segunda-feira, 6 de abril de 2009

Num Clarão

Versão definitiva



Confesso que não percebi logo!
Ainda hoje permaneço imóvel.
Porque sei que esse alguém
Que te empurrou, vivia dentro e móvel
E sempre, sempre, perigoso
Aparelho insano de sexo preguiçoso.

Vejo tudo agora num clarão
E vejo a clara lua de uma tarde
Que não tarda, faz a noite parecer tua.
E sei que não desprezaste o fim, cobarde,
No verão em que apagaste teu sonho
E teu viver, subindo para um astro medonho

Onde se vê ao longe o teu corpo magro,
Os ossos nus da face e cavos na pele.
Vejo também a tua altura que estreita
Os prédios da cidade, a génese de teu mel
Onde a loucura enterra o deus
E abraça os que não dizem adeus.

Londres afagou-se num misto
De um Brasil de identidade duvidosa,
Ou “Paranás” com rosto de vitrina
Onde reina a quarta divida briosa.
A última, transformaste em dúvida
E as outras três, numa passagem húmida.

E rompe lençóis e armadilhas,
Vem fantasma, sem misticismo
Mas vem ensinar sem o lume do teu fim,
Recuperando desse eterno cismo.
E eu que estava ignorante da morte
Bebendo desse vinho e testando a sorte!

Voas agora numa cidade qualquer
De segunda a qualquer madrugada,
E espero por ti amigo, espero a saudade.
Conheço-te, enfim, Buenos Aires
Lugar do teu começo, livre dos outros
Onde desnasces e crias um outro

Quem gera este asqueroso mundo,
Gera também as lágrimas que cobrem
Teu rosto. E os olhos validam a dor.
Este “poema” perdeu a rima na denúncia
Mas ganha a forma na tua vida
E assim estamos os dois amigo - na lida.

Basta de intimidade!
É fácil ser próximo para essa premissa
Porque os que te julgam temem a ultima palavra.
E lembra-te, julgar é como preguiça
Dá trabalho aprofundar e entender.
Enterra-te, irmão, para veres nascer.

Vejo agora que: ser como tu não é fácil!
Ser teu corpo também não.
Faz tudo o que é preciso
E o que não é preciso, sem vão…
Não que esperes apreço de quem vive
Na ignorância; mas sim, em quem Lorca vive.

Onde mereces estar?
Onde contornas os automóveis em (Mi),
E o belo da vida em (Do). Deixa só
A cidade inteira olhando para ti
Porque és mistério, porque és possibilidade.
Porque so(l) assim és de verdade.

Rodrigo Camelo, Abril de 2009.

2 comentários:

Ariana Rocha disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Ana Paulo disse...

Comovo-me.