quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Dez guitarristas de Blues para ouvir antes de «viver»!
Nota Introdutória:
Apesar de alguns dos guitarristas nomeados não terem sua criação musical directamente associada à genese do Blues... Alguns dos seus trabalhos, fazem só por si, um extraordinário favor ao estilo musical citado.
Posto isto e sem qualquer ordem de importância.
1- Jimi Hendrix
2 - Stevie Ray Vaughan
3 - Albert Collins
4 - Albert King
5 - Eric Clapton
6 - Jeff Beck
7 - Muddy Waters
8 - B.B King
9 - Robert Johnson
10 - Buddy Guy (clarooooooooo)
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Kings of Leon - I Want you
Get back on track, pick me up some bottles of booze
Fickle freshman, probly thinks she's cooler than you
A hay ride at 5, everybodys comin around
So go press you skirt, word is there's a new girl in town...
I call shotgun, you can play your RnB tunes
The fellow?, it always comes a little too soon
The land of the free, freshened up from babyfaced shame
Put your eyes on me, and I know a place that we can't get away...
Just say I want you, just exactly like I used to
Cos baby this is ooooonly bringin me down...
Home-boy's so proud, finally got the video proof
The night vision shows she was only duckin the truth
It's heavy I know, black guy with the gift down below
A choke and a gag, she spit up n came back for more...
She sed I want you, just exactly like I used to
And baby this is ooooonly bringin me down...
She sed I want you
I want you, just exactly like I used to
And baby this is oooonly bringin me down...
I said I want you, just exactly like I used to
And baby this is oooonly bringin me down
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Só as mães são felizes
"Você nunca varou
A Duvivier às 5
Nem levou um susto Saindo do Val Improviso
Era quase meio-dia
No lado escuro da vida
Nunca viu Lou Reed
"Walking on the wild side"
Nem Melodia transvirado
Rezando pelo Estácio
Nunca viu Allen Ginsberg
Pagando michê na Alaska
Nem Rimbaud pelas tantas
Negociando escravas brancas
Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem nunca quis ver a face de Deus
Já frequentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella às 15 pras 7
Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela
Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela
Você nunca sonhou
Ser currada por animais
Nem transou com cadáveres?
Nunca traiu teu melhor amigo
Nem quis comer a tua mãe?"
Cazuza
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Cazuza - poeta urbano
Faz parte do meu show
Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Meu amor, meu amor, meu amor...
Te pego na escola e encho a tua bola com todo o meu amor
Te levo pra festa e testo o teu sexo com ar de professor
Faço promessas malucas tão curtas quanto um sonho bom
Se eu te escondo a verdade, baby, é pra te proteger da solidão
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Confundo as tuas coxas com as de outras moças
Te mostro toda a dor
Te faço um filho
Te dou outra vida pra te mostrar quem sou
Vago na lua deserta das pedras do Arpoador
Digo 'alô' ao inimigo
Encontro um abrigo no peito do meu traidor
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num 'clip' sem nexo
Um pierrot retrocesso
meio bossa nova e 'rock'n roll'
Faz parte do meu show
Faz parte do meu show, meu amor
Meu amor, meu amor, meu amor...
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Reconvexo
Eu sou a chuva que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo
Caetano Veloso
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não
Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo
Caetano Veloso
sábado, 3 de outubro de 2009
A mais lindaaaaaaa........
Você, Você
Chico Buarque
Que roupa você veste, que anéis?
Por quem você se troca?
Que bicho feroz são seus cabelos
Que à noite você solta?
De que é que você brinca?
Que horas você volta?
Seu beijo nos meus olhos, seus pés
Que o chão sequer não tocam
A seda a roçar no quarto escuro
E a réstia sob a porta
Onde é que você some?
Que horas você volta?
Quem é essa voz?
Que assombração
Seu corpo carrega?
Terá um capuz?
Será o ladrão?
Que horas você chega?
Me sopre novamente as canções
Com que você me engana
Que blusa você, com o seu cheiro
Deixou na minha cama?
Você, quando não dorme
Quem é que você chama?
Pra quem você tem olhos azuis
E com as manhãs remoça
E à noite, pra quem
Você é uma luz
Debaixo da porta?
No sonho de quem
Você vai e vem
Com os cabelos
Que você solta?
Que horas, me diga que horas, me diga
Que horas você volta?
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Poesia poesia poesia
A terra
A terra verde se entregou
a tudo o que é amarelo, ouro, colheitas,
torrões, folhas e grão,
quando, porém, o outono se levanta
com seu longo estandarte
és tu a quem eu vejo,
é para mim a tua cabeleira
a que reparte as espigas.
Eu vejo os monumentos
de antiga pedra rota,
porém se toco
a cicatriz de pedra
teu corpo me responde,
meus dedos reconhecem
de pronto, estremecidos,
tua quente doçura.
Passo por entre heróis
recém-condecorados
pela pólvora e a terra
e detrás deles, muda,
com teus pequenas passos,
és ou não és?
Ontem, quando arrancaram
com raiz, para vê-lo,
a velha árvore anã,
te vi sair me olhando
de dentro das sedentas,
torturadas raízes.
E quando o sono vem
e me estende e me leva
a meu próprio silêncio,
há um grande vento branco
que derruba meu sono
e dele caem as folhas,
caem como punhais,
punhais que me dessangram.
Cada ferida tem
a forma de tua boca.
Pablo Neruda in Versos do Capitão
Tradução de Thiago de Mello
Fragilidade
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade in A rosa do Povo
Aurora
Eu abracei a aurora de verão.
Nada ainda se mexia na fachada dos palácios. A água estava
morta. Acampamentos de sombras não deixavam a trilha do
bosque. Eu marchava, despertando hálitos vivos e cálidos, e as
pedrarias espiavam, e as alas se levantavam sem um som.
A primeira missão foi, num atalho já cheio de centelhas frescas
e pálidas, uma flor que me disse seu nome.
Sorri para a loira wasserfall que se descabelava através dos
pinheiros; reconheci a deusa no cimo de prata.
Então, um a um, levantei os véus. Nas alamedas, agitando os
braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na cidade grande
ela fugia entre cúpulas e campanários, e correndo como um
mendigo entre docas de mármore, eu a caçava.
No alto da trilha, perto de um bosque de louros, eu a envolvi
com seu monte de véus e senti um pouco seu corpo imenso. A
aurora e a criança caíram na beira do bosque.
Ao acordar, meio-dia.
Arthur Rimbaud in Iluminuras
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
A terra verde se entregou
a tudo o que é amarelo, ouro, colheitas,
torrões, folhas e grão,
quando, porém, o outono se levanta
com seu longo estandarte
és tu a quem eu vejo,
é para mim a tua cabeleira
a que reparte as espigas.
Eu vejo os monumentos
de antiga pedra rota,
porém se toco
a cicatriz de pedra
teu corpo me responde,
meus dedos reconhecem
de pronto, estremecidos,
tua quente doçura.
Passo por entre heróis
recém-condecorados
pela pólvora e a terra
e detrás deles, muda,
com teus pequenas passos,
és ou não és?
Ontem, quando arrancaram
com raiz, para vê-lo,
a velha árvore anã,
te vi sair me olhando
de dentro das sedentas,
torturadas raízes.
E quando o sono vem
e me estende e me leva
a meu próprio silêncio,
há um grande vento branco
que derruba meu sono
e dele caem as folhas,
caem como punhais,
punhais que me dessangram.
Cada ferida tem
a forma de tua boca.
Pablo Neruda in Versos do Capitão
Tradução de Thiago de Mello
Fragilidade
Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial - inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam ares, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
Carlos Drummond de Andrade in A rosa do Povo
Aurora
Eu abracei a aurora de verão.
Nada ainda se mexia na fachada dos palácios. A água estava
morta. Acampamentos de sombras não deixavam a trilha do
bosque. Eu marchava, despertando hálitos vivos e cálidos, e as
pedrarias espiavam, e as alas se levantavam sem um som.
A primeira missão foi, num atalho já cheio de centelhas frescas
e pálidas, uma flor que me disse seu nome.
Sorri para a loira wasserfall que se descabelava através dos
pinheiros; reconheci a deusa no cimo de prata.
Então, um a um, levantei os véus. Nas alamedas, agitando os
braços. Pela planície, onde a denunciei ao galo. Na cidade grande
ela fugia entre cúpulas e campanários, e correndo como um
mendigo entre docas de mármore, eu a caçava.
No alto da trilha, perto de um bosque de louros, eu a envolvi
com seu monte de véus e senti um pouco seu corpo imenso. A
aurora e a criança caíram na beira do bosque.
Ao acordar, meio-dia.
