cecília, se Meireles...


Rodrigo Camelo
14 de Julho de 2009

segunda-feira, 13 de julho de 2009

José Mário Branco - FMI

Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!


FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI

Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição.

FMI - II parte precisa-se urgentemente. Quem sabe um tal de JP Simões esteja altura do desafio... Não vejo mais ninguém que não ele.

domingo, 12 de julho de 2009

Dave Matthews Band - Seven


Saíu maravilhosa ontem...


Baby when I think about you
All I want to do
Be by your side
Take a little ride
Take a little
Baby you know I’m all about you
And all I want to do
Is take a little ride
Maybe get inside
Maybe get in

Mama told me boy
Someday that girls gonna take your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you

Mama told me boy
Someday that girls gonna steal your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you

Sour as my fingers
Dirty pick pocket
I can still taste you
I won’t wash my hands
Red is the color
Of the sun with my eyes closed
I can still taste you
And I will again

Woman please I be your possession
You are my obsession
Let me go down
Down, down, down, down, down, down, down

Down little place it digs to go
Down little place it digs to go
Down little place it digs to go
Down little place it digs to go

Mama told me boy
Someday that girls gonna steal your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you

Woman please I be your possession
You are my obsession
Let me go down
Down, down, down, down, down, down, down

Dave Matthews Band

A propósito do concerto de ontem. Como que em jeito de homenagem...vou colocar tudo o que já escrevi sobre a banda que ontem, apesar de não ter existido a magia de 2007, foi, mais uma vez irrepreensível no seu habitat natural – O Palco.

em Fevereiro Escrevi:

Prólogo Inicial: Já ouvi, não sei bem onde, que a verdadeira música é que nos escolhe e não o contrário.

E invariavelmente quando sou “apanhado” desprevenido por uma música como a que vos apresento neste post, penso forçosamente nesta “regra”.

Existem várias maneiras de olhar para a Dave Matthews Band, mas os que como eu, se encontrarão no grupo dos que acham que eles deram de certa forma continuidade ao legado deixado pela E-Street Band e Bruce Springsteen, e que no panorama actual desta indústria musical teremos muito poucos exemplos de bandas no velho sentido do termo, mas que a DMB se encarregou de reviver e até criar algo novo; poderão estar em sintonia comigo na seguinte observação: Não basta ouvir uma música da Dave Matthews Band, é necessário ouvir a versão “certa”, talvez aquela em que a música se tenha revelado por inteiro.

Quando Dave, Carter, Tinsley, Stefan e (tragicamente o já falecido) Leroi se reuniam em palco, a circunstancia poderia ditar o surgimento de algo único.
Se não vejamos, até os concertos mais emblemáticos da DMB, pelo menos os editados em CD ou DVD, trazem sempre qualquer coisa de singular.
Em «Live in Chicago» somos maravilhados com uma pérola chamada “The Maker”; «Listener Supported» o melodramático “Long Black Veil”; «At the Gorge» uma cintilante versão da música “Loving Wings” a melhor que alguma vez ouvi; e, porque não - no inicial «Live at Red Rocks” que parecia anunciar a originalidade que a DMB viria apresentar ao vivo, na própria escolha dos locais para concertos, como na relação com o seu publico, uma auspiciosa nova forma de olhar para “Proudest Monkey”.

I Acto
São duas da manhã e sem sono vou buscar à mesa-de-cabeceira o meu MP3, que havia sido preenchido nessa tarde com álbuns novos da DMB ao vivo, ainda por descobrir (…)
E quando jurava estar capaz de adormecer, eis que surge:
(…) Sonho ou realidade ?

O som do público anuncia a aproximação de Dave Matthews ao Microfone, e, com um simples: Let´s take a little Breath…Já ao som da sua guitarra acústica. E entre acordes que parecem anunciar a canção, ouve-se da audiência completamente eufórica um: I Love you Tim (Reynolds naturalmente), um outro parecendo já desafiado por um qualquer companheiro de viagem: “I love you Dave”, ao que uma fã remata a questão, “três tons” acima de qualquer rival “I Love you Allllll”. E às primeiras palavras tudo ganha uma nova expressão quando Stefan anuncia a voz de Dave com a simples fórmula de seu baixo. Na sua voz rouca e seca do início, denotamos um sofrimento mais característico do Blues. Nunca vi tanto Cash em Dave.

