sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Justin - Got to give it up, Part 1(Marvin Gaye) 1977 Motown Record


(...) he hit again with "Got to Give It Up", the seductive homegrown dance groove which became a successful oddity in the age of disco. Ironically, the song speaks to Marvin's shyness and obsessional fear of dancing.
In Marvin´s Biography

É curioso como tenho ligação com esta musica de Marvin Gaye. Já a tinha referenciado no meu Blog. O autor o multinstrumentista e um dos mais influentes músicos do séc. XX segundo a revista “Rolling Stone” dispensa qualquer tipo de apresentação. Alguém que só por uma vez escrevesse uma música como “what´s going on” já mereceria lugar de destaque, alguém que fez um álbum inteiro como “What´s going on” será para sempre lembrado, como o responsável por um dos discos mais importantes de todos os tempos.

Importa ouvir a versão de estúdio de Got to give it up, part1, importa também ouvir a muito bem conseguida versão do festival de Montreux de 1980…qualquer uma delas poderá encontrar no Youtube, mas volto a escrever sobre a musica, porque fiquei completamente atónito com a versão de Justin Timberlake. Confesso que estava munido de preconceito relativamente a qualquer coisa que fosse ouvir dele, mas esta versão (que também pode ser ouvida no Youtube) de homenagem a Marvin Gaye e provavelmente por ser tão colada ao espírito da mesma (e que é absolutamente exigida) – surpreendentemente resulta. Justin num falsete incrível (bem próxima da voz de Gaye), e poderá confirmar pela imagem, espanta até alguns membros da banda em palco.
Fez-me lembrar por exemplo o comentário de alguns ex-musicos de Sinatra quando se reuniram em estúdio para gravar com Robbie Williams uma versão da música: Mr. Bojangles, no final a banda toda levantou-se espontaneamente para um aplauso de 5 min.

I used to go out to parties and stand around
'Cause I was too nervous to really get down
But my body yearned to be free
I got up on the floor, boy
so somebody could choose me.

No more standin' up side the wall
I have got myself together, baby
And I'm havin' a ball

Long as you're grovin'
There's always a chance
Somebody watchin' might want to make romance

Move your body, ooo baby,
you dance all right
Get down and prove it,
feel all right

Move it up
Turn it down
Shake it down

(repeat and fade):
Keep on dancin'
Got to give it up

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Dave Matthews Band - Rapunzel



Ha, open wide
Oh so good I'll eat you
Take me for a ride
In your sweet delicious,
Perfect, little mouth
There upon I linger
You will have no doubt
That I do my best for you
I do, love...

Let's stop to get it going
Lost myself just thinking
'Bout the two of us
From each other drinking
Begin with the lips
Fingertips and kissing
Turn me inside out
I do my best for you

Up and down we go
From the top you push me
This is such a thrill
lost in love and dancing
Shake your tambourine
You blow my head open
Of one thing I'm sure
I do my best for you
I do...

For you I would crawl
Through the darkest dungeon
Climb a castle wall
If you're my Rapunzel
You let your hair down
Ride in through your window
Good, they locked the door
'Cause I do my best for you

I think the world of you
With all of my heart I do
This blood through my veins for you
You alone have all of me
From you my strength is full
To you I will be true

Too good to be real
The smell of something cooking
My soul you're to steal
Food of love we're filling
What you've given me
For it there's no measure
Of one thing I sure
That I give my best for you

I think the world of you
With all of my heart I do
This blood through my veins for you
You alone have all of me
From you my strength is full
To carry your burdens, too
I give my word to you

Locked up so tight
Good God you drive me crazy
But crazy is alright
With you looking at me
You make me feel high
Every single thing you do to me
Is like I'm drunk

Given me, given me the shivers

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Ante o frio,
faz com o coração
o contrário do que fazes com o corpo:
despe-o.
Quanto mais nu,
mais ele econtrará
o único agasalho possível
- um outro coração.


in "A Chuva Pasmada"
Mia Couto

Conselho do Avô

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Song to Rodri!

Nomeiem alguém que seja expressão do meu inconsciente
Dessas, cujos ossos da face, parecem tornar tudo iminente
Como te chamas, ó cria que danças materna e nua?
E abraças as misérias dessa escrava que creio - tua.
É que a intima palavra, empresta-se, na solidão que te descreve.
Empregas todos os esquemas e escondes-te no leite que espreme
O cínico desejo. Eu oiço-te como o “Parvo” na ponte estreita
Dessa Barca Giliana, entre as duas grandes verdades:
O Inferno de viver, ou, o paraíso como possibilidade.