Arthur Rimbaud in Iluminuras
Tradução: Rodrigo Garcia Lopes e Maurício Arruda Mendonça
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Lovin' Spoonful - Daydream
What a day for a daydream
What a day for a daydreamin' boy
And I'm lost in a daydream
Dreamin' 'bout my bundle of joy
And even if time ain't really on my side
It's one of those days for taking a walk outside
I'm blowing the day to take a walk in the sun
And fall on my face on somebody's new-mown lawn
I've been having a sweet dream
I been dreaming since I woke up today
It's starring me and my sweet thing
'Cause she's the one makes me feel this way
And even if time is passing me by a lot
I couldn't care less about the dues you say I got
Tomorrow I'll pay the dues for dropping my load
A pie in the face for being a sleepy bull toad
And you can be sure that if you're feeling right
A daydream will last long into the night
Tomorrow at breakfast you may prick up your ears
Or you may be daydreaming for a thousand years
What a day for a daydream
Custom made for a daydreaming boy
And now I'm lost in a daydream
Dreaming 'bout my bundle of joy
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
worried about you
Sometime I wonder why you do these things to me
Sometime I worry girl that you ain't in love with me
Sometime I stay out late, yeah I'm having fun
Yes, I guess you know by now you ain't the only one
Baby, sweet things that you promised me babe
Seemed to go up in smoke
Yeah, vanish like a dream
I wonder why you do these things to me
Cause I'm worried
I just can't seem to find my way, baby
Ooh, the nights I spent just waiting on the sun
Just like your burned out cigarette
You threw away my love
Why did you do that baby
I wonder why, why you do these things to me
I'm worried
Lord, I'll find out anyway
Sure going to find myself a girl someday
Till then I'm worried
Yeah, I just can't seem to find my way
Yeah, I'm a hard working man
When did I ever do you wrong?
Yeah, I get all my money baby
Bring it, bring it all home
Yeah, I'm telling the truth
Sweet things, sweet things that you promised me
Well I'm worried, I just can't seem to find my way, baby
I'm worried about you
I'm worried about you
Tell you something now
Worried 'bout you, child
Worried 'bout you, woman
Yeah, I'm worried
Lord, I'll find out anyway
Sure as Hell I'm going to find that girl someday
Till then I'm worried
Lord, I just can't seem to find my way
(M. Jagger/K. Richards)
domingo, 13 de setembro de 2009
Let it loose
Who's that woman on your arm all dressed up to do you harm
And I'm hip to what she'll do, give her just about a month or two.
Bit off more than I can chew and I knew what it was leading to,
Some things, well, I can't refuse,
One of them, one of them the bedroom blues.
She delivers right on time, I can't resist a corny line,
But take the shine right off you shoes,
Carryin', carryin' the bedroom blues.
Oo...
In the bar you're getting drunk, I ain't in love, I ain't in luck.
Hide the switch and shut the light, let it all come down tonight.
Maybe your friends think I'm just a stranger,
Some face you'll never see no more.
Let it all come down tonight.
Keep those tears hid out of sight, let it loose, let it all come down.
(M. Jagger/K. Richards)
Aconteceu-me em III actos
Sabes! Como quando os olhos te dizem:
- Que procuram já nem sei mais o quê.
Exaustos das lágrimas que não reconhecem mais, o local de origem
Pensei até que o orgulho desorientado,
me levasse a um outro sitio.
Preciso de sentir o pulso de ser humano outra vez
Respirar o ar de meus irmãos escravos
Deixar-me perder em todas as frentes
Ser a antítese de heroina e ser devoto das emoções
Como na conversa que tivemos,
Quando o chão mais estável – foi lama
Quando a ausência mais profunda - foi tua.
E como se te apropriasses do espirito de quem te descreve:
Reveste toda esta folha de negro,
Como se a lava profunda e seca
te alcançasse
- Contagia-te, arrefece desenfreadamente
E vê apenas como ilusão, a tua emoção inicial.
Desapropria-te da memória áspera dos tempos
Se eu pudesse dar mais,
Criaria um verso indiferente a tudo o que nos dizem.
Para juntos navegarmos neste estranho lago ao relento
Onde me confesso imortal na dor que trazes
E tanto medo...
Quase como qualquer circunstancia militar
Onde a cor da luz nunca é possibilidade.
Por isso vejo o espaço amplo do negro
Que cobre as nossas faces alisadas por este vento,
De quem trouxe tudo à tona, meu camarada,
Separação prometida, lágrimas sem rosto.
- E se te havia dito: para “ouvires os olhos”
É porque sei,
que a paz virá da ampla luz do teu templo.
13 de Setembro
Rodrigo Camelo
Sabes! Como quando os olhos te dizem:
- Que procuram já nem sei mais o quê.
Exaustos das lágrimas que não reconhecem mais, o local de origem
Pensei até que o orgulho desorientado,
me levasse a um outro sitio.
Preciso de sentir o pulso de ser humano outra vez
Respirar o ar de meus irmãos escravos
Deixar-me perder em todas as frentes
Ser a antítese de heroina e ser devoto das emoções
Como na conversa que tivemos,
Quando o chão mais estável – foi lama
Quando a ausência mais profunda - foi tua.
E como se te apropriasses do espirito de quem te descreve:
Reveste toda esta folha de negro,
Como se a lava profunda e seca
te alcançasse
- Contagia-te, arrefece desenfreadamente
E vê apenas como ilusão, a tua emoção inicial.
Desapropria-te da memória áspera dos tempos
Se eu pudesse dar mais,
Criaria um verso indiferente a tudo o que nos dizem.
Para juntos navegarmos neste estranho lago ao relento
Onde me confesso imortal na dor que trazes
E tanto medo...
Quase como qualquer circunstancia militar
Onde a cor da luz nunca é possibilidade.
Por isso vejo o espaço amplo do negro
Que cobre as nossas faces alisadas por este vento,
De quem trouxe tudo à tona, meu camarada,
Separação prometida, lágrimas sem rosto.
- E se te havia dito: para “ouvires os olhos”
É porque sei,
que a paz virá da ampla luz do teu templo.
13 de Setembro
Rodrigo Camelo
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
Somewhere down the road - Feist
Somewhere down the road
I'll see you again
I don't know when
And I know you'll be the same
And I know I'll be the same
Unchanged
You'll free me again
But I'll never be free
Of memories
And I know your life will change
And I know my life will change
Unchained
Unchained
Unchained
I'll drift away
Like roses on the sea
Stars up in the sky
Where they're always alone
They're on their own
And I know they'll always shine
And I know that they'll always shine
On time
"The hotest state original soundtrack"
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Um talvez Buarquiano...
Hoje acordei embriagado do universo Buarquiano…
Talvez fruto do balanço de mais uma festa do Avante. Talvez porque vejo reflectido no cancioneiro deste poeta/compositor maior da nossa língua reminiscências do espírito que se vive na Festa do Avante. Talvez porque seja de esquerda como o Chico, ou até da esquerda do Chico. Talvez porque, mais uma vez, falaram-me do deslumbrante concerto que Chico deu na festa em 1979 no alto da ajuda; numa época em que para ver os Brasileiros a sério – “precisávamos” ir ao Avante.
Talvez estivesse determinado à partida. Talvez porque em Setembro de 1979 estaria a pouco mais de um mês de nascer. Talvez porque saiba que minha mãe esteve nesse concerto.
É curioso pensar que Chico, em Setembro de 1979, encontrava-se com trinta e cinco anos.
Nenhuma destas letras tem propriamente um carácter político. Mas escolhi o elo perdido, mas comum que existe nas três. Deliciem-se com “Lola” porque ela sempre me deixou mudo.
Lola
Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia
strong>ong>Me deixe mudo
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda
Samba do grande amor
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Talvez fruto do balanço de mais uma festa do Avante. Talvez porque vejo reflectido no cancioneiro deste poeta/compositor maior da nossa língua reminiscências do espírito que se vive na Festa do Avante. Talvez porque seja de esquerda como o Chico, ou até da esquerda do Chico. Talvez porque, mais uma vez, falaram-me do deslumbrante concerto que Chico deu na festa em 1979 no alto da ajuda; numa época em que para ver os Brasileiros a sério – “precisávamos” ir ao Avante.
Talvez estivesse determinado à partida. Talvez porque em Setembro de 1979 estaria a pouco mais de um mês de nascer. Talvez porque saiba que minha mãe esteve nesse concerto.
É curioso pensar que Chico, em Setembro de 1979, encontrava-se com trinta e cinco anos.
Nenhuma destas letras tem propriamente um carácter político. Mas escolhi o elo perdido, mas comum que existe nas três. Deliciem-se com “Lola” porque ela sempre me deixou mudo.
Lola
Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia
Sabia
Me apagando filmes geniais
Rebobinando o século
Meus velhos carnavais
Minha melancolia
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
Sabia
Que ia acontecer você, um dia
E claro que já não me valeria nada
Tudo o que eu sabia
Um dia
strong>ong>Me deixe mudo
Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda
Samba do grande amor
Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira
Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador
Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira
Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira
Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador
Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira
Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor
Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
A uma mulher
Uma mulher
Parece que a vejo curvada sob a escrivaninha
E avisto verdade em todos os seus vocábulos!
Que evita o óbvio em que nos deitamos
E que até da perpétua premissa banal,
Acrescenta um quê - transcendental.
A que, em cada vão acaso
Torna o driblar profundo do tempo
A sua lógica existencial.
Basta multiplicar sua prosa no mundo
E rimar, quando acrescentamos seu sal.
Há qualquer coisa de início, nela.
Preciso chegar-lhe, alcançar-lhe o Tu
Para poder dizer-lhe:
Escalamos os dois o medo na essência,
Que desconheces, mas que abastece o meu sinal
E nem quando a Barca de Gil afunda
Prevejo fraqueza na mulher, onde a fé abunda.
Porque temperas todos espaços em que te vês,
Com a tua natureza profunda.
Sonhas horas inteiras - a navegar
És viagem, és a rota de Espinosa
Mesmo quando és antítese igual:
A uma leve e carinhosa rebeldia.
Pareces parar todos os momentos
Provavelmente para abastece-los de ti.
Ás vezes penso, como quem te celebra
Minha camarada da verdade mutua,
Da que ainda nem caminhámos juntos...
Mas cada gesto teu denuncia
Que nem precisamos desafiar a sorte
Exigimos só o sul como caminho,
Avistar os que vivem famintos e ao relento,
De dizer apenas: hoje é o dia
E partir a Terra entre dois mundos
|Porque és o avesso cósmico que ela precisa |
Julho 2009
Parece que a vejo curvada sob a escrivaninha
E avisto verdade em todos os seus vocábulos!
Que evita o óbvio em que nos deitamos
E que até da perpétua premissa banal,
Acrescenta um quê - transcendental.
A que, em cada vão acaso
Torna o driblar profundo do tempo
A sua lógica existencial.
Basta multiplicar sua prosa no mundo
E rimar, quando acrescentamos seu sal.
Há qualquer coisa de início, nela.
Preciso chegar-lhe, alcançar-lhe o Tu
Para poder dizer-lhe:
Escalamos os dois o medo na essência,
Que desconheces, mas que abastece o meu sinal
E nem quando a Barca de Gil afunda
Prevejo fraqueza na mulher, onde a fé abunda.
Porque temperas todos espaços em que te vês,
Com a tua natureza profunda.
Sonhas horas inteiras - a navegar
És viagem, és a rota de Espinosa
Mesmo quando és antítese igual:
A uma leve e carinhosa rebeldia.
Pareces parar todos os momentos
Provavelmente para abastece-los de ti.
Ás vezes penso, como quem te celebra
Minha camarada da verdade mutua,
Da que ainda nem caminhámos juntos...
Mas cada gesto teu denuncia
Que nem precisamos desafiar a sorte
Exigimos só o sul como caminho,
Avistar os que vivem famintos e ao relento,
De dizer apenas: hoje é o dia
E partir a Terra entre dois mundos
|Porque és o avesso cósmico que ela precisa |
Julho 2009
terça-feira, 1 de setembro de 2009
domingo, 30 de agosto de 2009
Eddie Vedder - Society
Composição: Jerry Hannan
Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...
Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...
sábado, 8 de agosto de 2009
Haiti - Caetano Veloso
Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
A única reflexão que pude fazer!
Caetano interpela o ouvinte, propondo que assista no “adro da Fundação Casa de Jorge Amado”
a uma “fila de soldados, quase todos pretos, dando porrada na nuca de malandros pretos”. Esta citação ou invocação do alto do pelourinho em Salvador da Bahia, cria uma analogia fiel ao local onde eram barbaramente torturados os escravos negros. A denuncia dos resquícios da escravidão, um “apartheid” disfarçado em que “sempre” viveu o Brasil.
“Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)”
Nestes versos Caetano ambiciona promover a reflexão sobre o paradoxo da agressão de um irmão negro sobre o outro. E vai ainda mais longe quando “questiona” se o massacre a cidadãos “menos” negros não servirá de exemplo para mostrar a “todo o mundo” como os malandros e pobres devem ser tratados - Avesso de ironia. Claro que o satirizar classes e feno tipos do profundo ser do Brasil é um grito de revolta, pelo jogo de palavras e a forma como estas são cantadas na voz de Caetano.
“E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar
por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados”
A acusação de Caetano e a intertextualidade com os escritos do passado, lembrando a obra do importantíssimo Joaquim Nabuco, fazem destes versos a consideração de que nem sequer influencia, demove, des-possibilita, o facto de que atenção de todos possa estar direccionada para a barbárie, porque esta é quase inevitável. Ampliada pela expressão “E não importa se olhos do mundo inteiro”.
“E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão”
Caetano ousa dizer que nada parece ter significado quando os direitos dos cidadãos são constantemente violados. Comparando inevitavelmente, para reforçar a sua posição, com conceitos de profunda beleza estética. Demonstrando desde o apego à música de Paul Simon, ao deslumbramento físico das marcas arquitectónicas lusitanas, do alto do pelourinho (Salvador da Bahia) e a lente do programa “Fantástico” do Brasil. Nem sequer a expressão homérica do desenvolvimento de uma nação.
"Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui"
Chegado ao presumível Refrão, Caetano antecipa-o promovendo, mais uma vez, através da interpelação dos possíveis ouvintes à reflexão sobre o Haiti. Na época desta letra é sabido que esta pequena região do Caribe atravessava um dos períodos mais negros da sua história, e muito por força dos Senhores poderosos do Norte (país do mundo, segundo dados da ONU onde se praticavam as maiores violações à Declaração Universal dos Direitos do Homem).
Quando Caetano “ousa” mais uma vez, desta feita, no recurso ao refrão, através da afirmativa “O Haiti é aqui, parece querer dizer aos governadores Brasileiros que em muitos sentidos, o Brasil é também grotesco quanto à quantidade de atrocidades que acontecem, minam e descredibilizam o país, por tanta corrupção, violações dos direitos dos cidadãos, mortes e sangue derramado. Quando afirma “O Haiti não é aqui”, parece, dirigir-se ao cidadão comum, recorrendo a uma afirmativa de esperança, negando para si próprio a possibilidade de um Brasil assim, Reflecte... Brasil pode e deve ser diferente, um projecto de nação totalmente oposto, onde, principalmente, não existam cidadãos de 2ª e 3ª.
Ao longo da letra Caetano vai fazendo sucessivas denuncias e ataques, a classes podres do Brasil, como na expressão “E na TV se você vir um deputado em pânico, Mal dissimulado, Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, Qualquer, qualquer, Plano de educação, Que pareça fácil, Que pareça fácil e rápido, E vá representar uma ameaça de democratização, do ensino de primeiro grau” apelando mais uma vez para um forte sentido crítico de um povo em formação.
“E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual, Notar um homem mijando na esquina da rua
sobre um saco brilhante de lixo do Leblon”.
Nesta fase da letra Caetano remete-nos para o universo - Rio de Janeiro, conformando-se com a realidade dos assaltos e furtos a veículos automóveis, sendo uma inevitabilidade a passagem por sinais vermelhos a toda a hora, muitas vezes, pura sobrevivência. Uma das temáticas que o assombra como morador daquela cidade, é a poluição crescente em alguns bairros do Rio de Janeiro, o lixo da zona nobre do Leblon, envergonha qualquer pessoa em qualquer parte do mundo.
“E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
diante da chacina 111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos”
Este primeiro verso abrilhantado pela inevitável, mas inteligentíssima, pausa musical aquando do término do verso, conduzem, finalmente Caetano sobre um dos intuitos desta música, marcar uma posição e dizer algo à sociedade civil Brasileira, sobre o crime na prisão de São Paulo – Carandiru. Crime horrendo, hoje já sobejamente falado, mas como a simples intuição liberta. A recordação e memória daquele dia trágico ficou, como que, numa camada mais profunda da memória, de alguns dos sucessivos governadores Paulistas, ou não tivesse o ambiente prisional do estado de São Paulo ganho contornos, completamente devastadores nos últimos 4 anos.
Caetano deambula por diversas realidades, do quotidiano violento do Brasil moderno, que continuam extremamente actuais. As suas profundíssimas reflexões, amplificadas pela captação das diversas e complexas realidades que o atormentam e que o levam, aqui, permitam-me, de forma absolutamente inteligente, convidar o leitor ou ouvinte, através de interpelações, a rebater sobre estas evidências diárias, de uma nação que morre sufocada, financeiramente, por uma divida externa e que relega a, para não citar outros exemplos, a educação sempre para 2º plano.
Tiago Pereira da Silva
domingo, 2 de agosto de 2009
CÂNTICO NEGRO - JOSÉ RÉGIO
"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
A ti ...Que me iniciaste em Régio.
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
A ti ...Que me iniciaste em Régio.
Glberto Gil - Drão
Drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura...
Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
drão!
drão!
O amor da gente
É como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar
Plantar nalgum lugar
Ressuscitar no chão
Nossa semeadura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Dura caminhada
Pela estrada escura...
Drão!
Não pense na separação
Não despedace o coração
O verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito
Imenso monolito
Nossa arquitetura
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Nossa caminhadura
Cama de tatame
Pela vida afora
Drão!
Os meninos são todos sãos
Os pecados são todos meus
Deus sabe a minha confissão
Não há o que perdoar
Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão
Quem poderá fazer
Aquele amor morrer
Se o amor é como um grão
Morre, nasce trigo
Vive, morre pão
drão!
drão!
sexta-feira, 24 de julho de 2009
Memória Musical
Por: Tiago Pereira da Silva
De um maneira ou de outra, todos gostamos de perder algum tempo a elaborar um Cd com musicas que se apoderaram da nossa existência.
No outro dia ao fazer um CD de músicas só com temas tocados ao vivo, reparei, um pouco incrédulo que continha precisamente 24 musicas de 7 registos e de 7 autores diferentes.
Não, caro leitor! Não estou a fazer nenhuma suposição afecta à temática da numerologia.
É engraçado como funciona a nossa memória musical. Permite-nos coisas tão “fascinantes” como: no momento exacto do inicio de cada faixa, com o som do público a começar a irromper, as muito naturais pausas entre as mesmas, sabemos, muito antes de ouvir um qualquer instrumento inicia-la, que música se vai iniciar. Ainda para mais tratando-se, em muitos casos, de um numero considerável de musicas.
Já teremos todos de uma forma ou de outra pensado nisto. É como se o som do público de cada concerto ficasse gravado como uma musica, na nossa memória. E na realidade fica. Aquele som denuncia a faixa ou a musica que sabemos começar em instantes... como se o som do público fizesse parte da própria melodia.
Let´s Dance - David Bowie ou não será antes SRV?
Por: Tiago Pereira da Silva
A propósito de Let´s Dance de David Bowie, que para mim surge nos anos 80 como que um recado de que ainda era possível fazer grandes temas de rock, sobretudo para a geração de Bowie, Reed, e claro a de Jagger, Clapton, McCartney e outros; mas dizia eu que re-ouvir Let´s Dance fez-me lembrar, veja só caro leitor (o mais que improvável comentário ou comparação), um testemunho de Chico Buarque sobre a poesia de João Cabral de Melo Neto. Chico dizia que entre outras coisas, parecer uma poesia polida em cimento, quase fria, anti-derramamento emocional, mas capaz de nos emocionar brutalmente.
Este paralelismo com o universo da poesia, e a por demais necessária para mim, comparação com o universo desse talentosíssimo e saudoso guitarrista chamado: Stevie Ray Vaughan.
Este é o senhor que ouvimos no tema de Bowie, que certamente à época fez milhares de adolescentes (pretendentes a guitarrista) procurarem conhecer o guitarrista de Let´s Dance, de tão simples e bem feita que é a sua contribuição no tema.
Mas é totalmente escusado dizer que SRV foi, é (porque o seu legado vive) muito mais do que um grande guitarrista… e até parece redutor invoca-lo, através desta musica (não sua e que pouco tem que ver com o seu património musical) de DB.
Mas a verdade é que ouvi-lo nos créditos finais do inconsequente filme “O Barco do Rock” através desta música, fez-me recordar a verdadeira paixão que tenho por esta referência. Para mim e com uma considerável carga de subjectividade (tantos seriam os subgéneros dentro do mesmo instrumento) o guitarrista mais influente que apareceu pós-Hendrix. Aliás é curioso que ninguém consegue se aproximar tanto da sonoridade de Jimi e ao mesmo tempo ter uma marca tão pessoal. Por exemplo, a muitos anos luz de distancia, John Mayer quer sugar tanto a influencia de SRV sobre a sua forma de interpretar aquele instrumento que acaba por não criar nada de muito seu. E atenção que tenho uma profunda admiração pela forma de Mayer tocar Rock-Blues. Mas só para citar um exemplo, que demonstra que o que SRV fez em tão pouco tempo é extraordinariamente difícil.
Tal como a poesia de João Cabral, não é fácil (na minha opinião) entrar na música de SRV, mas depois dá a sensação como acontece quando se lê (João Cabral) que não existe mais nada.
Como ele fez por exemplo com «Little Wing» de Hendrix – em que se apropriou de tal forma do tema, que já não conseguimos ouvir mais nenhuma versão. E como é poeticamente agressiva a sua forma de tocar, com um nº de cordas de deixar mudo quase todos os pretendentes a próximos SRV. Agressiva no maravilhoso sentido do termo. É difícil até explicar!
Coloco então um desafio ao leitor e a propósito do post: coloque Let´s Dance num volume considerável, (vinil seria ideal) …depois é só esperar pelo aguardado 01:40 da música e perceber que aquela entrada de Vaughan é inconfundível. Ninguém tocava daquela maneira. Aos 03:27 David Bowie deixa SRV solar até, silenciar-se a música, nessa altura o caro leitor já terá sido levado até Ayers Rock na Austrália.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Em III Actos
I Acto
Prólogo Inicial:Se eu fosse rio
Ela deita-se sobre o meu verso,
Sem rumo, sem mar
E eu sei me ausente e imerso
No líquido, onde a dor foi parar!
És humilde, mãe de húmus mil, se
Até na dor – vejo-te minha sabedoria
Acompanhas o corpo e não permites que haja - se
Queres alma, coração e pura alegoria
E quando finalmente colocares-me as mãos,
Já serei rio. Mas sei que ainda desespero.
Terias de entender a tal terra sem Nãos,
Onde sou Velho Chico, onde sei que te espero.
Não foste convidada a entrar nesta terra
E é difícil aceitar que ausente,
Estás muito mais em mim. Mas enterra
A tua tradução, nessa imensa margem presente
Naquela onde virás num tronco assente,
Fintando a nuvem escura à luz do sol,
Agora que avistas algo e vens como presente,
Ao som da água em si bemol
Convoco o clube inteiro da esquina - em prosa
Minas e ouro preto - em carros de boi
Escondo-me “apenas” de Drummond e Guimarães Rosa
É que só dentro dos livros consigo dizer-lhes: Oi !
Agora que sou, no teu livro
Não interessa se bicho, homem, rio ou ar
Vejo o teu sertão e é para onde migro
Porque se sou rio, ela tem que ser mar
II Acto
Prólogo Inicial: O ciúme é humilde
O ciúme é algo que não vou estudar,
Não quero entender-te dentro desse critério.
Tem algo de humilde e que nos faz corar
Deixo, por isso, o entendimento para o mistério...
Sei também que ainda o guardas com um dedo
Como se pudesses prender essa palavra!
A metáfora, intimida e cria o medo
E nasce outra vez, raiz brava
Porque como diria alguém que eu conheço:
Deus é a parte do medo que todos temos.
Por isso existe a fé. E é onde permaneço.
Então e a bíblia – por quanto tempo a lemos?
Perguntarás, tu e tu - irmão.
A desconhecida sombra na parede tem resposta,
Também é a memória do homem em criação.
E tudo torna à forma composta.
Alta noite e pobre de mim sou eu.
Desses, com eco de Cecília
Nem Arnaldo avista um outro que – eu
Estou só. Apesar de invocar-te em tudo o que lia.
Como posso eu, não te ver meu transpirar ?
Se te vejo em tudo o que se faz.
Alguns vêm de visita, outros para ficar
Tu és entendimento, a promessa que se traz
Não quero um terceiro acto
Vou para onde comecei
Onde sou mendigo ou um condor nato.
Onde vejo-me rio ou o melhor que sei
Rodrigo Camelo, 21 de Julho 2009
Prólogo Inicial:Se eu fosse rio
Ela deita-se sobre o meu verso,
Sem rumo, sem mar
E eu sei me ausente e imerso
No líquido, onde a dor foi parar!
És humilde, mãe de húmus mil, se
Até na dor – vejo-te minha sabedoria
Acompanhas o corpo e não permites que haja - se
Queres alma, coração e pura alegoria
E quando finalmente colocares-me as mãos,
Já serei rio. Mas sei que ainda desespero.
Terias de entender a tal terra sem Nãos,
Onde sou Velho Chico, onde sei que te espero.
Não foste convidada a entrar nesta terra
E é difícil aceitar que ausente,
Estás muito mais em mim. Mas enterra
A tua tradução, nessa imensa margem presente
Naquela onde virás num tronco assente,
Fintando a nuvem escura à luz do sol,
Agora que avistas algo e vens como presente,
Ao som da água em si bemol
Convoco o clube inteiro da esquina - em prosa
Minas e ouro preto - em carros de boi
Escondo-me “apenas” de Drummond e Guimarães Rosa
É que só dentro dos livros consigo dizer-lhes: Oi !
Agora que sou, no teu livro
Não interessa se bicho, homem, rio ou ar
Vejo o teu sertão e é para onde migro
Porque se sou rio, ela tem que ser mar
II Acto
Prólogo Inicial: O ciúme é humilde
O ciúme é algo que não vou estudar,
Não quero entender-te dentro desse critério.
Tem algo de humilde e que nos faz corar
Deixo, por isso, o entendimento para o mistério...
Sei também que ainda o guardas com um dedo
Como se pudesses prender essa palavra!
A metáfora, intimida e cria o medo
E nasce outra vez, raiz brava
Porque como diria alguém que eu conheço:
Deus é a parte do medo que todos temos.
Por isso existe a fé. E é onde permaneço.
Então e a bíblia – por quanto tempo a lemos?
Perguntarás, tu e tu - irmão.
A desconhecida sombra na parede tem resposta,
Também é a memória do homem em criação.
E tudo torna à forma composta.
Alta noite e pobre de mim sou eu.
Desses, com eco de Cecília
Nem Arnaldo avista um outro que – eu
Estou só. Apesar de invocar-te em tudo o que lia.
Como posso eu, não te ver meu transpirar ?
Se te vejo em tudo o que se faz.
Alguns vêm de visita, outros para ficar
Tu és entendimento, a promessa que se traz
Não quero um terceiro acto
Vou para onde comecei
Onde sou mendigo ou um condor nato.
Onde vejo-me rio ou o melhor que sei
Rodrigo Camelo, 21 de Julho 2009
David Bowie - Word on a wing
David Bowie
"Word On A Wing"
In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
I don't need another change, still you forced away into my scheme of things
You say we're growing, growing heart and soul
In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
Sweet name, you're born once again for me
Sweet name, you're born once again for me
Oh sweet name, I call you again, you're born once again for me
Just because I believe don't mean I don't think as well
Don't have to question everything in heaven or hell
Lord, I kneel and offer you my word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
My prayer flies like a word on a wing
Does my prayer fit in with your scheme of things?
In this age of grand illusion you walked into my life out of my dreams
Sweet name, you're born once again for me
just as long as I can see, I'll never stop this vision flowing
I look twice and you're still flowing
Just as long as I can walk
I'll walk beside you, I'm alive in you
Sweet name, you're born once again for me
And I'm ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh, ready to shape the scheme of things
Ooh...
Lord, I kneel and offer you my word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
And I'm trying hard to fit among your scheme of things
It's safer than a strange land, but I still care for myself
And I don't stand in my own light
Lord, lord, my prayer flies like a word on a wing
My prayer flies like a word on a wing
Does my prayer fit in with your scheme of things?
Recomenda-se a versão do agora reeditado Storytellers
domingo, 19 de julho de 2009
Grey Street - Dave Matthews Band
Oh look at how she listens
She says nothing of what she thinks
She just goes stumbling through her memories
Staring out onto Grey St.
And she thinks...hey
How did I come to this
I dreamed myself thousand times around the world
But I can't get out of this place
There's an emptiness inside her
And she'd do anything to fill it in
But all the colors mix together
To grey, and it breaks her heart
Oh how she wishes it was different
She prays to God most every night
And though she swears He doesn't listen
There's still a hope in her He might
She says I pray
But they falls on deaf ears
Am I supposed to take it on myself
To get out of this place
There's a loneliness inside her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now,
It feels like cold blue ice in her heart
When all the colors mix together
It's grey, and it breaks her heart
There's a stranger speaks outside her door
Says take what you can from your dreams
Make them real as anything
It will take the work out of the courage
She says please
There's a crazy man creeping that's outside my door
I live on the corner of Grey Street
And the end of the world
Oh there's an emptiness insider her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now
It's more like cold blue ice in her heart
She feels like kicking out all the windows
And setting fire to this life
She could change everything about her
Using colors bold and bright
But all the colors mix together
To grey
And it breaks her heart...Oh and it breaks her heart
To grey, Yeah...
Uma das grandes joias desta banda fantástica.
Porque não, como melhor versão a do concerto de Lisboa editado em Cd?
She says nothing of what she thinks
She just goes stumbling through her memories
Staring out onto Grey St.
And she thinks...hey
How did I come to this
I dreamed myself thousand times around the world
But I can't get out of this place
There's an emptiness inside her
And she'd do anything to fill it in
But all the colors mix together
To grey, and it breaks her heart
Oh how she wishes it was different
She prays to God most every night
And though she swears He doesn't listen
There's still a hope in her He might
She says I pray
But they falls on deaf ears
Am I supposed to take it on myself
To get out of this place
There's a loneliness inside her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now,
It feels like cold blue ice in her heart
When all the colors mix together
It's grey, and it breaks her heart
There's a stranger speaks outside her door
Says take what you can from your dreams
Make them real as anything
It will take the work out of the courage
She says please
There's a crazy man creeping that's outside my door
I live on the corner of Grey Street
And the end of the world
Oh there's an emptiness insider her
And she'd do anything to fill it in
And though it's red blood bleeding from her now
It's more like cold blue ice in her heart
She feels like kicking out all the windows
And setting fire to this life
She could change everything about her
Using colors bold and bright
But all the colors mix together
To grey
And it breaks her heart...Oh and it breaks her heart
To grey, Yeah...
Uma das grandes joias desta banda fantástica.
Porque não, como melhor versão a do concerto de Lisboa editado em Cd?
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Se sou ...verbo ou substanticia
Se desmorono, sou edifício
Se rasgo, sou livro
Se rebento, sou mar
Se sofro, sou Blues
Se conto, sou denuncia
Se acrescento, sou prosa
Se verso, sou lírico
Se detalhe, sou Eça
Se jogo, sou vicio
Se alcanço, sou grito
Se caio, sou ar
Se pranto, sou!
Sou país, se Africano
Sou sopro, se balão
Sou riso, se criança
Sou bandeira, se real
Sou jazz, se Americano
Sou mulher, se cometa
Sou mar, se Sophia
Sou misticismo, se perdão
Sou capitão, se Neruda
Sou margem, se rio
Sou velho, se Francisco
Sou ausente, se cego.
Se exagero, sou Cazuza
Sou cuba, se fiel
Se noite, sou luz
Sou marginal, se fascinado
Sou verdade, se finjo
Se água, sou fogo
Sou animal, se primata
Se duvida, sou pragmático
Se pátria, sou língua
Se concreto, sou ambíguo
Sou homem, se poeta
E sou Cecília, se Meireles...
Rodrigo Camelo
14 de Julho de 2009
Se rasgo, sou livro
Se rebento, sou mar
Se sofro, sou Blues
Se conto, sou denuncia
Se acrescento, sou prosa
Se verso, sou lírico
Se detalhe, sou Eça
Se jogo, sou vicio
Se alcanço, sou grito
Se caio, sou ar
Se pranto, sou!
Sou país, se Africano
Sou sopro, se balão
Sou riso, se criança
Sou bandeira, se real
Sou jazz, se Americano
Sou mulher, se cometa
Sou mar, se Sophia
Sou misticismo, se perdão
Sou capitão, se Neruda
Sou margem, se rio
Sou velho, se Francisco
Sou ausente, se cego.
Se exagero, sou Cazuza
Sou cuba, se fiel
Se noite, sou luz
Sou marginal, se fascinado
Sou verdade, se finjo
Se água, sou fogo
Sou animal, se primata
Se duvida, sou pragmático
Se pátria, sou língua
Se concreto, sou ambíguo
Sou homem, se poeta
E sou Cecília, se Meireles...
Rodrigo Camelo
14 de Julho de 2009
segunda-feira, 13 de julho de 2009
José Mário Branco - FMI
Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!
FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
José Mário Branco - FMI
Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição.
FMI - II parte precisa-se urgentemente. Quem sabe um tal de JP Simões esteja altura do desafio... Não vejo mais ninguém que não ele.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!
FMI
Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o mortimor do meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attachi-case' sai a solução!
FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI
Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!
FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico 'hara-quiri'
FMI Panegírico, pro-lírico daqui
Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!
FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...
Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, vi-me na cozinha, vi-me na casa-de-banho, vi-me no Politeama, vi-me no Águia D'ouro, vi-me em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te orgulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Muchê Dyane que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o astro, não é filho? O cabrão do astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus botões: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? Ah-ni-qui-bé-bé, ah-ni-qui-bó-bó, tu és 'Sepuldra' tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala e ritmo de pop-xula, não é filho?
A one, a two, a one two three
FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! Come on Luís Vaz, 'amanda'-lhe com os decassílabos que os senhores já vão ver o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr uma fila ao menos, malta pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?
FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...
Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer isto dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas azeite mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica, Lourosa, Lourosa, Marraças, Marraças, fora o arbitro, gatuno, bora tudo p'ro caralho, razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-Ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, arrefinfa-lhe o Bruce Lee, arrefinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o euroscópio, dois ou três ofeneologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-xula, pop-xula pop-xula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, zórpila o fígado, arreda, 'terneio' Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...
Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...
Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de lava-colhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.
Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.
José Mário Branco - FMI
Nota: FMI foi editado originalmente em 1982 no maxi Som 5051106, e reeditado em 1996 em 'Ser Solidário' ( EMI-Valentim de Carvalho). Aconselha-se vivamente a sua audição.
FMI - II parte precisa-se urgentemente. Quem sabe um tal de JP Simões esteja altura do desafio... Não vejo mais ninguém que não ele.
domingo, 12 de julho de 2009
Dave Matthews Band - Seven
Saíu maravilhosa ontem...
