terça-feira, 29 de abril de 2008
Chan Marshall "Cat Power" - O tempo dela...
Prólogo Inicial: Antes de ler esta crítica, faça-me um favor, aliás faça a "si próprio" um grande favor! Vá ao Youtube e escreva: Cat Power - Crazy (gnarls Barkley) e/oou: Cat Power - Lived in Bars ao vivo no programa de Jools Holland.
Parafraseando Johnny Cash: “Numa era de música pré-fabricada existe um artista capaz de deliciar os fãs in a old fashion way”. Estas palavras de Cash, sobre Dave Matthews, ganham um significado diferente quando recordadas depois da sua morte. Em parte, a morte de Cash simbolizou a morte, de uma considerável forma de fazer música. É quase como se Cash representasse um dos últimos anti-ícones, anti-classificações do planeta musical. Assim como Dylan ainda representa. E num outro plano Keith Richards. Que manteve sempre a preocupação de não deixar rumar os Stones, excessivamente, para uma overdose de concertos megalómanos, concentrados apenas no lucro e propaganda, esquecendo, quase, a razão pela qual os Stones começaram a fazer música, mais de 40 anos atrás. Coisa que, sejamos justos, Mick Jagger esqueceu desde a década de 70.
É por isso e muitas outras razões, que nos tempos que correm, resisto cada vez mais à quantidade de propaganda que envolve um músico ou uma banda. Não que o sucesso me incomode. Mas sim, aquelas bandas em que se vê à distância, que deixam dirigir-se pela razão ou pela tal consequência do resultado. Vê se muito pouco coração em artistas no panorama fonográfico em geral. E nisso não poderia estar mais de acordo com Rodrigo Amarante de “Los Hermanos”. Mas como diria Sean Penn, não no sentido literalmente romântico (acrescento - Brega), mas fazer música com afecto, com entrega, alma. Arranje-se uma parafernalia de sinónimos que no fundo, não explicam aquilo, que se sente, não se escreve. Tudo isso é transmitido por um artista. Ou não o é, de forma definitiva e completa. Quase como numa lei do Tudo ou Nada. O impulso mesmo que não permanente e constante, segue por vias aferentes e eferentes e cria, normalmente, novos projectos musicais na minha pessoa. Esta é a melhor forma de descrever o meu encontro com a música de Chan Marshall. Conhecida no mundo como Cat Power. Eis uma cantora diferente. Há qualquer coisa de leve e que flutua na sua presença, muito embora o seu “Poder” seja incomensurável. Ambígua e misteriosa e eu me enamorei por completo do seu ser. Claro! Já sei o que estão a pensar… Epá a miúda é booaaaa .. boooaaa como diria o nosso RAP. Sinceramente, isso é o que menos importa!
É inegável que sua presença em palco é fortalecida pelo encanto físico de Chan, mas honestamente como uma voz daquelas, quem daria importância a um acrescento aqui ou ali de formas. Eu diria mesmo e muito simplesmente, que por um acaso feliz, Chan Marshall corresponde exactamente ao modelo da nova indústria musical. Por outro, a negação completa de tudo o que se faz hoje em dia. Cat Power é uma mulher bonita, inteligente e tem 36 anos. As duas últimas, já seriam razões mais do que suficientes, para “exclui-la” dos preceitos de grandes produtoras/gravadoras da indústria Fonográfica. As artistas, hoje, querem-se novas, bonitas e tanto quanto possível, vamos dizer, acríticas. Por isso Cat Power não passa na rádio, não se vê na televisão e ao mesmo tempo cultiva uma enorme legião de fãs, e um reconhecido encanto no mundo dos críticos. Bem sei que não é uma artista recente. O seu inicio já conta quase com 15 anos. Mas de certa forma Cat Power de “JukeBox” de 2008 ou de “The Greateast” de 2006 é uma artista diferente. Como já o foi em “Covers” e “You are Free” - este último uma preciosidade. Mas falamos, naturalmente, de uma artista que em tempo recente nos dirige, para um malogrado lugar. Aquele em que percebemos que são poucos muito poucos, os casos daqueles, que resistem ao furacão da Industria. Claro que alivia sempre, fazer as contas no final e perceber que quase nenhum resiste à passagem do tempo. Cat Power resistiu. E ainda tem o dom, uns anos depois, de aparecer mais jovem e renovada. Brindemos todos, no dia 26 de Maio.
