sábado, 28 de julho de 2007

Caetano Veloso - Muito (Dentro da Estrela Azulada), 1978.


Enterrado o machado do tropicalismo, exaltada a Bahia de “Atrás do Trio Eléctrico”, ultrapassada a depressão do exílio londrino, saudado o reggae em “Nine out of Ten”, redescoberta a infância em Araçá Azul (como um Meu pé de Laranja Lima filtrado por Godard), definida uma cristalina dimensão estética em Jóia, celebrados os Beatles na capa e temas de Qualquer Coisa, aceite a frivolidade de Doces Bárbaros, convocado o juju nigeriano para bicho, estreado o “O Leãozinho”, festejados Muitos Carnavais, enfim, parecia que tudo se alinhava para que a escrita de canções de Caetano Veloso – futuramente consagrada – pudesse fluir livremente sem constrangimentos históricos de estilo ou contudo. E era isso que o orientalista “Terra” sugeria com versos: “Quando eu me encontrava preso na cela de uma cadeia, foi que eu vi pela primeira vez as tais fotografias em que aparecesses inteira, porém lá não estavas nua mas sim coberta de nuvens” que evocavam um traumatizante momento de cativeiro para logo o reconverter numa declaração de amor ao planeta. Só que Muito, o primeiro disco com A Outra banda da Terra, foi arrasado pela crítica, a rádio não o passou e poucos o compraram. Ninguém queria um Caetano com o passado resolvido. O tempo tudo corrigiu e a pianíssima sofisticação que ensaiaria em Uns é já aqui reconhecida, bem como o hedonismo estival de Cinema Transcendental ou Cores Nomes. Depois, há funk, a guitarra de Sérgio Dias, o coro de “Muito Romântico”, as sombras de Jorge Bem e João Gilberto, e “Sampa”. E chega.
in: Blitz Aprova - Pop/Rock 1974-1979



Por: Tiago Pereira da Silva

Continuando no ano de 1978... Mas aqui, num lugar presente, de uma realidade musical que me é muito mais próxima, muito mais adorada, que até, convém admitir ás vezes, ultrapassa em termos de estética-estilo muito do que melhor se fez no mundo Anglo-Saxónico. Falo-vos claro, do riquissimo mundo musical do Brasil. E só para não repetir a incansável palavra, que teima em aparecer - Universo. Mas será sempre redutor.
Já alguém sugeriu que: "qualquer dia, este será um blog "só" sobre música. E porque não de música popular brasileira. Creio que não. Mas não deixo de perceber a fundamentação dessa análise.
Este é o disco de "Terra", de "Tempo de Estilo" (soberba canção - muito pouco conhecida), de "Sampa" e claro, de "Eu Sei que vou te amar", aqui na mais completa adequação do fraseado musical dos génios Vinicius e Tom. Para mim, a versão mais arrepiante, e o canto mais comovente de Caetano Veloso de todos os tempos. Nunca ninguém o ouviu cantar assim. Nem sequer em Cucurrucu Paloma... Como o autor destas palavras escreveu um dia:
Eu e água !
Exclama Caetano
Do alto das suas dúvidas
Vilarejos em mil questões
Por que da água vem a sua poesia
E da inteira Terra também


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