segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Carta de omaggio a Cassandra Wilson
Por: Tiago Pereira da Silva
Ouvimos constantemente música. Estamos constantemente a ser bombardeados de sons, música de elevador, música nos ginásios, átrios de hotel, barulho, ruídos, etc. Lembro-me de ouvir numa entrevista, Adriana Calcanhotto dizer a Ana Sousa Dias que: “Temos música a mais no planeta, existe um excesso de música, em todos os sítios por onde passamos hoje”. Não só partilho da opinião de compositora, como acrescentaria:
É essa canseira musical que não nos permite, muitas vezes, prestar atenção em algumas coisas extraordinárias que se vão fazendo por esse mundo fora.
O meu primeiro contacto com a música de Cassandra Wilson deu-se em 1999, num daqueles insistentes zappings pela Tv. Foi então que sintonizando o canal Mezzo, reconhecido canal francês pelo seu mérito musical, apercebi-me da força negra de uma cantora americana com um dos mais belos perfis de mulher que alguma vez tinha visto. Ao mesmo tempo que o deslumbramento ia se multiplicando em mim, essa tal cantora desconhecida (para mim) parecia aperceber-se disso e reticente, ria-se para mim. Depois começou a vislumbrar-se a construção natural de um novo projecto musical em minha pessoa. Como ouvi alguém dizer um dia: “Ela só me surpreendeu uma vez, quando a conheci e a ouvi cantar. Foi uma surpresa tão grande e tão profunda que ainda hoje vivo sobre o seu impacto”.
O Homem precisa de arte porque tem alma, foi o que me ocorreu intuitivamente. A voz baixo desta cantora do Mississipi teve um impacto tão forte, que só descansei quando comecei a procurar toda a sua discografia… a tal mulher do perfil inesquecível. Bom! então a escolha recaiu sobre o seu disco de homenagem a Miles Davis – o soberbo “Travelling Miles” com um duplo sentido. Ficamos automaticamente rendidos com o tema de abertura “Run the voodoo Down”, talvez o mais jazzistico álbum de Cassandra Wilson”.
Concebido inicialmente como um meio de experimentar outros universos musicais, a cantora maravilha-nos com o disco “Belly of the Sun”.
Cada faixa de abertura de um disco de Cassandra parece determinar a sua nova intenção musical “The Weight” dos The Band fica a contemplação do que significa para os músicos a palavra – arranjo. O bem-aventurado “You gotta move” revelam uma cantora muito bem aconchegada num registo Blues. “Waters of March” de Tom Jobim e “Only a dream in Rio” canção de James Taylor de tributo à música brasileira, fazem a cantora reencontrar a Bossa Nova, imprimindo-lhe um sofrimento mais típico do Blues e a sofisticação nítida do Jazz embebida no universo da Country… uma das suas maiores paixões, e, importante fonte de inspiração musical.
No outro dia, ouvindo Pedro Almodôvar dizer que considerava Bebel Gilberto a sua cantora preferida da actualidade, pus-me a pensar se esta seria merecedora de tamanha honra e distinção por parte do realizador espanhol.
Mas o que é que isso interessa…não é de todo importante.
Uma representa um pequeno rio e a outra um imenso oceano musical. Não que sejam comparáveis. Fui buscar isto para dizer que Cassandra Wilson, para mim, representa a força musical de todo aquele continente chamado América. Ela reúne todos aqueles sons em sua música, desde o norte (Blues, Country, Jazz, Soul, Rock and Roll) ao Central Reggae e a Bossa Nova do Sul. Não há nada para ela que não posso ser reinventado. Nada que lhe pareça estar oculto numa canção e que não arranje sempre forma de ser revelado.
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1 comentário:
clap! clap! clap!
Belo texto, ragazzo.
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