domingo, 27 de abril de 2008
Cat Power - "Paths of Victory"
Ouvir a versão de “Cat Power” do tema de Bob Dylan – “Paths of Victory” é perceber, como é que um artista se pode apropriar completamente de uma canção. Rouba-la, bebe-la, suga-la, etc. A canção de Dylan é fenomenal, transmite-nos (na versão dele) a força que vem da vontade. Na de Cat Power, a vontade que vem dessa força. Ao mesmo tempo, esta formidável Australiana revela aspectos particularmente melancólicos por detrás de uma mesma nota de piano, aqui a uma cadencia melancólica, cuja a voz de “Cat” preenche um imaginário de tristeza que vem, não sabemos exactamente de onde. O carácter mais depressivo desta nova versão, bem da natureza de uma “velha” «Cat», faz deste “Paths of Victory” uma nova canção. Dylan agradece!
sábado, 26 de abril de 2008
The Rolling Stones - "Some Girls" in Shine a Light
No novo filme de Martin Scorsese é quase impossível não reparar na versão da já longínqua "Some Girls". Mas o que são 30 anos na carreira dos Rolling Stones?
Nesta versão podemos perceber porque é que muitas bandas tentaram imitar o som dos "Stones", mas nunca sequer se aproximaram. Das 3098765493 delas. A combinação das Guitarras de Keith and Ronnie é maravilhosa. Eu apesar de ser um fã incondicional dos Stones na era imaginativa de Brian Jones e do poder estético da beleza do blues de Mick Taylor, Ronnie Wood é sem dúvida um dos guitar hero(s) a ser respeitado. A batida de Charlie Watts com o prato a descansar sempre na batida da tarola, é única no reino dos bateristas. Palavras para quê??
terça-feira, 22 de abril de 2008
Porto Alegre ( Nos Braços de Calipso ) - Adriana Calcanhotto
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Paisagem Intelectual
Aumenta a chances de prosopopeia
Abrindo a porta dessa árvore deslumbrante!
Uma porta com um terceiro elemento
Que não a entrada, que não a saída;
Com todos os bichos por dentro.
No primor da tua linguagem,
Emerge um povo diferente na técnica;
Que tem na étnica, a sua imaginação sagrada.
Um povo imenso de constrangimentos geográficos,
Mas iluminado do sábio velho, meu camarada.
Vejo-te, orgânica e emocional
Nessa graciosa aliteração em s,
Sob um sol de seiva de um sobreiro
E uma longa e abstracta abstracção.
É que a tua gente resume tudo num viveiro
Onde a música agarrou meu viver
Dentro de um livro sem autor de base
E uma longa bíblia sem criação.
Em memória de todos aqueles cujo génio,
Foi queimado, nos cálices nobres da inquisição.
Fomos salvos, apenas, pela musa da palavra.
Sim, a que casou no mar novo - nasceu Sophia!
Porque o mar inteiro que nos rodeia
É todo dela na exactidão e na promessa;
Que me levou e dilacerou a veia.
A única onde corre meu sangue atento
Ao ritmo são, das máquinas sem rosto,
Que atiçam o medo, na verdade do que pintam.
A carme denunciou “abutres” enquanto,
Outros fingem que não vêem e fintam
Esse povo amargurado e cinzento
“Nocturno da Graça” na graça do medo.
Nisso sempre quiseram insistir!
Mas é onde sei, que a força dela, convoca
Todos os elementos e adoça o nosso persistir.
Sophia, não é “só” mais uma da fonte!
É a própria origem.
É a que fez um povo inteiro desnascer,
Enraizando o seu perfume na língua;
Com um novo começo, com um deus nascer.
Tiago Pereira da Silva
domingo, 20 de abril de 2008
Proibido Proibir ( * * * * *) - Uma obra-prima
Por: Tiago Pereira da Silva
Se eu tivesse que sugerir a uma pessoa, que só por uma vez pudesse assistir a um filme na sua vida, esta seria certamente, uma escolha acertada. Uma obra-prima absoluta.