Baby when I think about you
All I want to do
Be by your side
Take a little ride
Take a little
Baby you know I’m all about you
And all I want to do
Is take a little ride
Maybe get inside
Maybe get in
Mama told me boy
Someday that girls gonna take your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you
Mama told me boy
Someday that girls gonna steal your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you
Sour as my fingers
Dirty pick pocket
I can still taste you
I won’t wash my hands
Red is the color
Of the sun with my eyes closed
I can still taste you
And I will again
Woman please I be your possession
You are my obsession
Let me go down
Down, down, down, down, down, down, down
Down little place it digs to go
Down little place it digs to go
Down little place it digs to go
Down little place it digs to go
Mama told me boy
Someday that girls gonna steal your mind
And then you’ll know
I never knew what I do now
I never knew what I do now
I love you, love you, love you, love you
You, you, you, you, you, you, you
Woman please I be your possession
You are my obsession
Let me go down
Down, down, down, down, down, down, down
Dave Matthews Band
A propósito do concerto de ontem. Como que em jeito de homenagem...vou colocar tudo o que já escrevi sobre a banda que ontem, apesar de não ter existido a magia de 2007, foi, mais uma vez irrepreensível no seu habitat natural – O Palco.
em Fevereiro Escrevi:
Prólogo Inicial: Já ouvi, não sei bem onde, que a verdadeira música é que nos escolhe e não o contrário.
E invariavelmente quando sou “apanhado” desprevenido por uma música como a que vos apresento neste post, penso forçosamente nesta “regra”.
Existem várias maneiras de olhar para a Dave Matthews Band, mas os que como eu, se encontrarão no grupo dos que acham que eles deram de certa forma continuidade ao legado deixado pela E-Street Band e Bruce Springsteen, e que no panorama actual desta indústria musical teremos muito poucos exemplos de bandas no velho sentido do termo, mas que a DMB se encarregou de reviver e até criar algo novo; poderão estar em sintonia comigo na seguinte observação: Não basta ouvir uma música da Dave Matthews Band, é necessário ouvir a versão “certa”, talvez aquela em que a música se tenha revelado por inteiro.
Quando Dave, Carter, Tinsley, Stefan e (tragicamente o já falecido) Leroi se reuniam em palco, a circunstancia poderia ditar o surgimento de algo único.
Se não vejamos, até os concertos mais emblemáticos da DMB, pelo menos os editados em CD ou DVD, trazem sempre qualquer coisa de singular.
Em «Live in Chicago» somos maravilhados com uma pérola chamada “The Maker”; «Listener Supported» o melodramático “Long Black Veil”; «At the Gorge» uma cintilante versão da música “Loving Wings” a melhor que alguma vez ouvi; e, porque não - no inicial «Live at Red Rocks” que parecia anunciar a originalidade que a DMB viria apresentar ao vivo, na própria escolha dos locais para concertos, como na relação com o seu publico, uma auspiciosa nova forma de olhar para “Proudest Monkey”.
I Acto
São duas da manhã e sem sono vou buscar à mesa-de-cabeceira o meu MP3, que havia sido preenchido nessa tarde com álbuns novos da DMB ao vivo, ainda por descobrir (…)
E quando jurava estar capaz de adormecer, eis que surge:
(…) Sonho ou realidade ?
O som do público anuncia a aproximação de Dave Matthews ao Microfone, e, com um simples: Let´s take a little Breath…Já ao som da sua guitarra acústica. E entre acordes que parecem anunciar a canção, ouve-se da audiência completamente eufórica um: I Love you Tim (Reynolds naturalmente), um outro parecendo já desafiado por um qualquer companheiro de viagem: “I love you Dave”, ao que uma fã remata a questão, “três tons” acima de qualquer rival “I Love you Allllll”. E às primeiras palavras tudo ganha uma nova expressão quando Stefan anuncia a voz de Dave com a simples fórmula de seu baixo. Na sua voz rouca e seca do início, denotamos um sofrimento mais característico do Blues. Nunca vi tanto Cash em Dave.
Agora e mais desperto do que um touro antes de "galgar" para a arena, interrogo-me mas que musica é esta???
Do canal esquerdo dos auriculares já oiço o dedilhar do violino de Boyd (aliás como gosto mais de o ouvir), como se de um cavaquinho se tratasse. Tim e Carter parecem juntar à batida uma continuidade de Ravel, de instrumento a instrumento, a musica vai ganhando forma, e,
Como estes senhores sabem explorar este território musical.
Todos os sopros, ruídos e tossires são som ao microfone, como detalhes “musicais” para acrescentar uma emoção ao espectador.
Tim Reynolds um monstro na guitarra, brincando com harmónicos e amplificando o volume bem ao estilo de um Jeff Beck, que aliás atrevo-me a dizer, deve ser a sua principal referencia na guitarra.
Muitas bandas continuam a tentar fazer melhor. Tantas vezes copiado o seu estilo, mas nunca igualado. Isto é expressão de como uma música é trabalhada como um todo.
Estarei de novo acordado!
Pois… acho que vou na sexta audição seguida.
Boa noite e até Julho. ;)
Por: Tiago Pereira da Silva
em Fevereiro Escrevi:
Prólogo Inicial: Já ouvi, não sei bem onde, que a verdadeira música é que nos escolhe e não o contrário.
E invariavelmente quando sou “apanhado” desprevenido por uma música como a que vos apresento neste post, penso forçosamente nesta “regra”.
Existem várias maneiras de olhar para a Dave Matthews Band, mas os que como eu, se encontrarão no grupo dos que acham que eles deram de certa forma continuidade ao legado deixado pela E-Street Band e Bruce Springsteen, e que no panorama actual desta indústria musical teremos muito poucos exemplos de bandas no velho sentido do termo, mas que a DMB se encarregou de reviver e até criar algo novo; poderão estar em sintonia comigo na seguinte observação: Não basta ouvir uma música da Dave Matthews Band, é necessário ouvir a versão “certa”, talvez aquela em que a música se tenha revelado por inteiro.
Quando Dave, Carter, Tinsley, Stefan e (tragicamente o já falecido) Leroi se reuniam em palco, a circunstancia poderia ditar o surgimento de algo único.
Se não vejamos, até os concertos mais emblemáticos da DMB, pelo menos os editados em CD ou DVD, trazem sempre qualquer coisa de singular.
Em «Live in Chicago» somos maravilhados com uma pérola chamada “The Maker”; «Listener Supported» o melodramático “Long Black Veil”; «At the Gorge» uma cintilante versão da música “Loving Wings” a melhor que alguma vez ouvi; e, porque não - no inicial «Live at Red Rocks” que parecia anunciar a originalidade que a DMB viria apresentar ao vivo, na própria escolha dos locais para concertos, como na relação com o seu publico, uma auspiciosa nova forma de olhar para “Proudest Monkey”.
I Acto
São duas da manhã e sem sono vou buscar à mesa-de-cabeceira o meu MP3, que havia sido preenchido nessa tarde com álbuns novos da DMB ao vivo, ainda por descobrir (…)
E quando jurava estar capaz de adormecer, eis que surge:
(…) Sonho ou realidade ?
O som do público anuncia a aproximação de Dave Matthews ao Microfone, e, com um simples: Let´s take a little Breath…Já ao som da sua guitarra acústica. E entre acordes que parecem anunciar a canção, ouve-se da audiência completamente eufórica um: I Love you Tim (Reynolds naturalmente), um outro parecendo já desafiado por um qualquer companheiro de viagem: “I love you Dave”, ao que uma fã remata a questão, “três tons” acima de qualquer rival “I Love you Allllll”. E às primeiras palavras tudo ganha uma nova expressão quando Stefan anuncia a voz de Dave com a simples fórmula de seu baixo. Na sua voz rouca e seca do início, denotamos um sofrimento mais característico do Blues. Nunca vi tanto Cash em Dave.
Agora e mais desperto do que um touro antes de "galgar" para a arena, interrogo-me mas que musica é esta???
Do canal esquerdo dos auriculares já oiço o dedilhar do violino de Boyd (aliás como gosto mais de o ouvir), como se de um cavaquinho se tratasse. Tim e Carter parecem juntar à batida uma continuidade de Ravel, de instrumento a instrumento, a musica vai ganhando forma, e,
Como estes senhores sabem explorar este território musical.
Todos os sopros, ruídos e tossires são som ao microfone, como detalhes “musicais” para acrescentar uma emoção ao espectador.
Tim Reynolds um monstro na guitarra, brincando com harmónicos e amplificando o volume bem ao estilo de um Jeff Beck, que aliás atrevo-me a dizer, deve ser a sua principal referencia na guitarra.
Muitas bandas continuam a tentar fazer melhor. Tantas vezes copiado o seu estilo, mas nunca igualado. Isto é expressão de como uma música é trabalhada como um todo.
Estarei de novo acordado!
Pois… acho que vou na sexta audição seguida.
