sábado, 21 de abril de 2007

A Favela que vive dentro de mim. A melhor porção que trago em mim...agora!


Por: Tiago Pereira da Silva

(I Parte)

Prólogo Inicial: Eu queria morar numa favela (…)
(Gabriel o Pensador)

A primeira vez que vi uma favela de perto foi em 1999, no Rio de Janeiro, a estadia ia ser curta e a nossa guia dentro de um ónibus falou: Olhem aí para a vossa direita!
Foi então que nos deparámos com um enorme morro iluminado como um âmbar. Exactamente como na canção de Adriana. O fascínio foi imediato. Aos meus olhos ingenuamente “atentos” aquilo pareceu-me sedutor. Fiquei como uma criança que olha para uma árvore de natal pela primeira vez.
Mas como é que um sítio com tamanha pobreza e desigualdade social me poderia parecer tão familiar e tão encantador? É… perdi-me em sinónimos.
A sua origem…
Favela, nome curioso, atribuído regiões urbanas de baixa qualidade que no Rio de Janeiro se encontram em cima de morros (montanhas), a anarquia reina no tipo de construção e o amontoado de casas e barracas dão normalmente um aspecto labiríntico, quando nos encontramos dentro de uma. Reza a história que a origem do nome remete-nos para a famosa Guerra dos Canudos. A cidadela de Canudos foi construída em alguns morros, como o morro da favela, assim chamado por estar coberto de uma planta designada, exactamente, de favela. De certa forma, a originalidade de sua “arquitectura” tem que ver com uma marca típica do mais profundo do ser do Brasil. A sua marca extremamente singular e criativa – capacidade de adaptação ao adverso. Para alguns certamente, os brasileiros carregam nos seus genes o eloquente traço trazido das origens e do nascimento da América portuguesa. Numa fusão de sentidos, a mestiçagem completa entre índios, portugueses, africanos, já para não falar de todos os outros que foram lá parar depois, e aí a lista seria “interminável”…asiáticos, europeus, desde espanhóis a italianos, sem esquecer holandeses e ingleses, bem como alemães.

A Cidade onde Deus e o Diabo se Sentam à mesma mesa.
Um remoinho de emoções varreu meu mundo…
O Rio causou-me um impacto tão grande que ainda hoje vivo sobre o seu efeito.
Nenhum outro lugar do mundo é capaz de deslumbrar tanto e ao mesmo tempo desiludir da forma mais profunda. Tão bem descrito pelo saudoso cineasta brasileiro Glauber Rocha: A cidade onde Deus e o Diabo se sentam à mesma mesa. Talvez inspirado no título do seu famoso filme da década de 1960 – Deus e o Diabo na Terra do Sol.
Diversas vezes somos iludidos pelos média, e, nesta matéria, a informação não só é manipulada como tem o intuito de provocar uma alteração duradoira e, de desconfiança perante uma realidade, que de todo nos é ocultada e que portanto, desconhecemos. A impressão primária e mais comum de qualquer europeu sobre as favelas do Rio é exactamente aquela que aprendemos a ouvir e que, estou em crer, nos habituámos a não questionar de cada vez que ligamos aquela caixinha “mágica” chamada televisão: Um sítio “medonho e cheio de violência”. Bom, no que diz respeito à possível beleza de uma favela, não quero entrar em polémicas, pois bem sei que nem todos se reverão no meu conceito. Mas chamo a atenção para o seguinte, apesar de ser considerável o numero de urbanizações pobres (chamadas favelas) numa cidade como o Rio, cerca de 748 (numero assustador) também importa esclarecer que, a percentagem de criminosos numa favela como a Rocinha (a maior do Brasil) - 2 a 3% segundo dados da prefeitura do Rio e entidades não governamentais que fazem trabalho social nas favelas por esse Brasil fora. A dez pessoas a quem fiz essa pergunta (percentagem de criminosos/traficantes de uma favela), nem uma única respondeu-me valores abaixo dos 50%. Curioso não é?
Só para que se tenha uma ideia dessa manipulação da imprensa. Quando se faz uma visita Guiada a uma favela (Favela Tour) a primeira coisa que nos é dita, não mais pude esquecer: Esqueçam quase tudo o que já ouviram dizer de uma favela pela televisão. Ou se quiserem, ainda ontem ouvi, uma vez mais, referirem-se à Rocinha como a maior Favela da América Latina, quando em Caracas (Venezuela) existe uma favela chamada Petare que é 3 vezes maior do que a Rocinha, e muito mais violenta. No Rio a maior parte dessas urbanizações como a Rocinha, Vidigal, Jacaré, da Maré, Cidade de Deus, têm entre 150 a 200 mil habitantes. Segundo alguns resultados dos censos a favela Pétare tem cerca de 1 milhão de habitantes.
Pouco há a dizer sobre isto. Vamos despertar a nossa realidade e façamos de conta que ás vezes nos lembramos que existem lugares destes no mundo.


Continua...

1 comentário:

flávia disse...

Bela citação de Glauber. como brasileira não tenho tanto apreço pela favela, afinal, como disse, não há como confiar no que a mídia diz. e o que ela diz é horrendo. mas ainda assim não é nenhum mar de rosas.nem perto disso. é uma guera civil o que temos por aqui. infelizmente.
Linda foto, tiga!