Agora e mais desperto do que um touro antes de "galgar" para a arena, interrogo-me mas que musica é esta???

Do canal esquerdo dos auriculares já oiço o dedilhar do violino de Boyd (aliás como gosto mais de o ouvir), como se de um cavaquinho se tratasse. Tim e Carter parecem juntar à batida uma continuidade de Ravel, de instrumento a instrumento, a musica vai ganhando forma, e,
Como estes senhores sabem explorar este território musical.

Todos os sopros, ruídos e tossires são som ao microfone, como detalhes “musicais” para acrescentar uma emoção ao espectador.
Tim Reynolds um monstro na guitarra, brincando com harmónicos e amplificando o volume bem ao estilo de um Jeff Beck, que aliás atrevo-me a dizer, deve ser a sua principal referencia na guitarra.

Muitas bandas continuam a tentar fazer melhor. Tantas vezes copiado o seu estilo, mas nunca igualado. Isto é expressão de como uma música é trabalhada como um todo.
Estarei de novo acordado!
Pois… acho que vou na sexta audição seguida.

Boa noite e até Julho. ;)

Por: Tiago Pereira da Silva

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Sugestão musical: Sara Bareilles - Vegas - Live at the Fillmore

O monólogo de: A última Hora (Spike Lee)




Transcrição em português. Perdoem-me se existirem alguns erros na tradução.
Mas dei-me ao trabalho de traduzir. lol

Vai-te foder tu, toda esta cidade e todos os que vivem nela.
Fodam-se os ambulantes vendendo comida e a pedir dinheiro,
e rindo de mim pelas costas.
Fodam-se os lavadores de vidros de carros
Sujando o pára-brisas – limpo do meu carro.
Arranjem um maldito trabalho.
Fodam-se os Sikhs e os paquistaneses que
voam pelas avenidas com os seus táxis fodidos,
com caril exalando pelos poros, empestando todo o meu dia
terroristas em treino. Parem com essa merda!
Fodam-se os Chelsea Boys.
Com os seus peitos encerados e os seus bicipes bombeados
Indo por aí fora em direcção aos meus parques e aos meus cais
Mostrando os seus paus no canal 35!
Fodam-se os donos das mercearias coreanas
Com as suas pirâmides de fruta caríssimas
E as sua tulipas e rosas embrulhadas em plástico.
Dez anos neste país e ainda não sabem falar inglês.
Fodam-se os russos de Brighton Beach.
Mafiosos sentados nos cafés, a beber chá com óculos escuros
Com cubos de açúcar no meio dos dentes,
Andando, negociando e planeando.
Voltem para a vossa maldita terra.
Fodam-se os Hasidim e os seus chapéus pretos
a subir e a descer pela rua 47 th
nas sua gabardinas sujas com caspa deles,
vendendo diamantes sul-africanos frutos do apartheid.
Foda-se o pessoal de waal street.
Pretensiosos e mestres do universo.
Armados em filhos da puta Michael Douglas-gordon gekko
Imaginando maneiras de roubar trabalhadores inocentes
Completamente “Cegos”.
Mandem esses desgraçados da Enron para a cadeia
Para toda a vida.
Pensam que o Bush e o Cheney não sabiam nada dessa merda?
Não me façam rir.
Fodam-se os porto-riquenhos.
Vinte paus por cada carro, enchendo a lista do serviço social.
A pior parada desta cidade.
E não me deixem começar a falar dos dominicanos,
Porque fazemos porto-riquenhos parecerem bons.
Fodam-se os italianos de Bensonhurst com os seus cabelos
De palmeira e os seus sobretudos de nylon, os seus medalhões do santo.
Balançando os tacos de baseibol do da época que o Jason
Estava a tentar as audições para os “Sopranos”
Fodam-se as viúvas do Upper East Side com os seus lenços
E as suas cicatrizes Balducci de 50 dólares.
As sua caras gordas sendo puxadas, esticadas e levantadas para ficarem firmes e brilhantes.
Tu não enganas ninguém, queridinha.
Fodam-se os irmãos Uptown.
Eles nunca passam a bola, eles não querem defender,
Eles dão sempre 5 passos de cada vez que vão fazer um
Layup e depois querem dar a volta e por toda a culpa nos brancos.
A escravidão acabou há 137 anos. Sigam em frente.
Fodam-se os polícias corruptos e a sua mania dos 41 tiros.
Escondendo-se atrás do muro azul do silêncio.
Vocês traíram a nossa confiança.
Fodam-se os padres que colocam as suas mãos nas calças de
Crianças inocentes. Fodam-se as igrejas que os protegem,
entregando-nos ao diabo. E já que estamos nesta, foda-se o
J.C. Ele livrou-se facilmente …
Um dia na cruz, uma semana no inferno, e todas as aleluias de
Uma legião de anjos pela eternidade.
Tenta ficar 7 anos na maldita Otisville, J.
Foda-se o Osama Bin Laden, Al Qaeda, e os desgraçados
Dos que cavam as cavernas – idiotas fundamentalistas
de todo o mundo.
Em nome de milhares de inocentes assassinados,
Eu rezo paraque passem o resto da vossa eternidade
com as vossas armas de merda arder no inferno
com o fogo da gasolina dos “aviões”.
(…)

