segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Ultimatum:Álvaro de Campos - Novembro de 1917
Publicação original de Ultimatum
Mandado de despejo aos mandarins da Europa! Fora.
Fora tu, Anatole-France, Epicuro de farmacopeia-homeopática, ténia-Jaurès do Ancien-Régime, salada de Renan-Flaubert em louça do século dezassete, falsificada!
Fora tu, Maurice-Barrès, feminista da Acção, Chateaubriand de paredes nuas, alcoviteiro de palco da pátria de cartaz, bolor da Lorena, algibebe dos mortos dos outros, vestindo do seu comércio!
Fora tu, Bourget das almas, lamparineiro das partículas alheias, psicólogo de tampa de brasão, reles snob plebeu, sublinhando a régua de lascas os mandamentos da lei da Igreja!
Fora tu, mercadoria Kipling, homem-prático do verso, imperialista das sucatas, épico para Majuba e Colenso, Empire-Day do calão das fardas, tramp-steamer da baixa imortalidade!
Fora! Fora!
Fora tu, George-Bernard-Shaw, vegetariano do paradoxo, charlatão da sinceridade, tumor frio do ibsenismo, arranjista da intelectualidade inesperada, Kilkenny-Cat de ti próprio, Irish-Melody calvinista com letra da Origem-das-Espécies!
Fora tu, H. G. Wells, ideativo de gesso, saca-rolhas de papelão para a garrafa da Complexidade!
Fora tu, G. K. Chesterton, cristianismo para uso de prestidigitadores, barril de cerveja ao pé do altar, adiposidade da dialéctica cockney com o horror ao sabão influindo na limpeza dos raciocínios!
Fora tu, Yeats da céltica-bruma à roda de poste sem indicações, saco de podres que veio à praia do naufrágio do simbolismo inglês!
Fora! Fora!
Fora tu, Rapagnetta-Annunzio, banalidade em caracteres gregos, «D. Juan em Pathmos» (solo de trombone)!
E tu, Maeterlinck, fogão do Mistério apagado!
E tu Loti, sopa salgada fria!
E finalmente tu, Rostand-tand-tand-tand-tand-tand-tand-tand!
Fora! Fora! Fora!
E se houver outros que faltem, procurem-nos por aí pra um canto!
Tirem isso tudo da minha frente!
Fora com isso tudo! Fora!
Ai! que fazes tu na celebridade, Guilherme-Segundo da Alemanha, canhoto maneta do braço esquerdo, Bismarck sem tampa a estorvar o lume?!
Quem és tu, tu da juba socialista, David-Lloyd-George, bobo de barrete frígio feito de Union Jacks?!
E tu, Venizelos, fatia de Péricles com manteiga, caída no chão de manteiga para baixo?
E tu, qualquer outro, todos os outros, açorda Briand-Dato. Boselli da incompetência ante os factos todos os estadistas pão-de-guerra que datam de muito antes da guerra! Todos! todos! todos! Lixo, cisco, choldra provinciana, safardanagem intelectual!
E todos os chefes de estado, incompetentes ao léu, barris de lixo virados para baixo à porta da Insuficiência da Época!
Tirem isso tudo da minha frente!
Arranjem feixes de palha e ponham-nos a fingir gente que seja outra!
Tudo daqui para fora! Tudo daqui para fora!
Ultimatum a eles todos, e a todos os outros que sejam como eles todos!
Senão querem sair, fiquem e lavem-se.
Falência geral de tudo por causa de todos!
Falência geral de todos por causa de tudo!
Falência dos povos e dos destinos — falência total!
Desfile das nações para o meu Desprezo!
Tu, ambição italiana, cão de colo chamado César!
Tu, «esforço francês», galo depenado com a pele pintada de penas! (Não lhe dêem muita corda senão parte-se!)
Tu, organização britânica, com Kitchener no fundo do mar mesmo desde o princípio da guerra!
(It 's a long, long way to Tipperary and a jolly sight longer way to Berlin!)
Tu, cultura alemã, Esparta podre com azeite de cristismo e vinagre de nietzschização, colmeia de lata, transbordamento imperialóide de servilismo engatado!
Tu, Áustria-súbdita, mistura de sub-raças, batente de porta tipo K!
Tu, Von Bélgica, heróica à força, limpa a mão à parede que foste!
