Acredito que todas as influências se cruzam, actuam umas sobre as outras, entram em tensão, geram formas. E, de certo modo, tudo é influência, já que tudo ajuda a formar nossa sensibilidade. Assim, precisaria registrar a leitura entusiasmada da poesia de Pessoa e de Jorge de Sena. Mas, realmente os nomes portugueses fortes são Sophia e Eugénio. Encontrei em ambos, sobretudo, a força que nasce da delicadeza e da luz. A ternura de Eugénio é das coisas mais grandiosas que a poesia já produziu. A palavra de Sophia é absoluta, generosa, abraça uma dimensão cósmica, procura libertar-se de toda contingência, do tempo, do espaço, da descontinuidade dos nomes e dos corpos. A generosidade de Eugénio, por sua vez, parece mais chã, consiste em abrigar as coisas e os seres com as sua pequenas raias para acendê-los com a dignidade, a beleza e o afecto. Não me acredito minimamente capaz de chegar a tanto. Mas creio que estes dois autores revelaram alguns valores muito altos que gostaria de perseguir. Poderia dizer o mesmo da simplicidade sofisticadíssima de Manuel Bandeira. Já a poesia de João Cabral de Melo Neto orientou-me decisivamente para certo materialismo, que tanto me interessa na poética de Eugénio e mesmo em certa poesia de Sophia, e para um realismo que aos poucos foram me afastando como poeta, não como leitor e admirador, do "estilo" de Herberto Helder. Mas nenhum poeta me ensinou tanto a oficina poética quanto Carlos Drummond de Andrade. Lendo e estudando sua poesia descobri minhas próprias habilidades, minhas aptidões para esta ou aquela maneira de dizer. Mas seria preciso acrescentar ainda a pintura de Matisse, a música de Caetano Veloso, a prosa de Clarice Lispector. Tudo se cruza e se amplia, pois permaneço à procuro de linguagens, obras, autores e vivências que definam, que afinem o desempenho de minha escrita.
Eucanaã Ferraz: Poeta e Crítico Brasileiro
segunda-feira, 9 de julho de 2007
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