domingo, 11 de novembro de 2007

Para acalmar o coração! II Parte

Por: Tiago Pereira da Silva

Ontem, pela primeira vez em anos, senti novamente, a incrível vontade de ser professor. Dar uma aula a crianças desfavorecidas, muitas delas com contornos e trajectórias de vida que jamais poderei vivenciar, ou entender, fazem-nos sentir, mais humanos outra vez. O desapego às necessidades materiais, muitas vezes confundido com imprescindível, levanta questões, necessariamente inconvenientes. Mas já lá vamos.

A corrosiva urgência de afectos, por parte destas crianças, levou-me a relembrar o Brasil e na comovente e extraordinária experiência de privar com crianças das favelas. Cujo o apoio, das chamadas Vilas Olímpicas (responsáveis pela inserção social através do desporto), é muitas vezes, a única oportunidade de vida, ou pelo menos de fugir ao mundo do tráfico.
As crianças que ontem me contaram, inadvertida e sabiamente, que ser solidário, não têm nada que ver com caridade, são uma das mais imediatas e importantes recordações, de uma ainda curta vida, no ensino.

Acalmar o coração de uma criança destas, faz-nos também sentir que, poderíamos todos viver num mundo muito melhor, menos centrado na individualidade, na competição desigual e por isso mesmo, que contribui - forçosamente para elevar ainda mais, as assimetrias sociais. “Perguntemo-nos apenas”: Precisamos mesmo do telemóvel, do MP3, do IPod, etc.” Ou não precisamos todos, urgentemente, de sermos mais felizes? Parece-me a mim, que as imprescindíveis-necessidades materiais, jamais nos levarão a esse fim, que afinal todos perseguimos. Essa é, talvez, a mais transversal procura, de todos os seres humanos.

Contribuir – 0,00000000001% – para tornar uma criança desfavorecida, mais feliz, não é caridade, nem solidariedade, é um dever cívico, uma obrigação moral. Não estamos a fazer nada de mais. Nem nos devemos orgulhar, como se estivéssemos a fazer algo de extraordinário, porque no fundo, não estamos. E é aí, a maior parte das vezes, que reside o problema, de quem ajuda. Parece que procura, um estatuto qualquer. Vou chamar-lhe: imunidade social. Como se depois disso, um individuo, tivesse direito e, portanto, isenção para todas as outras vergonhas produzidas. Por isso, desconfio sempre, de grandes celebridades em projectos de intervenção social, ajudando crianças, aqui e ali. É evidente, e, dir-me-ão vocês, que nem todos serão, farinha do mesmo saco. Certamente que não. Mas importa, colocar à reflexão:
- Não continuarão os que ajudam despretensiosamente, assustadoramente, o seu trabalho (muitas vezes inglório) no silencioso mundo do anonimato?

Música: "Vilarejo" - Marisa Monte

1 comentário:

flávia disse...

Acredito estar tb nesta fase.
decidi dar aulas ano que vem, sem mais demora. e percebi a urgencia e importancia disto.
espero já estar tão preparada quanto necesario.
bjo