quinta-feira, 1 de março de 2007

Rubrica: A escolha do Dia - "João Gilberto de saias"


Rosa Passos: Canta Caymmi (2000)


Por: Tiago Pereira da Silva

Continuando no universo da musica brasileira, mais concretamente dos sambas-canção e bossa-nova, gostaria de dedicar a escolha de hoje a outra cantora, que infelizmente, é pouco reconhecida pelo grande público. Confesso que a primeira vez que ouvi um jornalista referir-se a Rosa Passos como João Gilberto de saias não achei particularmente elogioso. Essa mania irritante dos jornalistas encontrarem sempre uma referencia. Mais tarde pensei o negócio deve ser sério mesmo. Rosa Passos é o melhor da Bossa-nova da actualidade. Não sendo propriamente uma "novata" Rosa tem hoje a maturidade artística e melódica que reconhecemos exactamente aos grandes intérpretes. Este disco é, para mim, o expoente máximo dessa expressão no canto e violão de Rosa Passos, se calhar exactamente por encontrar-se com o universo do seu novo e velho amor - Dorival Caymmi: Procure ouvir a versão deste disco de: Milagre, Vatapá e Vestido de Bolero. É por essas e por outras, que o meu coração musical está tantas vezes ao sul do equador.

FICHA TÉCNICA
Produtor: Almir Chediak
Don Chacal: percussão Erivelton Silva: bateria Fábio Torres: piano Jaguara: percussão Jorge Helder: baixo acústico Lula Galvão: arranjos, violão e cavaquinho Paulo Paulelli: baixo acústico Rodrigo Ursaia: sax tenor e flauta Sérgio Galvão: sax soprano


Crítica de Tárik de Sousa:

A Bahia deu régua e compasso ao samba nascido nas casas das tias festeiras que se estabeleceram no centro do Rio no começo do século. Mas o samba propriamente baiano tem peculiaridades que o mestre Dorival Caymmi poliu e sofisticou para uso nacional. O emprego de acordes alterados em seus temas buliçosos de aparência simples transformaram a obra do compositor numa via de mão dupla da tradição com a modernidade. Não por acaso, tanto a bossa nova de João Gilberto quanto o tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, para ficar apenas nos conterrâneos, utilizaram seus alicerces semoventes. A também baiana Rosa Passos é discípula declarada do minimalismo joãogilbertiano de quem assimilou o diálogo intenso com o violão e o fraseado de recorte rítmico elaborado. Voz curta que prefere a insinuação e o sombreado à nota ferida, Rosa singra os vários Caymmis. O sincopado e dengoso aquarelista de Você Já Foi à Bahia?, Vatapá, Rosa Morena, Samba da Minha Terra e Vestido de Bolero e o épico expressionista das marinhas Milagre e O Bem do Mar. O remansoso dos sambas canções de sua fase carioca (Marina, Só Louco, Sábado em Copacabana, Você Não Sabe Amar) e o inovador nas aliterações rítmicas (Doralice) capaz de casar valsa & bossa (Das Rosas). Centrado nos arranjos e violão de Lula Galvão e numa pequena base instrumental, Rosa Passos Canta Caymmi realça com delicadeza e despretensão a presença gigantesca do Buda Nagô (como o chamou Gilberto Gil) na MPB.

1 comentário:

flávia disse...

Rosa Passos é maravilhosa. sem mais comentários. bjo