Tu, escravatura russa, Europa de malaios, libertação de mola desoprimida porque se partiu!
Tu, «imperialismo» espanhol, salero em política, com toureiros de sambenito nas almas ao voltar da esquina e qualidades guerreiras enterradas em Marrocos!
Tu, Estados Unidos da América, síntese-bastardia da baixa-Europa, alho da açorda transatlântica nasal do modernismo inestético!
E tu, Portugal-centavos, resto da Monarquia a apodrecer República, extrema-unção-enxovalho da Desgraça, colaboração artificial na guerra com vergonhas naturais em África!
E tu, Brasil, «república irmã», blague de Pedro-Álvares-Cabral, que nem te queria descobrir!
Ponham-me um pano por cima de tudo isso!
Fechem-me isso à chave e deitem a chave fora!
Onde estão os antigos, as forças, os homens, os guias, os guardas?
Vão aos cemitérios, que hoje são só nomes nas lápides!
Agora a filosofia é o ter morrido Fouillée!
Agora a arte é o ter ficado Rodin!
Agora a literatura é Barrès significar!
Agora a crítica é haver bestas que não chamam besta ao Bourget!
Agora a política é a degeneração gordurosa da organização da incompetência!
Agora a religião é o catolicismo militante dos taberneiros da fé, o entusiasmo cozinha-francesa dos Maurras de razão-descascada, é a espectaculite dos pragmatistas cristãos, dos intuicionistas católicos, dos ritualistas nirvânicos, angariadores de anúncios para Deus!
Agora é a guerra, jogo do empurra do lado de cá e jogo de porta do lado de lá!
Sufoco de ter só isto à minha volta!
Deixem-me respirar!
Abram todas as janelas!
Abram mais janelas do que todas as janelas que há no mundo!
domingo, 30 de dezembro de 2007
Génios da Pintura: Cândido Portinari
Talvez o mais importante pintor Brasileiro de todos os tempos, Portinari pintou a realidade de meados do século XX que o envolvia, a dos despossuídos, bestializados, sem chão e sem tecto. Integrando-se tal como os três grandes pintores de murais mexicanos (Rivera, Siqueiros e Orozco) na vanguarda do que viria a ser chamado de corrente Neo-realista, que emergiu em simultâneo em Portugal e Brasil nas suas diversas manifestações (literatura, exemplos disso mesmo são Alves Redol e Manuel da Fonseca; Pintura e Cinema) com um padrão identitário marcadamente da esquerda marxista. O Neo-realismo existiu porque o fascismo era uma evidência.
Confesso que sou um apaixonado do quadro "Os Retirantes" de Portinari de 1944.
Por: Tiago Pereira da Silva
sábado, 29 de dezembro de 2007
Escolha do Dia: Beatrice Ardisson com "Staying Alive" dos Bee Gees
Com um arranjo a roçar a Bossa, esta versão surpreende até o ouvido mais desatento.
Ao Redol do teu Carvalho.
Fazes-me sempre ver
Que quando te alcanço
Quase entendo o avanço
Do teu céu húmido ser.
Representas o que nem sabes.
De uma terna dignidade
Como amparo-paternidade,
Desse alguém, sem herdades.
E quando volto ao lugar de Si
Volto, ao Redol do teu Carvalho.
E aos muitos que, entre ti,
Ainda espreitam nesse orvalho.
Integras mais um irmão
Para essa cultura unir.
Para o templo desse chão,
A estátua-irmã-cinza, esculpir.
Xenofilia a tua língua
Dos teus deuses da criação.
O silêncio, a tua mingua,
Quando da fobia fazes, negação.
Incensurável começo esse,
Desse hospício de enjeitados.
É que os por ti rejeitados
Inflamam cegos, como esse.
Adoptas a incestuosa fé,
Derrubas os montes exactos,
Prendes-te ao eterno pé
Da silva mãe desses matos.
Largas por fim esses gritos
No fumo de cada queimada,
E ao longo desta cruzada
Dançam palavras tuas nos livros.
Por: Tiago Pereira da Silva
Que quando te alcanço
Quase entendo o avanço
Do teu céu húmido ser.
Representas o que nem sabes.
De uma terna dignidade
Como amparo-paternidade,
Desse alguém, sem herdades.
E quando volto ao lugar de Si
Volto, ao Redol do teu Carvalho.
