Por: Tiago Pereira da Silva
Prólogo Inicial:
Eu Odeio o País que Temos...
Não deixo de achar interessante colocar apenas pela primeira vez, neste blog uma noticia referente à modalidade que mais amo – o Judo. E apesar de invocar a mais extraordinária atleta que vi competir em Portugal, acabo por fazê-lo pelas piores razões. Já vão perceber porquê!
A minha admiração pelo que Telma tem feito pela modalidade em Portugal e o desporto português, falando num carácter mais geral é, estou em crer sem precedentes e sem equiparações. Muito se tem falado naquelas que unanimemente vão sendo consideradas as atletas do momento em Portugal. Sem contudo,existir o reconhecimento que de facto seria merecido. Refiro-me claro, a Vanessa Fernandes do Triatlo e a Telma Monteiro do judo. Apesar de considerar Vanessa Fernandes uma atleta de outro “planeta” e com as devidas suspeitas para fazer uma afirmação desta ousadia, e, sem tão pouco querer comparar os dois expoentes máximos do desporto feminino português na actualidade, nem querer entrar num género de dicotomia (Vanessa vs Telma) eu penso que o caso de Telma é ainda mais extraordinário. De facto o Judo não tem, infelizmente, a atenção dos media dado por exemplo às provas de atletismo ou disciplinas homologas, mas sugiro que considerem o seguinte: Uma prova como o triatlo é claramente mais objectiva do que um desporto com as especificidades e particularidades do judo, que é considerado dos desportos mais técnicos quanto à sua classificação. No triatlo uma atleta com as condições excepcionais em termos de capacidade aeróbia como o caso de Vanessa Fernandes, não determinam o resultado final de uma prova, mas eu diria que influenciam claramente as possibilidades de uma atleta ser nº 1 do mundo. E só para citar o próprio exemplo da Vanessa, que aquando da realização da Taça do mundo em Lisboa confessou que a prova de natação lhe tinha corrido particularmente mal mas que em todo o caso, tinha conseguido uma recuperação fabulosa na prova de atletismo. No judo isso não é possível. Qualquer erro cometido numa fase mais inicial da prova e o(a) atleta poderá já não chegar ao ouro. A carga de imprevisibilidade associada à dependência das acções de um adversário, conferem-lhe o tal carácter de especificidade que não existe, na maior parte das outras modalidades. Não precisamos ir mais longe, se no passado sábado, durante a prova da Taça do Mundo de Judo (Lisboa), a Telma lhe tivessem corrido mal as “coisas” num primeiro combate já não haveria qualquer possibilidade de conquistar o ouro. No futebol sofre-se um golo e poder-se-à recuperar, como na maior parte dos desportos colectivos, no Judo se caímos em Ippon já não há nada a fazer. O exemplo de Telma é por isso extraordinário. Segunda vez que uso extraordinário.
Esta minha longuíssima introdução, quase que me fazem esquecer a verdadeira razão deste post. Porque a mais bela das lições que poderemos retirar do desporto não tem certamente que ver com o seu impacto mediático ou vedetismo passageiro, mas aquele que visa a auto-superação, aquele que sem uma causa aparente tem vontade de vencer para ser melhor do que ontem e não para ser melhor que o outro, mesmo que o seja inadvertidamente. Telma parece que cada combate que vence, fá-lo porque não o pode evitar e não por querer alcançar a fama. Telma é, depois de sagra-se be-campeã europeia, exactamente a mesma pessoa que era… simples, humilde e com uma vontade enorme de se superar, impondo e exigindo de si, a cada dia que passa, a cada meta atingida, um novo desafio. Isto é um perfil de excelência desportiva, o verdadeiro exemplo que deveríamos retirar sempre de um atleta de elite.
Não me parece que Telma dependa da fama para alcançar sucesso desportivo. Mas esta minha convicção, fazem-me, contudo, escrever e denunciar o ridículo da imprensa desportiva em Portugal. Porque sei que o destaque dos média é essencial para determinar alguns patrocínios de atletas de modalidades que de amadoras só tem mesmo o nome. Não que ninguém soubesse, ou saiba. Como é possível reinar a estupidificação futebolística em toda a imprensa ligada ao desporto.
Qual se não o meu espanto, quando ao abrir o jornal O Record de domingo passado, para ver o destaque atribuído à medalha de ouro conquistada por Telma no dia anterior, verifico conformado, uma página “habitual” de referencia com fotos e tudo, na parte dedicada às outras modalidades - como eles denominam. Até aqui nada de novo. Procurei observar a 1ª página, aquela que muitas vezes fazem com que o público compre o jornal. E o rectângulozinho minúsculo sem foto, no canto inferior direito perturbou a minha disposição para o resto do dia. Pensei eu, já agora vou verificar também a última página, aquela que normalmente atribui a medalha de ouro, prata e bronze da semana. Eis que surge esta revelação que me deixou com vontade de gritar ao mundo: Como é que é possível ? Como se ao fazer a pergunta já não estivesse conformado com a resposta.
Então e sem entrar em grandes detalhes de transcrição, proponho que registem. Medalha de ouro – Fernando Meira por ter sido campeão pelo Estugarda na Alemanha.
Medalha de Prata – José Mourinho por ter conquistado a Taça de Inglaterra.
Medalha de Bronze – Dividida entre Vanessa e Telma por terem ganho o ouro em duas etapas das respectivas Taças do Mundo.
Se não fosse tão grave seria até engraçado. De facto e parafraseando o Garcia Pereira este Portugal é, em muitos aspectos uma republica das bananas. Como é possível dar tão pouco destaque, mesmo sabendo que vivemos, num portugalofutebol.
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