segunda-feira, 30 de julho de 2007

A Casa de Areia


Ficha Técnica
Título Original: Casa de Areia

Direção: Andrucha Waddington
Roteiro: Elena Soárez, baseado em argumento de Elena Soárez, Luiz Carlos Barreto e Andrucha Waddington
Produção: Leonardo Monteiro de Barros, Pedro Guimarães, Pedro Buarque de Hollanda, Andrucha Waddington, Luiz Carlos Barreto, Lucy Barreto e Walter Salles
Música: Carlo Bartolini e João Barone
Fotografia: Ricardo Della Rosa


Sinopse

1910. O português Vasco (Ruy Guerra) leva sua esposa grávida Áurea (Fernanda Torres) e a mãe dela, Dona Maria (Fernanda Montenegro), em busca de um sonho: viver em terras prósperas, recentemente compradas por ele. O sonho se transforma em pesadelo quando, após uma longa e cansativa viagem junto a uma caravana, o trio descobre que as terras estão em um lugar totalmente inóspito, rodeado de areia por todos os lados e sem nenhum indício de civilização por perto. Áurea quer retornar ao lugar de onde vieram, mas Vasco insiste em ficar e constrói uma casa de madeira para que lá possam viver. Após serem abandonados pelos demais integrantes da caravana, um acidente mata Vasco e deixa Áurea e Dona Maria completamente sozinhas. Elas partem em busca de ajuda e terminam por encontrar Massu (Seu Jorge), um homem que nunca deixou o local. Massu passa a ajudá-las, levando comida e sal para que Áurea e Dona Maria possam sobreviver na casa recém-construída. Apesar da estabilidade, Áurea deseja deixar o local de qualquer maneira mas decide apenas fazer isto quando sua filha nascer e poder deixar o local com ela. Enquanto isso Áurea e Dona Maria precisam lidar também com a instabilidade do local em que vivem, já que a areia pode soterrar a casa em que vivem a qualquer momento.

"Uma obra-prima brilhante, profundamente comovente" - Ian Stuart Newsday

Muita atenção a esta obra da 7ª arte. De facto não sei se é para ficar triste ou satisfeito pelo cinema brasileiro ter filmes deste calibre. A compração com o nosso cinema é inevitável. Estamos a muitos anos de distancia deste tipo de resultado.
Mais uma vez Fernanda Montenegro é encantadora, comprovando de facto que é do melhor que existe no mundo em termos de representação feminina. Não chega ao tão bem conseguido resultado de Central do Brasil de Walter Salles, mas é sem dúvida de uma qualidade, perturbante. Sua filha, que aqui contracenam pela primeira vez juntas num filme, de facto, não só alimenta a herança genética (Fernanda Torres é filha de dois dos maiores actores de sempre do Brasil)como é actriz por direito próprio. A fotografia do filme é do outro mundo também.
Por: Tiago Pereira da Silva

Marisa Monte - Segue o Seco

Onde tem a Brisa tem Fonte: Onde tem Marisa tem Monte



Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (EMI – 1994)

