sexta-feira, 10 de abril de 2009

Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão




Porque me apaixonei de novo por ela!


Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (EMI – 1994)

Por: Tiago Pereira da Silva

Ao terceiro disco, Marisa Monte encontra, definitivamente, o seu espaço e lugar cativo na lista das grandes figuras da música popular da América, a que chamamos portuguesa. Marisa chegou a considerar na época que: "Meu disco é o menos industrial e techno possível. Tem um som rústico, brasileirissímo...tudo dentro de um conceito musical mais denso, mais coeso, em relação aos meus trabalhos anteriores. Porque quanto mais brasileiro for, mais internacional ele vai ser", portanto, debruçando-se claramente sobre as suas raízes.
Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994). É impossível resistir-lhe depois de uma cuidada audição. Eu próprio, que escrevo agora sobre ele, “ignorei-o” durante anos e anos a fio. Posso dizer que o ouvi, quase dez anos após o seu lançamento. É sinal, pelo menos para mim, de que resistiu, como clássico que deve ser considerado, ás irremediáveis vicissitudes do tempo. Aliás o tempo e a distância são, consideravelmente necessários, para avaliar com algum determinismo o tempo e lugar de um disco na história da música.
Logo aos primeiros acordes de “Maria de Verdade” - de Carlinhos Brown, percebemos estar na presença de algo diferente, embora familiar. O ecoar da sua voz (Marisa Monte) aos primeiros acordes, fazem desta música a parelha perfeita do universo iniciado (muito por força destas gravações) Marisa – Carlinhos. Destaque para o mais do que original “bolo alimentar percussionista”, de dois dos maiores expoentes brasileiros deste ofício, exactamente Carlinhos Brown e Marcos Suzano. A música que fez e que continua a fazer - Marisa de Verdade.
Em “Ao meu Redor” é por demais evidente a sua estilização poética no canto. E em “Segue o Seco”, definitivamente, uma de suas grandes obras, novamente a interpretação mais do que perfeita do universo baiano (sem h) de Carlinhos Brown. Aqui, tudo é incrivelmente doce, tudo é incrivelmente brasileiro. Desse Brasil inevitável e felizmente negro. Escusado será dizer que seus companheiros no “projecto” - Tribalistas, Carlinhos e Arnaldo Antunes vinham trabalhando nos discos de Marisa à anos a fio, pelo menos, desde o contemplado da crónica de hoje.
Tudo lhe sai bem em Verde, Anil , até a cover da música de Lou Reed, “Pale Blue Eyes”, aqui num arranjo completamente diferente do original, que lhe permite afirmar-se como cantora além fronteiras. Não é por acaso que Marisa Monte é a cantora Brasileira na actualidade, de maior sucesso nos EUA. “Em dezanove anos de carreira, Marisa vendeu mais de nove milhões de discos no Brasil e no exterior.
Marisa é considerada pela revista Rolling Stones Brasil, uma das mais notáveis revistas do mundo no segmento de música, como a maior cantora do Brasil, posto este antes ocupado por Elis Regina”.
Se existe recurso estético (presente neste disco) que ultrapassa grandemente a fronteira do tempo, essa é, seguramente, transparecida no tema – “Alta Noite” talvez o momento mais comovente do disco, em que Marisa canta as palavras de Arnaldo Antunes com a exactidão da métrica e musicalidade fonética roçando a melancolia, mas o controlo é sublime. “Munida” do consagradíssimo Nana Vasconcelos, percussionista brasileiro, respeitado no mundo todo, este tema é grandioso pela simplicidade de seu canto e pela ternura do abraço-voz-precursão. Para mim, sem precedentes. Estamos a falar de um altíssimo nível de exigência estilo e estética. Aqui a “parada” é alta mesmo e seu produtor Arto Lindsay, apercebendo-se do que tinha em mãos, poliu como quem resigna o corte de um diamante, com um monumental e irrepreensível arranjo de cordas.
Gilberto Gil e alguns dos músicos que trabalhavam com ele nessa época, também estão presentes no disco “Dança da Solidão” para só dar um exemplo. O som é por demais brasileiro. A qualidade é tão e somente evidente. E em “Bem Leve”, tema que poderia muito bem ter aberto o disco, Marisa Monte e seus pares demonstram mais uma vez, porque Verde, Anil deve constar definitivamente como um dos grandes clássicos de sempre da música brasileira. É que perdoem-me insistir neste ponto, e importa sublinhar que esta senhora já completou 40 anos de vida e o tempo só me trazem esta evidência. Quem souber de um disco feito e co-produzido no Brasil por um Brasileiro, nos anos 90, superior a Verde, Anil que atire a primeira pedra. Disse.

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