E aos muitos que, entre ti,
Ainda espreitam nesse orvalho.
Integras mais um irmão
Para essa cultura unir.
Para o templo desse chão,
A estátua-irmã-cinza, esculpir.
Xenofilia a tua língua
Dos teus deuses da criação.
O silêncio, a tua mingua,
Quando da fobia fazes, negação.
Incensurável começo esse,
Desse hospício de enjeitados.
É que os por ti rejeitados
Inflamam cegos, como esse.
Adoptas a incestuosa fé,
Derrubas os montes exactos,
Prendes-te ao eterno pé
Da silva mãe desses matos.
Largas por fim esses gritos
No fumo de cada queimada,
E ao longo desta cruzada
Dançam palavras tuas nos livros.
Por: Tiago Pereira da Silva
terça-feira, 25 de dezembro de 2007
Woody Allen & His New Orleans Jazz Band - "Tie me to your apron strings again"
Woody Allen é um daqueles cineastas que pensa em música 200 horas por dia.
Todos já sabemos da sua paixão suprema pelo jazz, nomeadamente, o "swingado" na primeira metade do século passado. Mas aqui, podemos ouvi-lo a tocar. Nesta versão, Woody Allen e a sua super banda revisitam um clássico, absolutamente sagrado da música negra norte americana. Para ser naturalmente surpreendido...
segunda-feira, 24 de dezembro de 2007
domingo, 23 de dezembro de 2007
O Menino da Inquietante Coragem
Meu menino…
“Os muros nunca são altos!”
Desafia a lógica e rompe,
Cordas de aço
Desse eterno sistema.
Vê também,
Que seres pequeno
É apenas, uma perspectiva.
Aqui onde me encontro,
Na margem das cores,
Não há lugar para as palavras.
Somos todos herdeiros do silêncio
Não existem controvérsias,
És sempre tu - Mãe natureza.
Ela escolheu-me
E não o contrário.
O improviso recolheu-me,
Na corda e na navalha.
Parecia já preparado,
Para o que adiante constato.
Comprovo chocado
E testemunho o fulgor
Desse interminável
Segundo acto.
Vira ali à esquerda
E quando ameias vires,
Grita o eco
De um Zeca ao ouvido.
Derruba as cercas
Que te fazem sonhar.
Vê te no alto…
E tudo parece brinquedo.
Eu, reencontro o sábio,
A cada leve, a cada passo.
Sua barba, sua mochila,
Contam-me as histórias
Da eterna geração
Que interna meu medo
E dá alta ao templo
Da inquietante coragem.
Tiago Pereira da Silva
“Os muros nunca são altos!”
Desafia a lógica e rompe,
Cordas de aço
Desse eterno sistema.
Vê também,
Que seres pequeno
É apenas, uma perspectiva.
Aqui onde me encontro,
Na margem das cores,
Não há lugar para as palavras.
Somos todos herdeiros do silêncio
Não existem controvérsias,
És sempre tu - Mãe natureza.
Ela escolheu-me
E não o contrário.
O improviso recolheu-me,
Na corda e na navalha.
Parecia já preparado,
Para o que adiante constato.
Comprovo chocado
E testemunho o fulgor
Desse interminável
Segundo acto.
Vira ali à esquerda
E quando ameias vires,
Grita o eco
De um Zeca ao ouvido.
Derruba as cercas
Que te fazem sonhar.
Vê te no alto…
E tudo parece brinquedo.
Eu, reencontro o sábio,
A cada leve, a cada passo.
Sua barba, sua mochila,
Contam-me as histórias
Da eterna geração
Que interna meu medo
E dá alta ao templo
Da inquietante coragem.
Tiago Pereira da Silva
Balada do Picoto
Respira um pouco,
Expira mais e mais.
Avisto ao longe a cruz,
Meu pai.
E não há quem
Te siga pra essa Luz.
Subi a árvore mais alta,
Verti cada gota, no tronco
E fiz do animal mais apto,
Minha bússula.
Dos que reúnem toda
A história num acto.
Sobe ao cume, irmão
E deixa-te avistar o lume
Brando da erupção.
O húmido esconde-se
À espreita e faz
Detonar o Carvão.
Abraço ainda a serra
E ajuda-me desta
Peste, João.
Que nós ao cume
Vamos, desta
Vertiginosa emoção.
A ideia de não alcançar-te
Paira em nós
Tão duradoura.