Boa noite e até Julho. ;)
Por: Tiago Pereira da Silva
quarta-feira, 1 de julho de 2009
O monólogo de: A última Hora (Spike Lee)
Transcrição em português. Perdoem-me se existirem alguns erros na tradução.
Mas dei-me ao trabalho de traduzir. lol
Vai-te foder tu, toda esta cidade e todos os que vivem nela.
Fodam-se os ambulantes vendendo comida e a pedir dinheiro,
e rindo de mim pelas costas.
Fodam-se os lavadores de vidros de carros
Sujando o pára-brisas – limpo do meu carro.
Arranjem um maldito trabalho.
Fodam-se os Sikhs e os paquistaneses que
voam pelas avenidas com os seus táxis fodidos,
com caril exalando pelos poros, empestando todo o meu dia
terroristas em treino. Parem com essa merda!
Fodam-se os Chelsea Boys.
Com os seus peitos encerados e os seus bicipes bombeados
Indo por aí fora em direcção aos meus parques e aos meus cais
Mostrando os seus paus no canal 35!
Fodam-se os donos das mercearias coreanas
Com as suas pirâmides de fruta caríssimas
E as sua tulipas e rosas embrulhadas em plástico.
Dez anos neste país e ainda não sabem falar inglês.
Fodam-se os russos de Brighton Beach.
Mafiosos sentados nos cafés, a beber chá com óculos escuros
Com cubos de açúcar no meio dos dentes,
Andando, negociando e planeando.
Voltem para a vossa maldita terra.
Fodam-se os Hasidim e os seus chapéus pretos
a subir e a descer pela rua 47 th
nas sua gabardinas sujas com caspa deles,
vendendo diamantes sul-africanos frutos do apartheid.
Foda-se o pessoal de waal street.
Pretensiosos e mestres do universo.
Armados em filhos da puta Michael Douglas-gordon gekko
Imaginando maneiras de roubar trabalhadores inocentes
Completamente “Cegos”.
Mandem esses desgraçados da Enron para a cadeia
Para toda a vida.
Pensam que o Bush e o Cheney não sabiam nada dessa merda?
Não me façam rir.
Fodam-se os porto-riquenhos.
Vinte paus por cada carro, enchendo a lista do serviço social.
A pior parada desta cidade.
E não me deixem começar a falar dos dominicanos,
Porque fazemos porto-riquenhos parecerem bons.
Fodam-se os italianos de Bensonhurst com os seus cabelos
De palmeira e os seus sobretudos de nylon, os seus medalhões do santo.
Balançando os tacos de baseibol do da época que o Jason
Estava a tentar as audições para os “Sopranos”
Fodam-se as viúvas do Upper East Side com os seus lenços
E as suas cicatrizes Balducci de 50 dólares.
As sua caras gordas sendo puxadas, esticadas e levantadas para ficarem firmes e brilhantes.
Tu não enganas ninguém, queridinha.
Fodam-se os irmãos Uptown.
Eles nunca passam a bola, eles não querem defender,
Eles dão sempre 5 passos de cada vez que vão fazer um
Layup e depois querem dar a volta e por toda a culpa nos brancos.
A escravidão acabou há 137 anos. Sigam em frente.
Fodam-se os polícias corruptos e a sua mania dos 41 tiros.
Escondendo-se atrás do muro azul do silêncio.
Vocês traíram a nossa confiança.
Fodam-se os padres que colocam as suas mãos nas calças de
Crianças inocentes. Fodam-se as igrejas que os protegem,
entregando-nos ao diabo. E já que estamos nesta, foda-se o
J.C. Ele livrou-se facilmente …
Um dia na cruz, uma semana no inferno, e todas as aleluias de
Uma legião de anjos pela eternidade.
Tenta ficar 7 anos na maldita Otisville, J.
Foda-se o Osama Bin Laden, Al Qaeda, e os desgraçados
Dos que cavam as cavernas – idiotas fundamentalistas
de todo o mundo.
Em nome de milhares de inocentes assassinados,
Eu rezo paraque passem o resto da vossa eternidade
com as vossas armas de merda arder no inferno
com o fogo da gasolina dos “aviões”.
(…)
A Última Hora
Por: Tiago Pereira da Silva
Ontem revi aquele que é para mim o verdadeiro filme sobre o pós 11 de Setembro.
O ano de 2002 foi o ano do lançamento do filme A última hora (tradução portuguesa) que, ao que me recordo, foi venerado pela maioria dos críticos. Devo dizer, desta vez, que: não poderia estar mais de acordo!
O filme é uma lição de cinema a todos níveis, sem desprezo pelas fórmulas clássicas e modernas. Mas não é só isso que importa referir aqui. O equilíbrio narrativo do mesmo, sustentado pela figura central Edward Norton (no seu melhor) que é de uma leveza e ao mesmo tempo de uma força que, em meu entender, faz este filme ter uma espessura e uma fórmula mágica. Norton é Monty Brogan que vive as 24 horas que precedem a sua recolha a uma penitenciária, onde irá cumprir sete anos de prisão por tráfico de droga.
A encenação e composição de Spike Lee são ao nível de obras como (Summer of Sam) – portanto magistrais. O ritmo narrativo é perfeitamente conseguido para transmitir a ideia de que o ser humano é prisioneiro do tempo. E nesta obra, as horas e os minutos são geridos com mestria a “conta-gotas”.
Norton é a figura central, gere a sua personagem com uma interpretação irrepreensível, de certa forma angustiada mas sobretudo revoltada e muitas vezes desesperada. A consistência da sua interpretação é aliada à força de um elenco secundário de luxo, com nomes tão importantes como: Philip Seymour Hoffman, Barry Pepper, Rosario Dawson, Anna Paquin, etc. Mas vamos esquecer os nomes, pois existe em cada um deles um desespero contido mas visível, e em crescendo – eles são as personagens. Não representam, vivem a dor e o medo.
O que me fez escrever sobre A última hora foi não só o facto de o ter revisto, mas a invocação do brilhantismo, da cena da casa de banho. Monty que se encontrava na casa de banho do bar de seu pai, depara-se com algo escrito no canto inferior direito – a expressão Fuck You. A partir daí são 5 ou 6 minutos de pura magia cinematográfica, que vale a pena recordar.
Talvez uma das melhores cenas que vi num filme nesta década.
A sua personagem “leva-nos”, através de um monólogo, ao multifacetado e multi-complexo mundo étnico e cultural da sociedade nova-iorquina. A revolta de Monty por tudo o que lhe está acontecer e a gestão do seu sofrimento e revolta, terminam (ou começam) com uma complexa conversa consigo mesmo frente ao espelho. Fuck this city, and every one in it. A auto-paródia resultante de uma figura que fala consigo própria, como se fosse um anjo vs diabo, a culpar toda a cidade, etnias, credos e grupos sociais que se encontram nas ruas de Nova Iorque pela sua própria miséria.
Edward recita uma espécie de um rap em crescendo, como que falado – a ambígua e paradoxal visão do “estrangeiro em nossa casa”.
A fórmula soberba com que Spike Lee nos vai revelando a suposta “origem do mal” enquadrando a revolta da personagem com aquilo que seria o espelho social e o pensamento colectivo da Nova-Iorque do pós 11 de Setembro, aliada à auto-ironia do espelho como símbolo metafórico, fazem desta cena um ícone cinematográfico de tão simples e complexa que é.
E mais não digo. Vejam!
Youtube: Edward Norton fuck YOU!
quarta-feira, 13 de maio de 2009
"pequeno espanador de tristezas [a derradeira confissão?]”
há qualquer coisa de lágrima numa celebração minha.
se soubesse aceitar a beleza das lágrimas não tinha que [me] explicar a origem delas e podia sorrir com as bochechas molhadas mais vezes sem as rugas.
às vezes uma celebração minha é uma timidez – um dia tenho que conseguir abandonar isso e elevar-me a lesma, gambozino, helibélula. acreditar no fio que o grilo ata às estrelas lá longe no universo vincado de negrume; emprestar a minha pele numa jangada quase a afundar; afastar nuvens que dançam nas peles do mar; soprar uma madrugada pra ela voltar a mim [ainda gostava de ter uma crise de asma por excesso de nuvens nos pulmões respiratórios].
sem ser só nas palavras vividas em poesia, pra mim a morte devia ser um voo dançado por um papagaio-pipa – eu quero ser a aragem desse voar. se morrer um dia vou celebrar a palavra morte com incensos e música cantada por andorinhas – a morte anda por aí à solta e a vida afinal parece é uma máscara...