A Última Hora


Por: Tiago Pereira da Silva


Ontem revi aquele que é para mim o verdadeiro filme sobre o pós 11 de Setembro.

O ano de 2002 foi o ano do lançamento do filme A última hora (tradução portuguesa) que, ao que me recordo, foi venerado pela maioria dos críticos. Devo dizer, desta vez, que: não poderia estar mais de acordo!
O filme é uma lição de cinema a todos níveis, sem desprezo pelas fórmulas clássicas e modernas. Mas não é só isso que importa referir aqui. O equilíbrio narrativo do mesmo, sustentado pela figura central Edward Norton (no seu melhor) que é de uma leveza e ao mesmo tempo de uma força que, em meu entender, faz este filme ter uma espessura e uma fórmula mágica. Norton é Monty Brogan que vive as 24 horas que precedem a sua recolha a uma penitenciária, onde irá cumprir sete anos de prisão por tráfico de droga.

A encenação e composição de Spike Lee são ao nível de obras como (Summer of Sam) – portanto magistrais. O ritmo narrativo é perfeitamente conseguido para transmitir a ideia de que o ser humano é prisioneiro do tempo. E nesta obra, as horas e os minutos são geridos com mestria a “conta-gotas”.
Norton é a figura central, gere a sua personagem com uma interpretação irrepreensível, de certa forma angustiada mas sobretudo revoltada e muitas vezes desesperada. A consistência da sua interpretação é aliada à força de um elenco secundário de luxo, com nomes tão importantes como: Philip Seymour Hoffman, Barry Pepper, Rosario Dawson, Anna Paquin, etc. Mas vamos esquecer os nomes, pois existe em cada um deles um desespero contido mas visível, e em crescendo – eles são as personagens. Não representam, vivem a dor e o medo.

O que me fez escrever sobre A última hora foi não só o facto de o ter revisto, mas a invocação do brilhantismo, da cena da casa de banho. Monty que se encontrava na casa de banho do bar de seu pai, depara-se com algo escrito no canto inferior direito – a expressão Fuck You. A partir daí são 5 ou 6 minutos de pura magia cinematográfica, que vale a pena recordar.
Talvez uma das melhores cenas que vi num filme nesta década.
A sua personagem “leva-nos”, através de um monólogo, ao multifacetado e multi-complexo mundo étnico e cultural da sociedade nova-iorquina. A revolta de Monty por tudo o que lhe está acontecer e a gestão do seu sofrimento e revolta, terminam (ou começam) com uma complexa conversa consigo mesmo frente ao espelho. Fuck this city, and every one in it. A auto-paródia resultante de uma figura que fala consigo própria, como se fosse um anjo vs diabo, a culpar toda a cidade, etnias, credos e grupos sociais que se encontram nas ruas de Nova Iorque pela sua própria miséria.
Edward recita uma espécie de um rap em crescendo, como que falado – a ambígua e paradoxal visão do “estrangeiro em nossa casa”.


A fórmula soberba com que Spike Lee nos vai revelando a suposta “origem do mal” enquadrando a revolta da personagem com aquilo que seria o espelho social e o pensamento colectivo da Nova-Iorque do pós 11 de Setembro, aliada à auto-ironia do espelho como símbolo metafórico, fazem desta cena um ícone cinematográfico de tão simples e complexa que é.

E mais não digo. Vejam!

Youtube: Edward Norton fuck YOU!