quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Continuando ... nas "Sonoridades do Mundo"



Jorge Ben: África Brasil (1976)



Por: Tiago Pereira da Silva

Nascido no Rio de Janeiro no ano de 1942, este carioca de gema - Jorge Benjor (nome definitivo adoptado em 1988) é um daqueles artistas que são uma unânimidade para os colegas de profissão. Sem ele o Brasil ficaria certamente mais pobre. Talvez por estarem como ninguém a par desta evidencia, é que já vimos tantas vezes Gil e Caetano protestarem com o pouco destaque e interesse que suscita na imprensa. Os dois baianos tropicalistas chegaram mesmo a gritar: que Jorge é o expoente máximo da música do Brasil na geração pós Bossa-Nova. Em parte teremos que concordar. Exacto, devem se estar a lembrar que uma das músicas mais tocadas no mundo inteiro é de sua autoria Mas que nada!


E se nos lembrarmos do período a seguir, dos anos 70, depois de gravar A tábua de Esmeralda em 1974, Jorge Ben (na época) estava pronto para fazer tudo. Misturar pop com samba, rock com funcky já para não falar do estilo musical que poderá ter muito bem sido denominado de MPB, muito por culpa deste senhor. Eis que em 1976 Jorge Ben lança África Brasil. Não creio enganar-me ao dizer que muita coisa mudou no panorama musical brasileiro após o seu lançamento. Na época não fez muito, ou quase nenhum, sucesso comercial, mas este disco maravilhoso pode muito bem ser uma obra tão importante quanto Construção de Chico Buarque, Transa de Caetano Veloso ou Refavela de Gilberto Gil, apesar de não ser tão reconhecido. Certamente serviu de inspiração para Gil fazer o magistral Refavela no ano seguinte.
Se A tábua de Esmeralda já tinha sido de certa forma, um percursor dos movimentos funkys, hoje extremamente populares no Brasil, sobretudo nos morros do Rio; este disco de Jorge Ben com fortes bases de baixo e percussão, roncar de cuícas insistentes em marcar as pausas dos tempos, um teclistas e órgão de outro planeta, um coro feminino a fazer lembrar as 3 background vocals de Bob Marley e Jorge Benjor a cantar excepcionalmente bem. É um dos meus álbuns de eleição de qualquer género musical. Procure ouvir e renda-se com as pequenas maravilhas tipo: O filósofo; Xica da Silva; O plebeu; África Brasil (Zumbi).

Rubrica: A escolha do Dia


Diários de Motocicleta. Música de Gustavo Santaolalla.
Editora: Universal Records. Duração: 47' 30''.
Ano: 2004.
Realização: Walter Salles.

Hoje trago a magnifica banda sonora do filme "Diários de Motocicleta" de Walter Salles.
Curiosamente não tendo sido premiada como o mais recente Babel e Brokeback Mountain, em que Gustavo Santaolalla, não só foi nomeado como ganhou o Óscar. Creio que a par de Amores Perros é o melhor trabalho de Gustavo para filmografias. Os sons sugeridos pelas imagens desse fantástico "continente" chamado América do Sul fazem imersão de todos os sentidos.

Por: Tiago Pereira da Silva

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Rubrica: A escolha do dia


Por: Tiago Pereira da Silva

Inauguro aqui neste espaço a Rubrica, acima descrita, em que vou procurar ser fiel ao auto-compromisso de deixar todos os dias uma Sugestão Musical. E acreditem não vais ser fácil. Uma musica que por uma razão ou por outra, acordou na minha cabeça. Talvez com vontade de revelar partes que até então permaneciam ocultas.


E que maneira melhor de começar de que com o mano Caetano! A musica Haiti é um dos exemplos do brilhantismo poético deste poeta-compositor brasileiro. Aqui as palavras são mesmo, segundo o próprio, mais faladas do que cantadas. Uma das letras mais politizadas dos anos 90 de Caetano Veloso, uma das maiores incursões do artista pelo mundo do rap contemporâneo. O nosso Pedro Abrunhosa chegou a dizer que é uma das suas letras preferidas de Caetano. É um espelho social. Foi o primeiro artista no Brasil a manifestar-se contra a barbarie ocorrida na prisão de Carandiru.

111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos(...)

Com letra de Caetano e musica de Gilberto Gil e Caetano Veloso, sugiro a versão do concerto Fina Estampa ao vivo. Que poderão encontrar no Youtube que encontrarão escrevendo simplesmente: Caetano Veloso - Haiti



Haiti
Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil


Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretosSó pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui


PS - Que torrente de imagens impressionantes que são sugeridas ao longo da canção. Eu atrever-me-ia mesmo a dizer que é uma das letras mais visuais de Cae.

domingo, 25 de fevereiro de 2007

O Profeta da Utopia Portuguesa - 20 anos "sem" Zeca

Zeca Afonso

Cancionista maior da nossa língua, Zeca não podia esperar a mudança, nem tão somente fazer parte dela, ele foi a mudança...