«a palavra vida é maior que a palavra morte», disse-me o meu sobrinho tchiene hoje que ainda faltam dezasseis dias pra ele nascer.
quando ele chegar ao mundo vou mostrar-lhe uma garça gaga que encontrei num poema e me passou a gaguez dela. eu passei a gaguez toda pra uma tarde e foi bonito ver a tarde esticar-se porque não sabia bem como pronunciar o definitivo pôr-do-sol. a noite ficou extenuada – à espera de chegar.
há qualquer coisa de adélia na palavra fé. talvez porque ela seja uma mulher de palavras pesadas com tanta leveza e saiba cavalgar medos selvagens. há na obra dela manchas leves de infância – essa varicela foi muito manuseada por luuandino [o que viajava com intimidade pelas ruas de antigamente, passando por tetembuatubia, kinaxixi, makulusu, olhos das crianças, pássaros e peixes]. certa noite, no lubango, vi o joão vêncio pendurado numa estrela; ao pé da casa onde sonhei nesse serão havia uma represa que era doadora de ruídos bons – apadrinhados por sapos gordos. espreitei pela janela fechada e quase cometi o erro de olhar um gambozino nos olhos. fechei os olhos e abri a janela, limitei-me a olhar assim as estrelas brilhantes numa ternura interna que eu lembro pouco de frequentar [no lubango a ternura brota em mim sem cerimónias].
às vezes uma chuva molhada é uma coisa boa para escorregar momentos em direcção a mim. quando uma chuva molhada cai sobre o mundo redondo, as coisas da vida e a vida das coisas encontram-se num quintal vasto. foi sob uma chuva molhada em canduras que encontrei as barbas do meu pai num poema e o sorriso da minha mãe noutro. foi nas entrelinhas dum poema ensopado que encontrei, várias vezes, a autorização interna pra falar a palavra amor [vou tentar não apagar isto: eu tenho certo receio da palavra amor, espero só que ela não me tenha receios também; seria triste].
foi com as mãos sujas de restos de amor que estiquei uma madrugada. quando digo a palavra madrugada também sinto um esticão no coração. se agora abuso muito das madrugadas é porque cada uma delas tem restos de amor que eu sempre vou perdendo. qualquer dia acumulo esses restos todos e faço uma construção de amor [talvez chame uma mulher pra se encostar ao outro lado dessa construção]. a palavra amor pode ser um labirinto com mais de catorze lados avessos. depois de esticar uma madrugada encosto a madrugada na minha pele e espero. a pele gosta de ser esculpida de novo muitas vezes na vida.
se puser um «v» na palavra esticar, poderei estivar uma madrugada. aí elevo-me a estivador de madrugadas e posso pensar num caixote com luar, um caixote com geada, caixotes pesados de estrelas, caixotes de nuvens carregadas de pingos, um caixote hermético com lágrimas, uma caixinha de costura com restos concretos de amor.
as palavras são muito bonitas também porque têm significados cicatrizados nelas – falo a palavra kwanza e sou invadido pelas belezas de um rio e o sol todo a bater-lhe nas peles da água escura que ele tem. o rio transporta o barro e os peixes e nunca ninguém se queixou de cócegas. há qualquer coisa de jangada na palavra rio. liberdade seria abraçar um jacaré sem lhe apetecer provar-me. eu queria fazer festinhas na carcaça antiga de um jacaré mas se ele me fizer festinhas magoa-me. vou olhar o jacaré de longe e o rio de perto – provar as minhas mãos nele. a pele do rio tem mais espelho que a minha e que a do jacaré. o céu e o sol gostam de verter reflexos nas peles paradas do rio kwanza e eu gosto de saber isso com os meus olhos atónitos de humidade. ali onde o mar beija o rio a espuma celebra o evento com pássaros que perseguem peixes. assim a poesia seja salobra ou salgada.
seria bonito ver os mangais depositarem raízes num poema meu – era a minha maior alegria fluvial.
há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. e algumas tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e ter que ir buscá-las na lixeira da catin ton.
vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. adormecer entre as pedras pode ser que me contagie delas. depois de conseguir ser pedra vou exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. com esse sorriso vou iniciar uma construção...
uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura.
Ondjaki.
se soubesse aceitar a beleza das lágrimas não tinha que [me] explicar a origem delas e podia sorrir com as bochechas molhadas mais vezes sem as rugas.
às vezes uma celebração minha é uma timidez – um dia tenho que conseguir abandonar isso e elevar-me a lesma, gambozino, helibélula. acreditar no fio que o grilo ata às estrelas lá longe no universo vincado de negrume; emprestar a minha pele numa jangada quase a afundar; afastar nuvens que dançam nas peles do mar; soprar uma madrugada pra ela voltar a mim [ainda gostava de ter uma crise de asma por excesso de nuvens nos pulmões respiratórios].
sem ser só nas palavras vividas em poesia, pra mim a morte devia ser um voo dançado por um papagaio-pipa – eu quero ser a aragem desse voar. se morrer um dia vou celebrar a palavra morte com incensos e música cantada por andorinhas – a morte anda por aí à solta e a vida afinal parece é uma máscara...
«a palavra vida é maior que a palavra morte», disse-me o meu sobrinho tchiene hoje que ainda faltam dezasseis dias pra ele nascer.
quando ele chegar ao mundo vou mostrar-lhe uma garça gaga que encontrei num poema e me passou a gaguez dela. eu passei a gaguez toda pra uma tarde e foi bonito ver a tarde esticar-se porque não sabia bem como pronunciar o definitivo pôr-do-sol. a noite ficou extenuada – à espera de chegar.
há qualquer coisa de adélia na palavra fé. talvez porque ela seja uma mulher de palavras pesadas com tanta leveza e saiba cavalgar medos selvagens. há na obra dela manchas leves de infância – essa varicela foi muito manuseada por luuandino [o que viajava com intimidade pelas ruas de antigamente, passando por tetembuatubia, kinaxixi, makulusu, olhos das crianças, pássaros e peixes]. certa noite, no lubango, vi o joão vêncio pendurado numa estrela; ao pé da casa onde sonhei nesse serão havia uma represa que era doadora de ruídos bons – apadrinhados por sapos gordos. espreitei pela janela fechada e quase cometi o erro de olhar um gambozino nos olhos. fechei os olhos e abri a janela, limitei-me a olhar assim as estrelas brilhantes numa ternura interna que eu lembro pouco de frequentar [no lubango a ternura brota em mim sem cerimónias].
às vezes uma chuva molhada é uma coisa boa para escorregar momentos em direcção a mim. quando uma chuva molhada cai sobre o mundo redondo, as coisas da vida e a vida das coisas encontram-se num quintal vasto. foi sob uma chuva molhada em canduras que encontrei as barbas do meu pai num poema e o sorriso da minha mãe noutro. foi nas entrelinhas dum poema ensopado que encontrei, várias vezes, a autorização interna pra falar a palavra amor [vou tentar não apagar isto: eu tenho certo receio da palavra amor, espero só que ela não me tenha receios também; seria triste].
foi com as mãos sujas de restos de amor que estiquei uma madrugada. quando digo a palavra madrugada também sinto um esticão no coração. se agora abuso muito das madrugadas é porque cada uma delas tem restos de amor que eu sempre vou perdendo. qualquer dia acumulo esses restos todos e faço uma construção de amor [talvez chame uma mulher pra se encostar ao outro lado dessa construção]. a palavra amor pode ser um labirinto com mais de catorze lados avessos. depois de esticar uma madrugada encosto a madrugada na minha pele e espero. a pele gosta de ser esculpida de novo muitas vezes na vida.
se puser um «v» na palavra esticar, poderei estivar uma madrugada. aí elevo-me a estivador de madrugadas e posso pensar num caixote com luar, um caixote com geada, caixotes pesados de estrelas, caixotes de nuvens carregadas de pingos, um caixote hermético com lágrimas, uma caixinha de costura com restos concretos de amor.
as palavras são muito bonitas também porque têm significados cicatrizados nelas – falo a palavra kwanza e sou invadido pelas belezas de um rio e o sol todo a bater-lhe nas peles da água escura que ele tem. o rio transporta o barro e os peixes e nunca ninguém se queixou de cócegas. há qualquer coisa de jangada na palavra rio. liberdade seria abraçar um jacaré sem lhe apetecer provar-me. eu queria fazer festinhas na carcaça antiga de um jacaré mas se ele me fizer festinhas magoa-me. vou olhar o jacaré de longe e o rio de perto – provar as minhas mãos nele. a pele do rio tem mais espelho que a minha e que a do jacaré. o céu e o sol gostam de verter reflexos nas peles paradas do rio kwanza e eu gosto de saber isso com os meus olhos atónitos de humidade. ali onde o mar beija o rio a espuma celebra o evento com pássaros que perseguem peixes. assim a poesia seja salobra ou salgada.
seria bonito ver os mangais depositarem raízes num poema meu – era a minha maior alegria fluvial.
há qualquer coisa de sapiência na palavra tristeza. e algumas tristezas não são de espanar – um dia posso descobrir que elas me fazem falta e ter que ir buscá-las na lixeira da catin ton.
vou encher-me de silêncios e imitar as pedras. adormecer entre as pedras pode ser que me contagie delas. depois de conseguir ser pedra vou exercitar o sorriso dessa pedra que eu for. com esse sorriso vou iniciar uma construção...
uma construção pode bem ser o lado avesso de uma certa tristezura.
Ondjaki.
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