domingo, 16 de novembro de 2008

Paisagem Intelectual

Aumenta a chances de prosopopeia
Abrindo a porta dessa árvore deslumbrante!
Uma porta com um terceiro elemento
Que não a entrada, que não a saída;
Com todos os bichos por dentro.

No primor da tua linguagem,
Emerge um povo diferente na técnica;
Que tem na étnica, a sua imaginação sagrada.
Um povo imenso de constrangimentos geográficos,
Mas iluminado do velho sábio, meu camarada.

Vejo-te orgânica e emocional
Nessa graciosa aliteração em s,
Sob um sol de seiva de um sobreiro
E uma longa e abstracta abstracção.
É que a tua gente resume tudo num viveiro

Onde a música agarrou meu viver
Dentro de um livro sem autor de base
E uma longa bíblia sem criação.
Em memória de todos aqueles cuja génese
Foi queimada, nos cálices “nobres” da inquisição.

Fomos salvos, apenas, pela musa - vocábulo.
Sim, a que casou no mar novo - nasceu Sophia!
Porque o mar inteiro que nos rodeia,
É todo dela na exactidão e na promessa;
Que me levou e dilacerou a veia.

A única onde corre meu sangue atento
Ao ritmo são, das máquinas sem rosto,
Que atiçam o medo, na verdade do que pintam.
A carme denunciou “abutres”, enquanto
Outros fingem que não vêem e fintam


Esse povo amargurado e cinzento
“Nocturno da Graça” na graça do medo.
Nisso sempre quiseram insistir!
Mas é onde sei que a força dela, convoca
Todos os elementos e adoça o nosso persistir.

Sophia não é “só” mais uma da fonte!
É a própria imagem da origem.
É a que fez um povo inteiro desnascer,
Enraizando o seu perfume na língua;
Como um novo começo de um deus nascer.

Para: Sophia de Mello Breyner Andresen

Rodrigo Camelo

Sem comentários: