quinta-feira, 11 de outubro de 2007
João Bosco - Linha de Passe (1979)
Por: Tiago Pereira da Silva
Numa das últimas entrevistas a Elis Regina, já nos anos 80, podíamos ouvi-la dizer, depois de perguntado (versão - questionário rápido) por Marília Gabriela: Um compositor? - João Bosco.
E é tanto mais importante falar de Elis, quando sabemos, que são pouquíssimos os discos, em que ela homenageou e dedicou integralmente a um compositor, excepção feita, talvez, de António Carlos Jobim, no célebre “Elis & Tom” de 1974. Elis fê-lo, com João Bosco.
1979, foi o ano do lançamento de “Linha de Passe” de João Bosco. Um disco que acima de tudo, confirma João como um dos mais originais, composositores-cantores da história da MPB. Elis “roubou” logo dois temas. Este fascínio da cantora por Bosco, percebe-se a até, no uso de sua linguagem musical. Outrora, tinha amado Gil e Milton, até Caetano, mas tenho para mim que, perdeu-se de amores, pelo génio criativo de João Bosco. O “Bêbado e Equilibrista”, um monumento-hino ao som singular, infectadíssimo por João. “Linha de Passe” deixa, ainda hoje, qualquer plateia ao rubro. “Cobra Criada”, felizmente, regravada por Elis na emblemática abertura do concerto de Montreux, é um bom exemplo, da sua misteriosa consideração temática, no seu processo de criação musical.
Toda a sonoridade do álbum, vastamente superior a tudo, o que outros imitadores de João Bosco, sempre tentaram fazer, consagra ainda mais, músicos participantes, do calibre de João Donato – Piano; Luizão Maia – Baixista de Elis Regina; Wilson das Neves – baterista roubado, posteriormente, por Chico Buarque, entre outros.
Ainda hoje, deliro a ouvir, a interessantíssima brincadeira chamada “Boca de Sapo”. Essa, história maluca de um sapo chamado Honorato, que nem Elis Regina, se atreveu a regravar.
Este sim, é o branco mais negro do Brasil… ou será, o negro mais branco do Brasil? Fica à consideração do leitor.
PS - Não se percebe, como tanta qualidade, possa ser sempre, ignorada. Nunca ouvi uma música de João Bosco, na rádio. Fica o registo.
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2 comentários:
De pasmar mesmo é a indiferença do brasileiro a esse álbum! O melhor disco já lançado no Brasil (o melhor disco que já ouvi)!
João Bosco surpreende em tudo, e Elis tinha razão em dizer que ele é o cara! A faixa-título, "Conto de Fada", "Sudoeste", "Parati", "O Bêbado e a Equilibrista", "Boca de Sapo", "Cobra Criada", "Ai, Aydeé" são pérolas da MPB e do Samba, algumas lembradas, outras plenamente esquecidas! "Linha de Passe" é um dos discos mais injustiçados pela desatenção da plateia musical brasileira (que hoje em dia não distinguir o canto de um sabiá do zurrar de um jumento, infelizmente pras novas gerações)!
Eu pergunto até ao amigo blogueiro: como pode João Bosco de Freitas Mucci, esse mineiro arretado, que pra mim é o maior músico brasileiro de todos os tempos, ficar atrás de João Bosco & Vinícius nas pesquisas do Google? É uma chatura ter que ver o nome dessa dupla de matutos bregas (que só sabem gritar com a voz tremendo, em vez de cantar de verdade) toda vez que acesso o nome do mineiro João Bosco que tanto adoramos!
E, sim, ele é o branco que mais sabe cantar o Mundo Negro! Em todos os álbuns dele sempre tem umas inspirações, em algumas músicas, em que João Bosco parece ser a encarnação de babalaôs, de passistas, ou de lutadores de movimentos pró-libertação dos negros!
O Bosco sabe fazer isso como ninguém! Aliás, ele é hors-concours em tudo que faz, pra sorte de quem, como eu, adora a autêntica MPB genuína!
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