O filme é de uma desarmonia contagiante, na demonstração das relações afectivas num grupo de três amigos. Mostra o ser humano como ele é.
Um Rio de Janeiro cruelmente verdadeiro, muito longe do cartão postal e que hoje se tornou um chavão para os cineastas brasileiros. Mas Jorge Durán consegue esse resultado, como nenhum outro realizador havia conseguido. Talvez nem mesmo Fernando Meirelles. A perspectiva é outra mesmo. A de uma cidade quase fantasma da sua beleza. Em que o encontro e desencontro das personagens, como na sua arquitectura, transmite o pulso e a luz da gente do subúrbio.
A “Trilha Sonora” é de outra galáxia. A liberdade estética da sua escolha, no cruzamento perfeito de imagem e som, possibilitam uma cena como a de Maria Flor “fotografando” a arquitectura da paisagem, numa das mais comoventes e eruditas cenas que vi num filme Sul-Americano em muitos anos.
Caio Blat a par de Wagner Moura e Lázaro Ramos é certamente um dos senhores que se segue, no que diz respeito ao panorama cinematográfico Brasileiro. Um rombo de representação.
Um daqueles filmes que cinco estrelas não chegam.
É Proibido perdê-lo.
sábado, 19 de abril de 2008
Aquele Preto que Você Gosta no Coliseu
Gilberto Gil no Coliseu
Por: Tiago Pereira da Silva
Na noite em que o Coliseu “recebeu” o inebriante Gilberto Gil, fiquei com a certeza de gostar particularmente daqueles espectáculos musicais, que vão muito além da formalidade artística esperada. Que se vão transformando, ao longo do mesmo, numa espécie de aula musical, no melhor sentido do termo.
E ironia das ironias, dada na 1ª pessoa, por um ministro da cultura de um país que muitos teimam em ter, como 3º mundo. Digo Ironia por duas razões. E a primeira confunde-se com a segunda. É que poderia sempre soar a presunção, ou ter tiques de pseudo-burguês, exactamente pela inegável representação do cargo.
Isso tudo é impossível quando falamos de Gilberto Gil.
E é tão natural em Gil essa forma constante de comunicar com o público, que até nos esquecemos que é o ministro da cultura em exercício.
Um Coliseu com bancadas meio destapadas esperou ansiosamente pela chegada de um dos pais do Tropicalismo. E como vão longe esses tempos e como nunca o deixou de ser. Mas nem assim o público defraudou um Gilberto Gil intimista e revelador em palco.
Como começa toda a génese musical da sua obra, com uma simples voz e guitarra (violão), é exactamente como enxergamos o seu génio, sua densidade poética e seu canto “envelhecido” e sem o fulgor de outros tempos, mas, incrivelmente sintonizado.
O concerto começou com “Máquina de Ritmo” uma composição recente de Gil, que por sinal feita no Algarve.
Começava então, a aula de Samba-Canção e de todos os seus «afluentes». Um dos grandes temas da noite, numa versão repetição, extraordinariamente Bossa-nova. Seguiu-se um dos temas mais belos de toda a carreira de Gilberto Gil – “Esotérico”, aqui num registo acústico de violão a solo com a voz, só ao nível do encontrado no álbum “Acústico”. Aquele assovio (como se diz na variedade dialectal do Brasil, agora talvez sem C) tem mais originalidade, do que a carreira inteira de muitas bandas que para aí andam em muitos tops musicais do mundo. Pois eu sei(…) que vou ser espancado por esta ousadia… mas não retiro uma vírgula do que escrevi.
Mas voltando ao alinhamento do concerto, de um inspirado Gilberto Gil; até tivemos tempo para uma incursão ao fantástico mundo dos “The Beatles” numa curiosa transformação em Bossa de “When I´m Sixty Four”.