Como é afinal teu nome, que não cantas em vão ou frases feitas?
E que é meu mar no rio da descoberta ou na margem mãe em que te deitas
As linhas dessa folha não permitem que eu absorva as emoções
Ou a desordem que despejas, num diário novo de canções.
As palavras acumulam-se nesse rol que insistes em mimar,
De um qualquer texto que não é mais que o teu fervilhar.
Essas linhas são o filtro, para as palavras que destilam no intuito
De retirar todo o velho sofrimento, apenas com um plano fortuito.
Faz do cínico, um antónimo e deixa me voar na beldade
De um Inferno, sobreviver, ou o paraíso da vaidade.

Quem és tu afinal que me fazes tanta falta?
Que surges na luz altiva da noite de um sonho que veio de Malta,
Ou daquelas, numa tarde que tarda em se dar
Não, dizes tu! Venho da batalha entre - múltiplos medos a entrar.
Agora que te conheço, viajamos para o imenso vazio do mundo
Onde juntos enxergamos a luz, que suspeito bem lá no fundo
Vir toda de ti. E que fazem da minha solidão sedenta
O bem mais profundo, na epopeia da rota de colisão,
Entre dois mundos que não recebem, só dão.

E que se apropria e apropria da dor.
Ou na imensa barragem que canaliza meu suor no calor.
Provavelmente, como um mano fez da canção - Paloma
Sua propriedade. O seu mais que singelo cantar de broma.
Talvez até como - a “Guernica” se apropriou de Picasso
Ou de um Djavan cantando: “Faltando um Pedaço”.
Não vês que só desejo o teu ser em dias bissextos!
Podes esperar uns anos e multiplicar pelo número de textos,
Que escrevo lembrando, que a tua beleza é a maior coisa que existe,
Que sei do sítio, onde és de verdade e tua alma nunca desiste.

Sítio com um inferno e um paraíso a conviver
Onde o apelo da selva deixa a civilização a esmorecer.
Encontra-te também no outro de mim que não dói
E vê - beleza, no espinho que se crava no corpo que mói.
Estou para sempre no plasma desse teu corpo
Onde alimentei os mitos, como aquele que contempla um morto.
Ó meu Deus ateu de brancas nuvens, amplia o peso
E a pretensão de um pastor, que se quer sempre preso
Ao desejo de ver teu céu colidir, na bruma que não tem preço.

Rodrigo Camelo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

À conversa com Eça...



Por: Tiago Pereira da Silva

A propósito do filme”Crime do Padre Amaro”- exibido há pouco tempo num dos nossos “sensacionais” canais, devo confessar que me arrepiei, para não variar, e, arrepio sempre que vejo o universo de Eça explorado desta maneira. Não querendo recorrer a nenhuma figura de estilo demasiado previsível lembrei-me muito, por exemplo e sem satirizar a um extremo, do Sketch dos Gato Fedorento - «Javardola». Parece um projecto feito às três pancadas, uma procura de receita através de uma fórmula miraculosa muito simples chamada Soraia Chaves. Á desculpem! Mamas da Soraia Chaves.
Não pensem que tenho algum tipo de implicação com o cinema português, tenho sim com este tipo de filmografia em Portugal, que mesmo recorrendo a um vastíssimo leque de personalidades do nosso cinema e televisão, entre consagrados e figuras mediáticas que se tornaram actores, não conseguimos nunca, observar uma narrativa sólida, uma direcção de actores credível, uma banda sonora interessante e valha nos deus, diálogos bem construídos. Em vez disso, temos mudanças súbitas de planos que começam com os eternos: foda-se!

A utilização de Soraia Chaves como fórmula para o sucesso comercial através da utilização da sua imensa telegenia, não prestigia nem o cinema português, nem a actriz, nem o publico, ainda para mais quando no caso de Soraia é ingrato o balanço da sua actuação, considerando que esta se revelou em Call Girl muito mais que uma simples redução a um conceito estético visual. É possível dizer-se que estamos na presença de uma potencial actriz. E digo potencial, porque actrizes – actrizes, são poucas e talvez percebamos quando olhamos e ouvimos um monólogo qualquer de uma tal de Beatriz Batarda, só para citar um exemplo, talvez a melhor da sua geração.

Mas desviei a atenção, do que me propunha partilhar com o caro leitor, neste À Conversa Com Eça. A minha estupefacção em algumas adaptações do universo literário de Eça de Queirós para o cinema, quer português quer estrangeiro, também são associadas a algumas agradáveis surpresas. Infelizmente em menor numero.