Por: Tiago Pereira da Silva
Ao terceiro disco, Marisa Monte encontra, definitivamente, o seu espaço e lugar cativo na lista das grandes figuras da música popular da América, a que chamamos portuguesa. Marisa chegou a considerar na época que: "Meu disco é o menos industrial e techno possível. Tem um som rústico, brasileirissímo...tudo dentro de um conceito musical mais denso, mais coeso, em relação aos meus trabalhos anteriores. Porque quanto mais brasileiro for, mais internacional ele vai ser", portanto, debruçando-se claramente sobre as suas raízes.
Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão (1994). É impossível resistir-lhe depois de uma cuidada audição. Eu próprio, que escrevo agora sobre ele, “ignorei-o” durante anos e anos a fio. Posso dizer que o ouvi, quase dez anos após o seu lançamento. É sinal, pelo menos para mim, de que resistiu, como clássico que deve ser considerado, ás irremediáveis vicissitudes do tempo. Aliás o tempo e a distância são, consideravelmente necessários, para avaliar com algum determinismo o tempo e lugar de um disco na história da música.
Logo aos primeiros acordes de “Maria de Verdade” - de Carlinhos Brown, percebemos estar na presença de algo diferente, embora familiar. O ecoar da sua voz (Marisa Monte) aos primeiros acordes, fazem desta música a parelha perfeita do universo iniciado (muito por força destas gravações) Marisa – Carlinhos. Destaque para o mais do que original “bolo alimentar percussionista”, de dois dos maiores expoentes brasileiros deste ofício, exactamente Carlinhos Brown e Marcos Suzano. A música que fez e que continua a fazer - Marisa de Verdade.
Em “Ao meu Redor” é por demais evidente a sua estilização poética no canto. E em “Segue o Seco”, definitivamente, uma de suas grandes obras, novamente a interpretação mais do que perfeita do universo baiano (sem h) de Carlinhos Brown. Aqui, tudo é incrivelmente doce, tudo é incrivelmente brasileiro. Desse Brasil inevitável e felizmente negro. Escusado será dizer que seus companheiros no “projecto” - Tribalistas, Carlinhos e Arnaldo Antunes vinham trabalhando nos discos de Marisa à anos a fio, pelo menos, desde o contemplado da crónica de hoje.
Tudo lhe sai bem em Verde, Anil , até a cover da música de Lou Reed, “Pale Blue Eyes”, aqui num arranjo completamente diferente do original, que lhe permite afirmar-se como cantora além fronteiras. Não é por acaso que Marisa Monte é a cantora Brasileira na actualidade, de maior sucesso nos EUA. “Em dezanove anos de carreira, Marisa vendeu mais de nove milhões de discos no Brasil e no exterior.
Marisa é considerada pela revista Rolling Stones Brasil, uma das mais notáveis revistas do mundo no segmento de música, como a maior cantora do Brasil, posto este antes ocupado por Elis Regina”.
Se existe recurso estético (presente neste disco) que ultrapassa grandemente a fronteira do tempo, essa é, seguramente, transparecida no tema – “Alta Noite” talvez o momento mais comovente do disco, em que Marisa canta as palavras de Arnaldo Antunes com a exactidão da métrica e musicalidade fonética roçando a melancolia, mas o controlo é sublime. “Munida” do consagradíssimo Nana Vasconcelos, percussionista brasileiro, respeitado no mundo todo, este tema é grandioso pela simplicidade de seu canto e pela ternura do abraço-voz-precursão. Para mim, sem precedentes. Estamos a falar de um altíssimo nível de exigência estilo e estética. Aqui a “parada” é alta mesmo e seu produtor Arto Lindsay, apercebendo-se do que tinha em mãos, poliu como quem resigna o corte de um diamante, com um monumental e irrepreensível arranjo de cordas.
Gilberto Gil e alguns dos músicos que trabalhavam com ele nessa época, também estão presentes no disco “Dança da Solidão” para só dar um exemplo. O som é por demais brasileiro. A qualidade é tão e somente evidente. E em “Bem Leve”, tema que poderia muito bem ter aberto o disco, Marisa Monte e seus pares demonstram mais uma vez, porque Verde, Anil deve constar definitivamente como um dos grandes clássicos de sempre da música brasileira. É que perdoem-me insistir neste ponto, e importa sublinhar que esta senhora já completou 40 anos de vida e o tempo só me trazem esta evidência. Quem souber de um disco feito e co-produzido no Brasil por um Brasileiro, nos anos 90, superior a Verde, Anil que atire a primeira pedra. Disse.

sábado, 28 de julho de 2007

Minha Estética Ousada...


Dorme, Dorme,
Minha estética cruzada
Minha técnica ousada,
Perdes os mil e um palavrões.
Tropeças em cada vão de escadas,
Em chão te escapas e,
Dormes, Dormes em vão,
Minha réplica pousada e,
Dormes e Dormes sem mãos.


Por: Tiago Pereira da Silva

Caetano Veloso - Muito (Dentro da Estrela Azulada), 1978.


Enterrado o machado do tropicalismo, exaltada a Bahia de “Atrás do Trio Eléctrico”, ultrapassada a depressão do exílio londrino, saudado o reggae em “Nine out of Ten”, redescoberta a infância em Araçá Azul (como um Meu pé de Laranja Lima filtrado por Godard), definida uma cristalina dimensão estética em Jóia, celebrados os Beatles na capa e temas de Qualquer Coisa, aceite a frivolidade de Doces Bárbaros, convocado o juju nigeriano para bicho, estreado o “O Leãozinho”, festejados Muitos Carnavais, enfim, parecia que tudo se alinhava para que a escrita de canções de Caetano Veloso – futuramente consagrada – pudesse fluir livremente sem constrangimentos históricos de estilo ou contudo. E era isso que o orientalista “Terra” sugeria com versos: “Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia, foi que eu vi pela primeira vez as tais fotografias em que aparecesses inteira, porém lá não estavas nua mas sim coberta de nuvens” que evocavam um traumatizante momento de cativeiro para logo o reconverter numa declaração de amor ao planeta. Só que Muito, o primeiro disco com A Outra banda da Terra, foi arrasado pela crítica, a rádio não o passou e poucos o compraram. Ninguém queria um Caetano com o passado resolvido. O tempo tudo corrigiu e a pianíssima sofisticação que ensaiaria em Uns é já aqui reconhecida, bem como o hedonismo estival de Cinema Transcendental ou Cores Nomes. Depois, há funk, a guitarra de Sérgio Dias, o coro de “Muito Romântico”, as sombras de Jorge Bem e João Gilberto, e “Sampa”. E chega.
in: Blitz Aprova - Pop/Rock 1974-1979



