A terra
A terra verde se entregou
a tudo o que é amarelo, ouro, colheitas,
torrões, folhas e grão,
quando, porém, o outono se levanta
com seu longo estandarte
és tu a quem eu vejo,
é para mim a tua cabeleira
a que reparte as espigas.
Eu vejo os monumentos
de antiga pedra rota,
porém se toco
a cicatriz de pedra
teu corpo me responde,
meus dedos reconhecem
de pronto, estremecidos,
tua quente doçura.
Passo por entre heróis
recém-condecorados
pela pólvora e a terra
e detrás deles, muda,
com teus pequenas passos,
és ou não és?
Ontem, quando arrancaram
com raiz, para vê-lo,
a velha árvore anã,
te vi sair me olhando
de dentro das sedentas,
torturadas raízes.
E quando o sono vem
e me estende e me leva
a meu próprio silêncio,
há um grande vento branco
que derruba meu sono
e dele caem as folhas,
caem como punhais,
punhais que me dessangram.
Cada ferida tem
a forma de tua boca.
Pablo Neruda in Versos do Capitão
Tradução de Thiago de Mello
Fragilidade
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade in A rosa do Povo
Aurora
Eu abracei a aurora de verão.
Nada ainda se mexia na fachada dos palácios. A água estava
morta. Acampamentos de sombras não deixavam a trilha do
bosque. Eu marchava, despertando hálitos vivos e cálidos, e as
pedrarias espiavam, e as alas se levantavam sem um som.
A primeira missão foi, num atalho já cheio de centelhas frescas
e pálidas, uma flor que me disse seu nome.
Sorri para a loira wasserfall que se descabelava através dos
pinheiros; reconheci a deusa no cimo de prata.
Então, um a um, levantei os véus. Nas alamedas, agitando os
braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na cidade grande
ela fugia entre cúpulas e campanários, e correndo como um
mendigo entre docas de mármore, eu a caçava.
No alto da trilha, perto de um bosque de louros, eu a envolvi
com seu monte de véus e senti um pouco seu corpo imenso. A
aurora e a criança caíram na beira do bosque.
Ao acordar, meio-dia.
Arthur Rimbaud in Iluminuras
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Lovin' Spoonful - Daydream
What a day for a daydream
What a day for a daydreamin' boy
And I'm lost in a daydream
Dreamin' 'bout my bundle of joy
And even if time ain't really on my side
It's one of those days for taking a walk outside
I'm blowing the day to take a walk in the sun
And fall on my face on somebody's new-mown lawn
I've been having a sweet dream
I been dreaming since I woke up today
It's starring me and my sweet thing
'Cause she's the one makes me feel this way
And even if time is passing me by a lot
I couldn't care less about the dues you say I got
Tomorrow I'll pay the dues for dropping my load
A pie in the face for being a sleepy bull toad
And you can be sure that if you're feeling right
A daydream will last long into the night
Tomorrow at breakfast you may prick up your ears
Or you may be daydreaming for a thousand years
What a day for a daydream
Custom made for a daydreaming boy
And now I'm lost in a daydream
Dreaming 'bout my bundle of joy
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
worried about you
Sometime I wonder why you do these things to me
Sometime I worry girl that you ain't in love with me
Sometime I stay out late, yeah I'm having fun
Yes, I guess you know by now you ain't the only one
Baby, sweet things that you promised me babe
Seemed to go up in smoke
Yeah, vanish like a dream
I wonder why you do these things to me
Cause I'm worried
I just can't seem to find my way, baby
Ooh, the nights I spent just waiting on the sun
Just like your burned out cigarette
You threw away my love
Why did you do that baby
I wonder why, why you do these things to me
I'm worried
Lord, I'll find out anyway
Sure going to find myself a girl someday
Till then I'm worried
Yeah, I just can't seem to find my way
Yeah, I'm a hard working man
When did I ever do you wrong?
Yeah, I get all my money baby
Bring it, bring it all home
Yeah, I'm telling the truth
Sweet things, sweet things that you promised me
Well I'm worried, I just can't seem to find my way, baby
I'm worried about you
I'm worried about you
Tell you something now
Worried 'bout you, child
Worried 'bout you, woman
Yeah, I'm worried
Lord, I'll find out anyway
Sure as Hell I'm going to find that girl someday
Till then I'm worried
Lord, I just can't seem to find my way
(M. Jagger/K. Richards)
domingo, 13 de setembro de 2009
Let it loose
Who's that woman on your arm all dressed up to do you harm
And I'm hip to what she'll do, give her just about a month or two.
Bit off more than I can chew and I knew what it was leading to,
Some things, well, I can't refuse,
One of them, one of them the bedroom blues.