A Eça podemos dever, por exemplo, a nossa forma de escrever. Um homem que foi em quase tudo um visionário, dentro de um séc. XIX rico e complexo para a história da literatura escrita em português, e digo escrita em português porque estou a lembrar-me por exemplo do seu “rival” - Machado de Assis no Brasil.

A forma desprestigiante com que se adaptam determinadas obras de Eça para o cinema, deixam-me totalmente incrédulo. Por mais que sua ficção literária seja de um preciosismo e de um realismo muito característico, levando mesmo ao nascimento de uma nova corrente literária, não perceber cirurgicamente a exigência de um trabalho quase de dramaturgia numa adaptação de Eça ao cinema, por parte de um cineasta, é quase tão grave como ter a tentação de “pegar” na intriga/trama de uma historia de Eça e reduzia-la a um conceito telenovelesco.

Sejamos frontais e perdoem-me desde já a expressão, mas o homem era muito à frente para o seu tempo. E sem pegar na diferença de estilo que veio introduzir, olhemos por exemplo para a temática de algumas das suas obras mais reconhecidas do grande público. Escrever por exemplo em 1875 uma obra como “O Crime do Padre Amaro” ou o “Primo Basílio” creio que três anos depois, era um manifesto contra-corrente, uma critica à sociedade hipócrita reinante sobretudo na Aristocracia Lisboeta do séc. XIX. No ataque à instituição Igreja há mais actualidade em Eça, do que na maior parte dos escritores contemporâneos. Tal como é muito difícil encontrar alguém mais satirizante para este século do que o próprio poeta barroco Gregório de Matos.

A forma detalhada como Eça constrói a caracterização das suas personagens, sempre me anestesiou. Encontro por exemplo uma força claramente em confronto com a época e mesmo que não directa, nas mais importantes personagens femininas que criou. Quer em Os Maias através de Maria Monforte e Luísa de O Primo Basílio é abordada a questão do adultério feminino, uma vez mais de forma amplamente conseguida, uma vez que triunfam em cada narrativa, numa imensa ousadia de Eça considerando um dos assuntos tabus da época. A personagem Juliana de “o Primo Basílio” e a forma absolutamente irónica com que Eça a coloca a chantagear Luísa, confere-lhe uma das personagens mais interessantes e corajosas na obra de Eça.

Eça de Queirós estilhaçou, tal como já referi, a hipocrisia de determinados sectores da sociedade da época. Falou dos temas tabus, infidelidade feminina, agitou o modelo/instituição família, jogou até com relações incestuosas, criticou ferozmente a igreja católica, etc. Poucos autores ousaram mexer com tantos modelos sociais, descrever inacabavelmente o nosso mundo de fantasmas, ainda para mais com resultados tão felizes. Pensei até, que pena não ter visto Stanley Kubrick adaptar uma obra de Eça. De certa forma vejo uma forma na génese criativa e de pensar a complexidade das relações humanas, que é transversal aos dois autores.

Um bom exemplo de uma muito bem conseguida adaptação cinematográfica de uma historia de Eça de Queirós é a obra do cineasta Brasileiro Daniel Filho com “O Primo Basílio”. Reparem como houve também a preocupação de construir uma obra cinematográfica baseada no livro, mas profundamente adaptada ao universo da sociedade brasileira de meados do séc. XX. Criando pontes analógicas com a realidade da sociedade lisboeta do Séc. XIX.

Continua…

Sobre o filme. (O Primo Basilio) - Daniel Filho
Para este 2º romance de Eça, em que o romancista fazia o espelho da futilidade reinante na sociedade lisboeta do séc. XIX, atacando directamente a classe burguesa, Daniel Filho opta cuidadosa e inteligentemente por encaixar ou transferir a história para o Brasil do séc. XX, mais concretamente a cidade de São Paulo no ano de 1958. Vivia-se uma época áurea em alguns aspectos. Foi a época do arquitecto Óscar Niemeyer, responsável pela projecção e desenvolvimento de uma nova capital chamada Brasília. Daniel Filho é atento à transversalidade e versatilidade do romance de Eça, e, faz desta adaptação uma das mais bem conseguidas que vi no cinema, em anos. De facto, o filme está embebido de uma condução e ritmo narrativo, que associado ao fantástico trabalho dos actores, excepção feita talvez do esforçado, Reynaldo Gianecchini como Jorge. Perdoem-me as fãs! Pode ser galã, mas não consigo gostar de um trabalho deste simpático e intrépido actor, muito aquém do que exige a sua personagem. Ainda para mais, na exigente tarefa de interpretar o “cornudo” (risos).

