quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O Pesaroso Sentido



Chego a este lugar medonho
Que de tão belo se faz outro.
Cai-me dentro dos olhos
Cega-me e atinge-te
Enfeitiça-nos apenas
E num abismo se faz noite.
Quem ousa enfrentar,
Essa mãe luz natureza?
E esse velho rio vigoroso?
Enterro a melhor parte
Do meu coração desejoso
Neste gracioso chão emprestado.
E colho por isso o dever
Da testemunha que permanece
Fiel e seguidora
Do pesaroso sentido.

Da copa das árvores
Vejo o que não atinjo
Aventuro-me de ramo em ramo
De Lima em lima, te pego.
Que a dor que trago comigo
Prove da beleza que enxergo
Estou de olhar-ouvido atónito
Mas não acordo essa árvore.
Inventem-me um outro sentido!
Preciso de vir preparado
Que seja lúcido também.
Inventem-me outro dia,
Pois não estou programado
Da Lúcia musa serpente,
Sabe ao que vim, detalhado.


Está tão perto de mim
O que ao longe avisto
É Perfeita e bela,
Toda a lógica dela
Como a confusão
Verde que encontro.
E belo é, também, o caos, pois
Não há quem suporte o calmo,
Que do seu mundo monótono
Não nos oferece a alma.
As feras multiplicam-se de dia,
Mas devoram-se mais à noite.
É tão previsível essa tua
Impiedosa essência.
Tua marca tão duradoura,
Teu desprezo por nós, revoltante
Mas eternamente necessário.
Ela não cresce
Apenas acontece
Livre e sã, deliberada.
Enquanto recupero da dose,
Mais que da tua altiva pose
Os meus inimigos alimentam-te
E dão-me da eterna miséria.
Todos estamos reunidos
Ao teu redor numa língua certa
Por onde circula o ar e
Esses micos a navegar.
Pé ante pé, suspensos na vida.
A serpente reaparece nua
Senhora do reino
A única que mata e
Não deixa rasto.
Que animal é tão perfeito?
Nenhum outro
Se conhece assim,
Nem o pesaroso sentido.

Amazónia

Rodrigo Camelo

1 comentário:

Anónimo disse...

eh portuga!
sempre carregando algo brasileiro em seu peito!!!
lindas palavras
bjokas