Por: Tiago Pereira da Silva

Continuando no ano de 1978... Mas aqui, num lugar presente, de uma realidade musical que me é muito mais próxima, muito mais adorada, que até, convém admitir ás vezes, ultrapassa em termos de estética-estilo muito do que melhor se fez no mundo Anglo-Saxónico. Falo-vos claro, do riquissimo mundo musical do Brasil. E só para não repetir a incansável palavra, que teima em aparecer - Universo. Mas será sempre redutor.
Já alguém sugeriu que: "qualquer dia, este será um blog "só" sobre música. E porque não de música popular brasileira. Creio que não. Mas não deixo de perceber a fundamentação dessa análise.
Este é o disco de "Terra", de "Tempo de Estilo" (soberba canção - muito pouco conhecida), de "Sampa" e claro, de "Eu Sei que vou te amar", aqui na mais completa adequação do fraseado musical dos génios Vinicius e Tom. Para mim, a versão mais arrepiante, e o canto mais comovente de Caetano Veloso de todos os tempos. Nunca ninguém o ouviu cantar assim. Nem sequer em Cucurrucu Paloma... Como o autor destas palavras escreveu um dia:
Eu e água !
Exclama Caetano
Do alto das suas dúvidas
Vilarejos em mil questões
Por que da água vem a sua poesia
E da inteira Terra também


sexta-feira, 27 de julho de 2007

Van Halen - Van Halen; 1978


Em Março de 2007, quando os Van Halen foram recebidos no Rock´n´Roll Hall of Fame ao lado de R.E.M., Patti Smith, Grandmaster Flash e as Ronettes, só o baixista Michael Anthony e o segundo vocalista da banda, Sammy Hagar, apareceram em palco. David Lee Roth ficou amuado nos bastidores enquanto Eddie Van Halen se encontrava em reabilitação. Ainda que triste, foi um episódio perfeitamente apropriado para um grupo que conduziu o virtuosismo do rock da década de 70 até aos excessos dourados dos anos 80. A técnica de Eddie é assunto para horas de conversa entre guitarristas, mas o sucesso dos Van Halen deve-se em parte ao menino rico que a banda acabou aceitando como cantor: David Lee Roth. O sucesso comercial que o grupo gozou desde o inicio deveu-se muito ao apoio de Gene Simmons, dos Kiss, mas as pirotécnicas acrobacias do guitarrista e ginástica entrega do vocalista (uma espécie de Robert Plant em circuito de manutenção) despertaram o interesse de milhões e garantiram que a exibição dos seus videos arrumaria com qualquer momento morto em televisão. "You really got me" (maravilhosa versão dos Kinks) e "Runnin with the Devil"´foram os singles de maior sucesso, mas ainda hoje qualquer estação de rádio pode pôr a tocar "Ain´t talking about Love" ou "Jamie´s Crying" sem receio. Cruzando a elegância dos Led Zeppelin, a exuberância de Jimi Hendrix e a rebeldia dos Black Sabbath, os Van Halen garantiram que, entre prog rock, o punk e o disco sound, muitos se identificaram com a promessa "Yheah you may have all you want, buit i got somethin you nedd"

In: Blitz Aprova - Pop/Rock 1975-1979

Marisa Monte - Vilarejo

Creio que pela primeira vez, escrevo sobre a cantora-compositora e intérprete - Marisa Monte. "Vilarejo": Aldeia pequena, vilazinha, lugar de repouso... concerteza é a simbologia desta música. Chamo a atenção para este video, muitissmo forte no uso e trato da fotografia a preto e branco. Video-clip, assim denominado, passou, relativamente despercebido, em Portugal. Mais uma vez Marisa Monte demonstra o porquê de ser conotada como uma das maiores gestoras e impulsionadoras de carreiras no Brasil. Ela não só respira musica, como o lado "comercial", no melhor sentido do termo, do mercado musical. Sabe-se reunir de gente competentissima, como o caso deste director, que consegue um resultado final fabuloso.
Marisa é, no panorama actual musical, a maior intérprete (mulher) viva desse imenso país de talentos.


Por: Tiago Pereira da Silva