domingo, 8 de fevereiro de 2009

Caetano e a Banda Cê tocam "Incompatibilidade de Génios"


Ás vezes penso, que por mais voltas que dê o meu entendimento musical, volto sempre a beber da fonte de um músico popular brasileiro chamado Caetano Veloso.

A génese começou no Rock e por mais que possamos ouvir coisas como os Beatles e os Stones, que são incomparáveis em todos os tempos, a verdade é que sinto um vislumbre deste som na música de Caetano. Também não é para menos. De todos os autores brasileiros incluindo Gilberto Gil, nenhum outro (em meu entender) conseguiu reproduzir, com resultados tão bons o som de toda uma geração. Excepção feita aos “Mutantes” de Rita Lee que deveriam justamente ser considerados uma das grandes bandas do seu tempo, em todas as línguas. Só que por mais que fosse maioritariamente anglo-saxonicos o seu universo inspirador, a verdade é que não eram ingleses nem americanos. Por isso, para o comum dos mortais anglo-ingleses ou anglo-americanos os “Mutantes” são um grupo totalmente desconhecido.

O Blues continua a ter em mim um efeito difícil de explicar…sendo talvez o género musical que mais me consegue emocionar para além da musica clássica. O Jazz é obrigatório. Ou não fosse ele também um grande disciplinador de ouvido. No melhor sentido do termo.

Sobre Caetano
Mas então que posso eu dizer, sem quebrar uma das principais marcas da sua personalidade musical e sua imensa capacidade de se reinventar, sem deixar de ser extremamente original.
Quando li o livro “autobiográfico” “Verdade Tropical” deparei-me, incrédulo, com uma quantidade impressionante de músicos que fizeram parte do seu imaginário musical. Inadvertidamente Caetano tinha-me aberto portas para explorar por exemplo aos 19 anos a musica de Chet Baker ou Cole Porter.
Ás vezes até pensamos num tipo de jogo de bonecas russas (Matrioskas), vamos abrindo (cada boneca) a inspiração da inspiração e chegamos sempre a qualquer coisa mais profunda, musicalmente mais sofisticada. A origem da origem.

Caríssimos leitores, as minhas desculpas pela dispersão e pouca objectividade deste texto. Na verdade queria-vos falar da sensacional versão de Caetano e a banda Cê do tema de João Bosco – “Incompatibilidade de Génios” ao vivo.
Sobre João Bosco teria muito pouco a dizer. Pouco, apenas e só porque é talvez para mim o mais importante fundador da sonoridade de um tipo de samba da MPB. Mais até do que qualquer um dos grandes ícones de sua geração. Como João Bosco há muito poucos músicos no mundo.

Mas voltando ao tema e à versão de Caetano, não sem antes referir que este tem uma forma muito própria de se apropriar de uma canção. É curioso, porque é talvez até quando Caetano está mais confortável em palco, quando interpreta uma música de outro autor, fazendo sobressair sempre aspectos que vê na canção, embora lhe parecessem ocultos. E exactamente por estarem ocultos, chega muitas vezes a um resultado absolutamente modificador do universo da canção. Um exemplo dessa sua condição natural de intérprete é “Cucurrucucu Paloma”. A versão de Caetano ao vivo no álbum Fina Estampa é arrepiante de tão bem conseguida. E se ouvirmos a música original mexicana, nem acreditamos tratar-se do mesmo tema.

Em “incompatibilidade de Génios” Caetano homenageia o que segundo ele é: Um acontecimento na historia do samba. Por um dos músicos, exactamente João Bosco, que será um dos melhores violões de sempre da historia do violão Brasileiro. Um título longo que parece explicar o que nem precisa de ser explicado pela letra de Aldir Blanc.
Mais um caso de como Caetano soube ler o talento da sua jovem banda. Que começo impetuoso.


Tiago Pereira da Silva
Youtube: Caetano e Banda Cê tocam "incompatibilidade de Génios"

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