Eu que normalmente consigo ser extremamente preconceituoso, relativamente a ouvir novas versões musicais do universo dos Fab-Four, muitas vezes até por consagrados do Jazz, fiquei deliciado. Aliás, acho até, pela assinalada singularidade de alguns músicos brasileiros, que algumas das melhores versões que conheço de musicas dos «Beatles» vêm quase sempre da América Portuguesa. Vejamos o álbum “Qualquer Coisa” de Caetano com três peças únicas, do melhor que ouvi até hoje; ou a mais recente incursão de Rita Lee.
Um conhecedor Coliseu dos Recreios (entre múltiplos Brasileiros e Portugueses misturados) reconheceu logo pelos acordes, um dos temas mais intimistas de toda a carreira de Gil. Aquela em que talvez pela primeira vez, um músico-compositor Brasileiro revela tão explicitamente a sua alma feminina e talvez até um pouco mais, numa fabulosa versão de “Super-homem a Canção” a sua assumida homenagem ao seu irmão Tropicalista – Caetano Veloso.
É um pouco angustiante e revoltoso verificar na maior parte das criticas a Gilberto Gil, uma referência qualquer ao seu mano “Caetano”, eu contra mim falo. Se é inegável que Caetano tenha talvez atingido um grau maior na concepção artística no panorama musical no Brasil, também não deixa de ser justo considerar Gilberto Gil como o mais original e versátil músico da sua geração no Brasil, onde só entram nomes como: Caetano, Chico, Milton, Bosco, Lobo, Ben-jor e só para citar alguns. O próprio Caetano saberá melhor do que ninguém, que como músico, estará a milhas de distância de Gilberto Gil.
Com o tema “Metáfora” entramos numa aula de Literatura Portuguesa. E que aula, caros leitores! É que uma das características mais interessantes na poesia de Gil, sim porque peço desculpa aos formalistas da sua expressão canónica, mas o que este senhor escreve é poesia. E se nunca atingiu uma densidade e profundidade como os seus contemporâneos Chico e Caetano, no entender de muitos críticos, também talvez não menos seja verdade que nenhum outro Letrista brasileiro, brincou com as potencialidades de cada palavra, quanto à sua aplicabilidade como gíria, como substantivo abstracto, como “acto da criação”, como fez por exemplo com a letra “Rebento”. Tornando-se para mim, uma das suas inegáveis marcas de estilo. E nestas múltiplas brincadeiras de “atingir a meta” ou “deitar fora”, como este senhor aproxima os jovens da sua língua. Haveria melhor tributo ao nosso maior património cultural?
“Chiquelete com Banana”, “Aquele Abraço” e “Expresso 222” e “Andar com Fé” embebidas na força do violão de Gil e já com a presença do músico Ben-Gil (seu filho) e até poderia não ser, porque o que importa avaliar aqui é a qualidade como instrumentista, e não tanto se está em palco por ser o “filhinho do papai”, compõe o lote de temas consagrados de Gil (vamos recorrer á horrível palavra: Clássico) para situar o leitor. Todas elas com as respectivas aulas de Samba e Baião. Houve tempo para os temas novos como: “Queixa do Tatami”; ou “Despedida de Solteiro” e “Faca e o Queijo” esta última evidencia uma outra particularidade de Gil, o seu inteligente recurso ao humor na escrita de suas canções. Um dos temas da noite não tanto pela letra, mas pelos harmónicos da guitarra de Ben e de Gil, foi a novíssima para o público “Rouxinol”.
Se o caro leitor quiser ter um “cheirinho” do que é Gil no seu melhor, como do muito que nós presenciamos na noite de quinta-feira. Vá ao Youtube e escreva simplesmente «Gilberto Gil 1979» e aparecer-lhe-á um vídeo com “Aquele Abraço e Back in Bahia”, esta última um portento de versão, mas se ouvir atento as brincadeiras finais de Gil a concluir “Aquele Abraço” (também ela uma gíria carioca da época) fazendo da sua voz um instrumento, quase a fazer lembrar a cuíca…bem… aquilo é sem palavras!