O “Primo Basílio” é dos poucos filmes que até hoje, e, após sair da sala provocou-me um desconforto perturbante. Apercebi-me do incómodo feroz, das duas pessoas que tinha sentadas ao meu lado e que eram, completamente desconhecidas para mim. Esse desconforto vem também, de uma convergência plena entre o plano cinematográfico de Daniel e literário de Eça, como por exemplo, a descrição detalhada das personagens. Permitam-me uma vez mais, sendo no caso do cinema, uma tarefa muitíssimo mais difícil.

Tendo já assistido ao vivo à cumplicidade entre Glória Pires (Juliana) e o Director (como se diz no Brasil) Daniel Filho, percebe-se com grande ajuda do filme, o dificílimo compromisso de tornar Glória Pires numa Juliana credível. Aliás, a actriz dizia que seu medo de parecer feia, era muito inferior ao medo de parecer igual a Marília Perâ (um de seus ídolos) que já havia feito a adaptação para a mini-série brasileira em 1988. Ao que Daniel Filho respondeu, dizendo qualquer coisa do género: “Marília não quis ir até ao fim mesmo, você vai-me prometer que vai ficar feia mesmo”.

Esta referência à parte, à a actriz Glória Pires, é não só necessária como justa. Sendo um imenso admirador da actriz Marília Perâ e não tendo assistido à mini-série, claro que fico sempre algo reticente. Não se deve comparar textualmente duas grandes actrizes que fazem em épocas diferentes uma mesma personagem, seria tão errado como comparar um livro e um filme. Quero apenas dizer… que: desde a 1ªcena em que Glória Pires aparece no filme, o desconforto do espectador vai-se ampliando e multiplicando. É simplesmente sublime o trabalho da dupla, Pires-Filho. A actriz vai aparecendo sempre aos poucos, como que uma aparição, um fantasma, revelando-se a cada apontamento, a cada maneirismo, “maravilhosamente” -feia. Incrivelmente bem conseguido. Mérito brutal da actriz, mas obviamente, o caso típico de uma grande Direcção de Actores.

Uma nota também para dizer, que o Brasil é provavelmente o país do mundo, onde melhor se filmam as cenas de sexo e erotismo. Para eles é uma escola natural. Sexo é vida. E eles são mestres a filmar o nosso quotidiano. Daniel Filho fez, duas das cenas, mais arrebatadoras de erotismo, que vi num filme até hoje. Agora lembrem-se do “Crime do Padre Amaro” versão portuguesa (é preciso sublinhar) e pensem no equivoco de cenas entre Chaves e Currula.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

There is a pleasure in the pathless woods

There is a pleasure in the pathless woods,
There is a rapture on the lonely shore,
There is society, where none intrudes,
By the deep sea, and music in its roar:
I love not man the less, but Nature more(...)

Lord Byron

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Soneto da tua ausência

Um dia vou te chamar Pilar
Um dia vou ter-te nos meus braços
Presentes quentes e ausentes de tédio
Porque tu serás a mais que perfeita escolha,
De tudo ao que da vida pertencia.

Um dia vou poder te dar
De tudo ao que a mim, te proponho dar
Porque não posso mais esperar
Presentes quentes e a teimosia ardente.
Um dia vou ter-te a olhar.

Porque eu sou sebastianista na espera
De tudo o que um homem quer criar
Um dia vou ter de esperar
Presentes quentes e a tua chegada.
Um dia vou ter de te contar

De todo o sofrimento,
Porque a espera é sempre intensa
Presentes quentes que a tua não chegada,
Um dia criou em mim a angustia
Dessa tua ausência imensa.

