segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Um talvez Buarquiano...

Hoje acordei embriagado do universo Buarquiano…
Talvez fruto do balanço de mais uma festa do Avante. Talvez porque vejo reflectido no cancioneiro deste poeta/compositor maior da nossa língua reminiscências do espírito que se vive na Festa do Avante. Talvez porque seja de esquerda como o Chico, ou até da esquerda do Chico. Talvez porque, mais uma vez, falaram-me do deslumbrante concerto que Chico deu na festa em 1979 no alto da ajuda; numa época em que para ver os Brasileiros a sério – “precisávamos” ir ao Avante.
Talvez estivesse determinado à partida. Talvez porque em Setembro de 1979 estaria a pouco mais de um mês de nascer. Talvez porque saiba que minha mãe esteve nesse concerto.
É curioso pensar que Chico, em Setembro de 1979, encontrava-se com trinta e cinco anos.

Nenhuma destas letras tem propriamente um carácter político. Mas escolhi o elo perdido, mas comum que existe nas três. Deliciem-se com “Lola” porque ela sempre me deixou mudo.


Lola

Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia


strong>ong>Me deixe mudo

Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda


Samba do grande amor

Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira

1 comentário:

Ana Paulo disse...

Talvez navegando para sul, e deixando-nos invadir por cantos superiores, sejamos bafejados pelo dom de acordar todos os dias embriagados pela água que o vento arrepia... Talvez...