She delivers right on time, I can't resist a corny line,
But take the shine right off you shoes,
Carryin', carryin' the bedroom blues.
Oo...
In the bar you're getting drunk, I ain't in love, I ain't in luck.
Hide the switch and shut the light, let it all come down tonight.
Maybe your friends think I'm just a stranger,
Some face you'll never see no more.
Let it all come down tonight.
Keep those tears hid out of sight, let it loose, let it all come down.
(M. Jagger/K. Richards)
Aconteceu-me em III actos
Sabes! Como quando os olhos te dizem:
- Que procuram já nem sei mais o quê.
Exaustos das lágrimas que não reconhecem mais, o local de origem
Pensei até que o orgulho desorientado,
me levasse a um outro sitio.
Preciso de sentir o pulso de ser humano outra vez
Respirar o ar de meus irmãos escravos
Deixar-me perder em todas as frentes
Ser a antítese de heroina e ser devoto das emoções
Como na conversa que tivemos,
Quando o chão mais estável – foi lama
Quando a ausência mais profunda - foi tua.
E como se te apropriasses do espirito de quem te descreve:
Reveste toda esta folha de negro,
Como se a lava profunda e seca
te alcançasse
- Contagia-te, arrefece desenfreadamente
E vê apenas como ilusão, a tua emoção inicial.
Desapropria-te da memória áspera dos tempos
Se eu pudesse dar mais,
Criaria um verso indiferente a tudo o que nos dizem.
Para juntos navegarmos neste estranho lago ao relento
Onde me confesso imortal na dor que trazes
E tanto medo...
Quase como qualquer circunstancia militar
Onde a cor da luz nunca é possibilidade.
Por isso vejo o espaço amplo do negro
Que cobre as nossas faces alisadas por este vento,
De quem trouxe tudo à tona, meu camarada,
Separação prometida, lágrimas sem rosto.
- E se te havia dito: para “ouvires os olhos”
É porque sei,
que a paz virá da ampla luz do teu templo.
13 de Setembro
Rodrigo Camelo
Sabes! Como quando os olhos te dizem:
- Que procuram já nem sei mais o quê.
Exaustos das lágrimas que não reconhecem mais, o local de origem
Pensei até que o orgulho desorientado,
me levasse a um outro sitio.
Preciso de sentir o pulso de ser humano outra vez
Respirar o ar de meus irmãos escravos
Deixar-me perder em todas as frentes
Ser a antítese de heroina e ser devoto das emoções
Como na conversa que tivemos,
Quando o chão mais estável – foi lama
Quando a ausência mais profunda - foi tua.
E como se te apropriasses do espirito de quem te descreve:
Reveste toda esta folha de negro,
Como se a lava profunda e seca
te alcançasse
- Contagia-te, arrefece desenfreadamente
E vê apenas como ilusão, a tua emoção inicial.
Desapropria-te da memória áspera dos tempos
Se eu pudesse dar mais,
Criaria um verso indiferente a tudo o que nos dizem.
Para juntos navegarmos neste estranho lago ao relento
Onde me confesso imortal na dor que trazes
E tanto medo...
Quase como qualquer circunstancia militar
Onde a cor da luz nunca é possibilidade.
Por isso vejo o espaço amplo do negro
Que cobre as nossas faces alisadas por este vento,
De quem trouxe tudo à tona, meu camarada,
Separação prometida, lágrimas sem rosto.
- E se te havia dito: para “ouvires os olhos”
É porque sei,
que a paz virá da ampla luz do teu templo.
13 de Setembro
Rodrigo Camelo
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Somewhere down the road - Feist
Somewhere down the road
I'll see you again
I don't know when
And I know you'll be the same
And I know I'll be the same
Unchanged
You'll free me again
But I'll never be free
Of memories
And I know your life will change
And I know my life will change
Unchained
Unchained
Unchained
I'll drift away
Like roses on the sea
Stars up in the sky
Where they're always alone
They're on their own
And I know they'll always shine
And I know that they'll always shine
On time
"The hotest state original soundtrack"
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Um talvez Buarquiano...
Hoje acordei embriagado do universo Buarquiano…
Talvez fruto do balanço de mais uma festa do Avante. Talvez porque vejo reflectido no cancioneiro deste poeta/compositor maior da nossa língua reminiscências do espírito que se vive na Festa do Avante. Talvez porque seja de esquerda como o Chico, ou até da esquerda do Chico. Talvez porque, mais uma vez, falaram-me do deslumbrante concerto que Chico deu na festa em 1979 no alto da ajuda; numa época em que para ver os Brasileiros a sério – “precisávamos” ir ao Avante.