Rodrigo Camelo

domingo, 5 de outubro de 2008

Bessie Smith - Imperatriz do Blues


Algodão e Melancolia
Por: Cristiano Gobbi
Começa pela tradução da palavra. “Blues” quer dizer melancolia no jeito peculiar de falar dos habitantes do delta do rio Mississipi, berço do ritmo. E melancólicas são as raízes do blues. Ele começou a surgir em Agosto de 1619, quando o primeiro navio negreiro atraca na costa-americana. Nos porões, negros arrancados à força da África para o trabalho forçado em lavouras de algodão, tabaco e milho nas cercanias de New Orleans, nos estados de Alabama, Mississipi, Lousiana e Georgia.
No espírito dos desafortunados escravos, uma profunda saudade do que ficou para trás e uma rica cultura folclórica amordaçada. Mas a musicalidade latente dos africanos não tardaria a se manifestar. Aos poucos, surgem as “work songs”, verdadeiros lamentos melódicos, entoados pelos negros na árdua tarefa de plantar e colher os produtos da terra. Enquanto uma voz entoava um verso, os outros trabalhadores faziam o coro. No início, nas línguas nativas: fon, bantu e yorubá; com o passar do tempo, uma mescla de palavras de dialectos africanos e inglês, incorporado na convivência com os fazendeiros da região. Tudo a capela, de uma forma primitiva mas não menos visceral, sentimental e sempre rítmica. É a primeira manifestação musical dos negros na América que começavam a erguer com o sacrifício da liberdade perdida em pontos diferentes da África. A Guerra da Secessão, vencida pelo norte, representa a liberdade para os negros escravos do sul em 1865. Nessa época, em New Orleans havia cinco negros para cada quatro brancos. Muitos desses negros são netos e bisnetos dos pioneiros escravos. Os recém libertos também cantam e tocam, com a diferença de pelo menos um século de assimilação da cultura branca. Começa a surgir assim a figura do blueseiro, ainda com um banjo em lugar da guitarra. Como o blues é uma música vocal por natureza, em sua versão instrumental o ritmo exige instrumentos de habilidade vocal, capazes de “imitar” a voz humana. E nada melhor para se obter este efeito do que a técnica de “knife-song”, de deslizar sobre as cordas do violão uma placa metálica para se obter um som lamurioso, que mais parece um gemido humano. Assim a guitarra acústica desbanca o banjo e passa a frequentar os braços, mãos & dedos dos blueseiros. Instrumentos de percussão de origem africana como o djambè e harmônica, com sua versatilidade, complementam o kit básico do blues primordial, que não dispensa a interpretação, o sentimento absoluto no cantar.
A esta altura as canções já não são apenas lamentos, mas também bravatas, histórias de rixas terminadas com filetes de sangue manchando de vermelho as lâminas de navalhas, de mulheres conquistadas, de corações despedaçados. Agora o inglês prepondera sobre os dialectos africanos nas letras e o blues já é uma música americana, feita por negros e cada vez mais amada pelos brancos. Chega o rádio, o gramofone, o show-business. Surgem cantoras como Bessie Smith e guitarristas blueseiros como Ottis Redding. E isso tudo é só o começo de uma longa história regada a paixão pela música e litros e mais litros de Jack Daniels.

Por: Tiago Pereira da Silva

Tal como prometido a alguns seguidores deste Blog, escrevo, talvez, sobre uma das minhas maiores paixões musicais – o Blues. Num misto confuso de alegria e tristeza, de certa forma colado à génese embrionária do Blues, exactamente por ter demorado o tempo de uma vida a ouvir uma cantora como Bessie Smith. Não que nunca tivesse ouvido, mas talvez agora tenha entrado no meu espírito como sopro pujante de vida.
Aquela breve apresentação do aparecimento e historia do Blues por parte do critico Cristiano Gobbi, vai ao encontro do real surgimento dos movimentos musicais negros no continente Americano, uma das suas formas mais ricas, exactamente o «Blues» na América do Norte. Este “acaso” na invenção de formas de arte, através de um autentico jogo labiríntico entre oprimidos vs opressores, só poderia consistir para mim a real natureza da atracção ou curiosidade. Como lhe quiserem chamar. Quase todas elas desenvolveram das manifestações culturais mais ricas em séculos e séculos de história.

Bessie Smith teve como, muitos músico(a)s de Blues, um final trágico, mas o seu legado, da considerada imperatriz do Blues, é do mais rico e inovador da historia daquele género musical.
Ontem dizia a um amigo que para mim a descoberta só faz sentido – quando partilhada.
Quando estou a ouvir uma canção como “Alexander´s walkin babies from home” parece que sou transportado para um outro lugar, com - “Me and my Gin” identifico uma das mais arrebatadoras interpretações que já ouvi, mas é com “Cake Walkin Babies From Home” que percorro os campos de algodão cheios de escravos e faço a mais que inebriante audição e a desonra dos outros sentidos, sobretudo quando canta a frase «Now the only way to win is to cheat 'em,
you may tie 'em but you'll never beat 'em» e percebemos que só mais duas ou três cantoras num século poderiam cantar assim - e isto partilho com vocês.


In Net biography_: Nem a maior diva dos blues de sempre escapou ao fado do asfalto. Bessie Smith (1894-1937) não sobreviveu aos danos de um desastre na estrada, ficando com um braço amputado e sofrendo uma perda excessiva de sangue fatal. Quando Janis Joplin descobre em 1970 que a campa de Bessie Smith estava anónima, a estrela de blues-rock, indignada, compra uma lápide com a seguinte inscrição: A maior cantora de blues de sempre jamais deixará de cantar.