Por: Tiago Pereira da Silva
Nós, os que tivemos presentes, mudámos todos, um bocadinho…
Nada
No palco, não havia nada, nem nenhum elemento da Dave Matthews Band que não espelhasse a mais que perfeita emoção da plateia. Nada que pudesse prever!
Mas a determinada altura da noite… nada que pudesse alterar o sentido daquele acontecimento. Não que o público não conhecesse, o vastíssimo leque de surpreendentes artimanhas musicais de Dave Matthews e seus pares, mas até este se mostrou atónito, com uma recepção tão eufórica, de um público que em nada desiludiu e em tudo superou os mais cépticos à partida. Confesso que fui um deles.
O extensíssimo vazio na parte norte das bancadas com a primeira entrada de Dave Matthews em palco, para apresentar Nightwatchman nome artístico do ex-guitarrista dos Rage Against the Machine, fazia antever uma recepção vergonhosa (em termos de numero) para aquela que é, muito provavelmente, uma das maiores bandas ao vivo da actualidade e considerando vários géneros musicais. Porque se existe uma banda que verdadeiramente poderá se designar: banda de palco, esse honroso título pertencer-lhes-á sem muita cerimónia. É que é de facto ali, o seu terreno privilegiado de criação.
Como os Beatles precisavam do estúdio, a Dave Matthews Band precisa do palco. E perdoem-me mais esta analogia. Ali, dão lugar ao seu mais que criativo legado de solos e improvisos “quase preparados”, em que cada músico parece desafiar os colegas, para além da enorme incitação ao auto-desafio. A alegria, atrevimento, cumplicidade transborda nos olhares sagrados, que vão-se revelando ao longo de mais de 3 horas de concerto, de uns para os outros, e, dos elementos da banda para o público. Aliás, a forma de estar em palco de Dave Matthews como Frontman é, acredito eu, sem precedentes. Ele não é igual a ninguém, e dos muitos heróis do rock que o inspiraram a ser músico, não vejo parecenças com nenhum deles… qualquer coisa de Cash, de Dylan, de Lennon no auto-humor instalado.. Mas, o que estou eu para aqui a dizer?
Dave Matthews é irresistível em palco, ninguém lhe é indiferente e a sua inteligência e simplicidade transborda e transbordou num apogeu a solo chamado “Sister” canção de homenagem a sua irmã assassinada em Joanesburgo – África do Sul.
Ouvi naquele concerto, algumas das melhores versões de algumas musicas da Dave Matthews Band. E isto é dizer muito. “Jimi Thing” nunca foi tão arrebatadoramente alegre.
A banda deliciou os fãs do primeiro ao último minuto do 2º encore. Como os grandes heróis do passado, tratou-se de um concerto extenso, mas não de mais, tipo “old fashion way”. E a raríssima presença de 2 encores da banda, durante as digressões da mesma pelos EUA transmite um pouco a ideia da emoção e impressão com que os elementos da Dave Matthews Band saíram do nosso país.
Ignorados à Partida...
Não vi um único cartaz a publicitar a banda nos meses que antecederam o concerto. Se quiser ser muito rigoroso e, não sendo um muito atento ouvinte de rádio, não me lembro de ouvir uma única música da Dave Matthews Band passar na rádio, excepção feita a “The Space Between” de que confesso também, não ser um especial fã. Não vi, nem ouvi no dia seguinte ao concerto, nas televisões, qualquer referência ao mesmo. Só li a crítica, diga-se em tom de partida - muito bem elaborada, da jornalista do público, que transcrevi na íntegra para os “fieis” seguidores deste blog.
Bom! e não é que não tenha tentado procurar. Se quiserem ter uma ideia de onde estou a querer chegar, vou estabelecer esta comparação inevitável: O destaque dado à imprensa à cantora Beyoncé que curiosamente tocou, também ela no Pavilhão Atlântico um dia antes da Dave Matthews Band. No dia a seguir ao concerto havia uma foto da cantora, em praticamente todos os diários do país fazendo naturalmente, referência ao “esmagador” sucesso do seu concerto (nada que este país não estivesse à espera). Bem, mas, ainda voltando ao antes do concerto de ou da Beyoncé, esta, foi inclusive, entrevistada em directo por dois canais de TV.
Dia 24 de Maio, sexta-feira, como é nosso hábito cá em casa comprámos a Visão. Revista com reconhecidos méritos jornalísticos, que parece que também tem um tal de Ricardo Araújo Pereira ;) autor semanal da crónica Boca do Inferno, que não deve ter achado muita piada ao que vou fazer referência. Visto a encontrar-se a apenas 9 folhas de distância da cantora. Uma das divisas da revista Visão é a parte referente à cultura, apropriadamente chamada de Visão Cultura. Acreditem, ou não, a parte musical, está inteiramente dedicada a Beyoncé, portanto cinco páginas. E sobre a Dave Matthews Band nem uma linha. Como é que se pode explicar esta diferença? Como é que se pode ignorar uma banda destas e a um tal ponto que, simplesmente, não “passa” na Rádio nem se vêem, quase nenhumas referências da imprensa escrita?
O Pavilhão Atlântico no dia 25 de Maio estava praticamente cheio e, estou seguro, Portugal terá tido poucos concertos assim. Também pode ser ignorado isso, porque a Dave Matthews Band parece aliada à mais que incrível aliança dos que a fizeram, chegar onde chegaram – o seu público. Este, não tem que ser fiel, tem que sobreviver. Este, não tem que procurar, tem que importar. Este, não tem que pedir para ouvi-los, porque a Dave Matthews Band tem, do que é mais belo na musica e faz-nos sonhar.
domingo, 27 de maio de 2007
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2 comentários:
Tiago, tiraste-me as palavras da boca:)
A sério, na minha opinião DMB não passa na rádio porque não é "suficientemente comercial", e como sabemos os standards radiofónicos andam (na minha opinião) lá em baixo. Quando não entra no ouvido à 1ª, joga fora. E no entanto foi o mais espectacular concerto que vi na minha vida!! (Ex-Aequo com Metallica@Rock in Rio).
É caso para dizer: "Perdoai-lhes senhores, que não sabem o que ouvem!"
Tiago
Foi sem dúvida um dos grandes concertos a que tive o privilégio de assistir (e já não foram poucos). Musicalmente irrepreensível, ao qual me faltam palavras para descreve-lo mas que ficarão marcadas para todo o sempre na minha memória.
Lamento que a “populaça” tenha passado ao lado deste grande evento, mas não faltarão outras oportunidades, para se redimirem. A DMB vai voltar a actuar em Portugal e mostrar a toda a gente que existe música, para alem daquela, que os tipos da rádio nos obrigam a ouvir todos os dias.
Um Abraço
Humberto Lopes
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