Talvez estivesse determinado à partida. Talvez porque em Setembro de 1979 estaria a pouco mais de um mês de nascer. Talvez porque saiba que minha mãe esteve nesse concerto.
É curioso pensar que Chico, em Setembro de 1979, encontrava-se com trinta e cinco anos.
Nenhuma destas letras tem propriamente um carácter político. Mas escolhi o elo perdido, mas comum que existe nas três. Deliciem-se com “Lola” porque ela sempre me deixou mudo.
Lola
Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia
strong>ong>Me deixe mudo
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda
Samba do grande amor
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Talvez fruto do balanço de mais uma festa do Avante. Talvez porque vejo reflectido no cancioneiro deste poeta/compositor maior da nossa língua reminiscências do espírito que se vive na Festa do Avante. Talvez porque seja de esquerda como o Chico, ou até da esquerda do Chico. Talvez porque, mais uma vez, falaram-me do deslumbrante concerto que Chico deu na festa em 1979 no alto da ajuda; numa época em que para ver os Brasileiros a sério – “precisávamos” ir ao Avante.
Talvez estivesse determinado à partida. Talvez porque em Setembro de 1979 estaria a pouco mais de um mês de nascer. Talvez porque saiba que minha mãe esteve nesse concerto.
É curioso pensar que Chico, em Setembro de 1979, encontrava-se com trinta e cinco anos.
Nenhuma destas letras tem propriamente um carácter político. Mas escolhi o elo perdido, mas comum que existe nas três. Deliciem-se com “Lola” porque ela sempre me deixou mudo.
Lola
Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia
strong>ong>Me deixe mudo
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda
Samba do grande amor
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
A uma mulher
Uma mulher
Parece que a vejo curvada sob a escrivaninha
E avisto verdade em todos os seus vocábulos!
Que evita o óbvio em que nos deitamos
E que até da perpétua premissa banal,
Acrescenta um quê - transcendental.
A que, em cada vão acaso
Torna o driblar profundo do tempo
A sua lógica existencial.
Basta multiplicar sua prosa no mundo
E rimar, quando acrescentamos seu sal.
Há qualquer coisa de início, nela.
Preciso chegar-lhe, alcançar-lhe o Tu
Para poder dizer-lhe:
Escalamos os dois o medo na essência,
Que desconheces, mas que abastece o meu sinal
E nem quando a Barca de Gil afunda
Prevejo fraqueza na mulher, onde a fé abunda.
Porque temperas todos espaços em que te vês,
Com a tua natureza profunda.
Sonhas horas inteiras - a navegar
És viagem, és a rota de Espinosa
Mesmo quando és antítese igual:
A uma leve e carinhosa rebeldia.
Pareces parar todos os momentos
Provavelmente para abastece-los de ti.
Ás vezes penso, como quem te celebra
Minha camarada da verdade mutua,
Da que ainda nem caminhámos juntos...
Mas cada gesto teu denuncia
Que nem precisamos desafiar a sorte
Exigimos só o sul como caminho,
Avistar os que vivem famintos e ao relento,
De dizer apenas: hoje é o dia
E partir a Terra entre dois mundos
|Porque és o avesso cósmico que ela precisa |
Julho 2009
Parece que a vejo curvada sob a escrivaninha
E avisto verdade em todos os seus vocábulos!
Que evita o óbvio em que nos deitamos
E que até da perpétua premissa banal,
Acrescenta um quê - transcendental.
A que, em cada vão acaso
Torna o driblar profundo do tempo
A sua lógica existencial.
Basta multiplicar sua prosa no mundo
E rimar, quando acrescentamos seu sal.
Há qualquer coisa de início, nela.
Preciso chegar-lhe, alcançar-lhe o Tu
Para poder dizer-lhe:
Escalamos os dois o medo na essência,
Que desconheces, mas que abastece o meu sinal
E nem quando a Barca de Gil afunda
Prevejo fraqueza na mulher, onde a fé abunda.
Porque temperas todos espaços em que te vês,
Com a tua natureza profunda.
Sonhas horas inteiras - a navegar
És viagem, és a rota de Espinosa
Mesmo quando és antítese igual:
A uma leve e carinhosa rebeldia.
Pareces parar todos os momentos
Provavelmente para abastece-los de ti.
Ás vezes penso, como quem te celebra
Minha camarada da verdade mutua,
Da que ainda nem caminhámos juntos...
Mas cada gesto teu denuncia
Que nem precisamos desafiar a sorte
Exigimos só o sul como caminho,
Avistar os que vivem famintos e ao relento,
De dizer apenas: hoje é o dia
E partir a Terra entre dois mundos
|Porque és o avesso cósmico que ela precisa |
Julho 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
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