Excerto de uma das suas biografias: José Afonso influenciou para sempre a música e a cultura portuguesas. Compositor multifacetado, percorreu no seu repertório diversas áreas musicais, das baladas de Coimbra à música tradicional, tendo também feito música para teatro. É, sem dúvida, uma referência incontornável da música portuguesa na segunda metade do século XX. Hoje, a sua obra musical continua a dar frutos e a influenciar as novas gerações.
José Afonso foi também um importante poeta. A austríaca Elfriede Engelmayer sustentou que é um dos maiores poetas portugueses e o facto de não aparecer nas antologias de poesia portuguesa do século XX deve-se a uma indiferença intencional: «Tem a ver com a sua imagem. Porque um cantor não tem a ver com literatura e porque foi uma pessoa com opções marcadamente políticas», afirma a docente de Coimbra.
«Zeca» é admirado também pela sua personalidade e forma de estar na vida: «Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia-a-dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for».
Foi um homem solidário, movido por causas e ideais que lhe pareciam justos. Um ser humano que vivia movido por uma utopia e que nunca parou muito tempo no mesmo lugar. Um dia disse de si próprio: «Alguma coisa do que sou e fui foi em viagem».


Utopia

Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
E teu a ti o deves
lança o teu
desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio este rumo esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?




sábado, 24 de fevereiro de 2007

Rubrica: Génios da 7ª Arte - Dilema na escolha!









Qual o melhor?

No outro dia, numa agradável conversa com um amigo sobre qual o mais extraordinário actor a aparecer - pós Brando, perceba-se do cinema norte-americano. Fiquei um pouco atrapalhado com a questão. Confesso que não sou muito de atribuir rankings, pelo menos nestes assuntos, pois existe um grau tal de subjectividade que a escolha nunca seria justa e unânime. O máximo que consegui fazer foi avançar com 4 nomes que para mim são incontornáveis, então e sem ordem de importância, passo a citar: Jack Nicholson, Al Pacino, Robert de Niro e Dustin Hoffman. Estes são como 4 magnificos, de estilos e escolas diferentes, com papeis memoráveis, protagonizaram alguns dos momentos mais emblemáticos da história do último terço do cinema norte-americano do século passado. É-me completamente impossível destacar um...dos outros, as suas presenças na minha memória cinematográfica são constantes. Já vi escrito que relativamente aos dois primeiros os seus génios não eram comparáveis. Mas sigam este raciocínio: lembrem-se dos papeis mais marcantes das suas carreiras,e, só para citar alguns: Jack Nicholson em " One Flew Over the Cuckoo's Nest (1975)" ou "Shining (1980)" ou até mesmo o fantástico e tantas vezes esquecido remake do "The postman always rings twice (1981)"; Al Pacino em "The Godfather (1972)" em que se diz que ter-se-á sentido pela primeira vez actor e Michael Corleone na cena do restaurante em que tem que despachar duas "almas", "Scarface (1983)" e o mais recente "Scent of a Woman (1992)"; De Niro em "Taxi Driver (1976)", "Raging Bull (1980)" e "Cape Fear (1991)"; Dustin Hoffman "Kramer vs Kramer (1979)" , "Tootsie (1982)" "Rain Man (1988)" - agora imaginem um dustin hoffman qual um papel tipo Shining ou um Jack Nicholson com um papel tipo Raging Bull. É interessante verificar a dificuldade que encontramos, pois os papeis exigidos para cada personagem iam ao encontro das suas características como actores, mas mais, aproximavam-se com muito daquilo que eles encontraram dentro de si, nas personagens.

Ainda bem que existem os quatro.

A escolha da semana: Beethoven: "Kreutzer" Sonata - Itzhak Perlman/Vladimir Ashkenazy*



Deixo aqui a sugestão para quem não conhece esta pérola da música clássica, com dois dos melhores executantes do mundo: Itzahk Perlman (Violino) e Vladimir Ashkenazy (Piano). Cada um deles é mais extraordinário que o outro.

Particularmente - A sonata para violino Nº 9, in A major, op. 47 correspondente à 2ª faixa do disco. É inacreditável nesta interpretação. Será que alguém já se lembrou de coreografar esta sonata? Provavelmente já.

* Gravado em Kingsway, Londres de Outubro de 1973 a Junho de 1974.

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Grandes Nomes da MPB: Elis was a Genious!


"She could change in a song, suddenly she was water, wine, cachaça. She had complete command of her body and soul."

António Carlos Jobim