sábado, 22 de novembro de 2008

Paul Simon


Por: Tiago Pereira da Silva

Alguém que só por uma ocasião escrevesse uma música como “Bridge over troubled water”, já seria certamente recordado e, necessariamente, ouvido e respeitado em várias partes do mundo. Já li que a coro-refrão de “The Boxer” foi considerada a melodia mais inspirada da música pop anglo-saxónica de todos os tempos. Eu, continuo achar "At the Zoo" a mais que perfeita paródia musical que ouvi até hoje.
Paul Simon nem sempre foi recordado, nem sempre foi entendido, nem sempre poupado, muito poucos, acreditaram por exemplo, que se daria bem numa carreira a solo, tal foi o sucesso estrondoso da dupla Simon & Garfunkel nos anos 60.
É inegável falar de uma carreira de um imenso sucesso comercial. Mas não é isso que é, definitivamente importante quando falamos de Paul Simon. Um músico que tal como se referiu ao seu grande amigo George Harrison, depois de desaparecido, de uma forma maravilhosamente bonita, dizendo aquilo que coincidentemente, ou não, lhe assenta como uma luva. “Ele não sentia propriamente necessidade em ser ouvido”. Paul Simon deve ser respeitado e lembrado como são, por exemplo: Paul McCartney, Eric Clapton, Mick Jagger, entre muitos outros. Só que Paul Simon, mais do que quase todos os seus companheiros de geração, divulgou a música do mundo ao seu próprio universo musical. E para que fique claro, Simon foi talvez o primeiro músico anglo-saxónico e, já na época de Simon & Garfunkel a misturar ritmos do continente Sul-Americano. Se não vejamos, El Condor Pasa, do álbum “Bridge over troubled water” com letra de Paul Simon é uma música Inca-Peruana de celebração, entre outras virtudes, da paisagem abençoada do céu de Machu Picchu – Montanha Velha, seu significado inca. Nesse disco encontramos também uma pérola chamada Cecília que revela um Simon cada vez mais mergulhado no som, de uma América imensa.

O lançamento do álbum homónimo “Paul Simon” em 1972 é um grito de libertação e resposta ao que dele diziam, na época, incapaz de se aventurar a solo. Já sem os condicionamentos de trabalhar em grupo, Simon tem liberdade para fazer o que quer em estúdio. E podemos ouvir pela primeira vez, até antes de Clapton, o som forte jamaicano em temas como Mother and Child Reunion,. O álbum, inteiramente gravado no Sound Studios na Jamaica, abriu um leque de possibilidades para outros músicos seguirem as pisadas de Paul Simon. O som está repleto de influencias Sul-Americanas e Porto-riquenhas. Ou não fosse a faixa “Me and Júlio Down by The Schoolyard” testemunhar isso mesmo, como o seu impetuoso começo de Cuíca.

A importância de Simon na ponte cultural de ligação ao chamado terceiro mundo foi sem precedentes. Muitos, se lhe seguiram. Como Peter Gabriel. Mas Paul foi sem sombra de dúvida, o mais feliz, o mais iluminado, o mais criativo, e o mais inspirado criador de canções do seu tempo, dentro deste contexto específico. O seu mérito é ainda mais importante se considerarmos a maneira como foi feita. Paul nunca se limitou a consumir e a explorar a música anglo-saxónica, percebeu claramente a magnificência que florescia a cada década na música, primeiro na América do Sul, depois no continente Africano. Paul Simon percebendo exactamente o timing de ser escutado, ou quando mundo o ouvia, quis partilhar a sua descoberta. Existirá maior mérito que este?

Saltando muitos anos na sua fabulosa carreira musical a solo, para um período, curiosamente, de deserto, crítica cerrada, de desencanto pela indústria musical. Todas estas condições estiveram reunidas em meados dos anos 80. Paul Simon passava por uma das maiores crises pessoais de sempre nos meses que antecederam a criação de “Graceland” a sua suprema obra-prima. “O disco anglo-saxónico pop mais bem feito de sempre” na opinião Philip Glass.

Mas voltando a essa época em que Simon encontrava-se musicalmente bastante perdido, tinha por hábito ouvir no carro uma cassete, que lhe tinha sido emprestada por um amigo, de uma banda Sul-Africana chamada Gumboots. O impacto foi tão profundo e durador, que meses mais tarde Paul, viu-se a caminho de Johannesburg, para gravar um álbum sem qualquer música na “manga” ou pré-ensaiada . A produtora ficou “louca”, mas ninguém conseguiria demover, um já decidido Paul Simon.
Sua ideia era, sobretudo, procurar conhecer e aprender um pouco da música da Africa do Sul e de todo aquele maravilhoso e riquíssimo continente.
Muitas eram as pressões para que Paul ali não estivesse presente. Em pleno período do Apartheid, a repressão social e racial em crescendo nas ruas, acrescido ao facto de Simon ter convidado maioritariamente músicos negros. Tentaram calá-lo. Há até quem considere que em determinadas situações, se expôs em demasia ao “inimigo branco”. Mas nada disto o interessava mais.

Era a celebração negra, era um grito de desespero ao mundo. Em “Graceland” não se ouve nem se lê letras politizadas, ou pelo menos, directamente. Paul Simon optou por “usar” a alegria e celebração de um povo, por celebrar a vida e não a morte, e também por isso, foi criticado. O público deu a resposta. O disco foi um estrondoso sucesso. E a sua qualidade, jamais poderá ser confundida com o imenso apelo popular do mesmo. Até os temas mais pop-comerciais como “You can call me Al”, estão extraordinariamente bem feitos, permaneceu semanas atrás de semanas como nº1 da bilboard. Mas “Graceland” é, sobretudo, o disco do tema título, de “Boy in the Bubble” e do excepcional encontro entre Simon e os LadySmith Black Mambazo um grupo negro-vocal Sul-Africano. Desse encontro resultou por exemplo "Diamonds on the soles of her shoes" que percebemos logo na entrada, tratar-se de uma abordagem diferente das canções até então feitas por Paul Simon. Encontro esse, que se revelou “mágico” nas palavras de Paul, seria a projecção internacional dos Ladysmith. Vale a pena assistir ao DVD: Paul Simon – Graceland Classic/albums e perceber, pelos protagonistas o encantamento desse encontro que mudou até mais Paul Simon do que os próprios Ladysmith, como surgirá naturalmente numa qualquer audição do fabuloso “Homeless”, cuja a entrada, inteiramente criada pelo seu líder Joshep Shabalala, é das melodias mais belas e apelativas que vi criadas pela voz humana.

2 comentários:

Anónimo disse...

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