Aquilo… ninguém faz como ele! Disse.
terça-feira, 15 de abril de 2008
A escolha do dia: A tua presença
A tua presença
Entra pelos sete buracos da minha cabeça
A tua presença
Pelos olhos, boca, narinas e orelhas
A tua presença
Paralisa meu momento em que tudo começa
A tua presença
Desintegra e atualiza a minha presença
A tua presença
Envolve meu tronco, meus braços e minhas pernas
A tua presença
É branca verde, vermelha azul e amarela
A tua presença
É negra, negra, negra
Negra, negra, negra
Negra, negra, negra
A tua presença
Transborda pelas portas e pelas janelas
A tua presença
Silencia os automóveis e as motocicletas
A tua presença
Se espalha no campo derrubando as cercas
A tua presença
É tudo que se come, tudo que se reza
A tua presença
Coagula o jorro da noite sangrenta
A tua presença é a coisa mais bonita em toda a natureza
A tua presença
Mantém sempre teso o arco da promessa
A tua presença
Morena, morena, morena
Morena, morena, morena
Morena
Caetano Veloso
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Gregório de Mattos - O poeta da Boca do Inferno
MORALIZA O POETA NOS
OCIDENTES DO SOL A INCONSTÂNCIA
DOS BENS DO MUNDO
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
domingo, 6 de abril de 2008
quinta-feira, 3 de abril de 2008
A song to Rodri!
Nomeiem alguém que seja expressão do meu inconsciente
Dessas, cujos ossos da face, parecem tornar tudo iminente
Como te chamas, ó cria que danças materna e nua?
E abraças as misérias dessa escrava, que creio - tua.
É que a intima palavra, empresta-se, na solidão que te descreve.
Empregas todos os esquemas e escondes-te no leite que espreme,
O cínico desejo. Eu oiço-te como o “Parvo” na ponte estreita
Dessa barca Giliana, entre as duas grandes verdades:
O Inferno de viver, ou o paraíso como possibilidade.
Como é afinal teu nome, que não cantas em vão ou frases feitas
E que é meu mar no rio da descoberta ou a margem mãe em que te deitas?
As linhas dessa folha não permitem, que eu absorva as emoções,
Ou a desordem que despejas, num diário novo de canções.
As palavras acumulam-se nessa folha, que insistes em mimar
De um qualquer texto, que não é mais que o teu fervilhar.
Essas linhas são o filtro, para as palavras que destilam no intuito,
De retirar todo o velho sofrimento, apenas com um plano fortuito.
Faz do cínico, um antónimo e deixa me voar na beldade
De um Inferno, sobreviver, ou o paraíso da vaidade.
Quem és tu afinal, que me fazes tanta falta?
Surges na luz altiva da noite, de um sonho que veio de Malta,
Ou daquelas, como uma tarde que tarda em se dar ?
Não, dizes tu! Venho da batalha entre - múltiplos medos a entrar.
Agora que te conheço, viajamos para o imenso vazio do mundo
Onde juntos enxergamos a luz, que suspeito bem lá no fundo
Vir toda de ti. E que fazem da minha solidão sedenta
O bem mais profundo, na epopeia da rota de colisão,
Entre dois mundos que não recebem, só dão.
E que se apropria e apropria da dor.
Ou na imensa barragem que canaliza meu suor no calor.
Provavelmente, como um mano Caetano que fez de Paloma
A sua propriedade. O seu mais que singelo cantar de broma.
Talvez até como, a “Guernica” se apropriou de Picasso
Ou de um Djavan cantando: “Faltando um Pedaço”.
Não vês que só desejo o teu ser, em dias bissextos!
Podes esperar uns anos e multiplicar pelo número de textos,
Que escrevo lembrando, que a beleza é a melhor coisa que existe,
E que sei do sítio, onde és de verdade e a tua alma nunca desiste.
Sítio com um inferno e um paraíso a conviver
Onde o apelo da selva, deixa a civilização a esmorecer.
Encontra-te também, no outro de mim que não dói
E vê - beleza, no espinho que se crava no corpo que mói.
Estou para sempre, no plasma desse teu corpo
Onde alimentei os mitos, como aquele que contempla um morto.
Ó meu Deus ateu de brancas nuvens, amplia o peso
E a pretensão, de um pastor, que se quer sempre preso
Ao desejo, de ver teu céu colidir, na bruma do meu inferno.
Tiago Pereira da Silva
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