Picoto, pai,
Minha ambição,
De voltas estás…
Sobe, sobe, em
atenção e volta logo,
Para onde, irmão,
Somos filhos,
Das movediças
Almas de intenção.
No turbilhão do fogo,
Contamos mais
O que não falta.
Voa livre e paterno,
Livro voa e fraterno,
E Acende a cruz da malta.
Por: Tiago Pereira da Silva
quarta-feira, 19 de dezembro de 2007
sábado, 15 de dezembro de 2007
Blur - To The End
Deixemo-nos de complexos. Os Blur foram sem dúvida uma das bandas mais originais dos anos 90 e ponto final. Um exemplo dessa inventividade estéctica ao serviço da música é, a imagem e som deste videoclip, uma homenagem ao filme Last Year at Marienbad. Um daqueles exemplos de que o universo da pop músic sempre andou de mãos dadas com o cinema. Magnífico.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2007
Soneto dos teus lugares
Eu esqueço, sempre, essa ideia
Que reclamas por direito pertencer
Ao teu mundo chão de meia,
Que deveras fazes, por vencer.
Apresentas-me à tua aldeia
E as ruas do teu enaltecer.
O sangue dessa estrada de aveia
Alimenta, o meu envelhecer.
O frio vem desses lugares
Que tu pisaste de dia
Na cegueira dos teus voltares
Faz desse deus, um guia
E aprende, todos os fumares
Desse cachimbo mudo que ouvia.
Tiago Pereira da Silva
Que reclamas por direito pertencer
Ao teu mundo chão de meia,
Que deveras fazes, por vencer.
Apresentas-me à tua aldeia
E as ruas do teu enaltecer.
O sangue dessa estrada de aveia
Alimenta, o meu envelhecer.
O frio vem desses lugares
Que tu pisaste de dia
Na cegueira dos teus voltares
Faz desse deus, um guia
E aprende, todos os fumares
Desse cachimbo mudo que ouvia.
Tiago Pereira da Silva
quinta-feira, 13 de dezembro de 2007
A fruta de Orfeu
Dormiste em ti tão incubada,
Numa lua triste de Orfeu.
Despiste sempre minha almofada,
Na luz que a Santa ergueu.
Toma teu dia a voar,
Prega Vinicius ao Luar.
Dorme também apertadinha
E leva o pranto na brama.
Chama sempre pela maninha,
Que arrasa e fere esse drama.
Nem que o sol invoque
A cor rosa choque.
Porque elas são todas precisas,
No mar leve de teu ácido.
Nesses esporos, pelas brisas
Perde-se um deserto de ar plácido.
Até que a terra toda seque
E te abrace, como um leque.
Abraçou-se ela também, pintada
Nessa terra que Torga pensou.
É ver-te sempre tão lavrada
Como a fruta que - Eva trincou.
E deu lugar à natureza
Nesse tom de dom braveza.
Tiago Pereira da Silva
Numa lua triste de Orfeu.
Despiste sempre minha almofada,
Na luz que a Santa ergueu.
Toma teu dia a voar,
Prega Vinicius ao Luar.
Dorme também apertadinha
E leva o pranto na brama.
Chama sempre pela maninha,
Que arrasa e fere esse drama.
Nem que o sol invoque
A cor rosa choque.
Porque elas são todas precisas,
No mar leve de teu ácido.
Nesses esporos, pelas brisas
Perde-se um deserto de ar plácido.
Até que a terra toda seque
E te abrace, como um leque.
Abraçou-se ela também, pintada
Nessa terra que Torga pensou.
É ver-te sempre tão lavrada
Como a fruta que - Eva trincou.
E deu lugar à natureza
Nesse tom de dom braveza.
Tiago Pereira da Silva
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Em todos os Jardins
Em todos os jardins hei-de florir,
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia.
Um dia serei eu o mar e a areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.
Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.
Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Poesia
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Emerson, Lake & Palmer - Fanfare for the common man
Desde miúdo que sou apaixonado por este tema... Estava-se mesmo a ver que não seria um rapaz perfeitamente normal.
Esta banda de rock progressivo - inglesa... desafia todos os elementos estéticos neste hino olímpico reinventado. Na linha do que fizeram os Pink Floyd dos anos 60, os Emerson, Lake & Palmer, tristemente esquecidos pela quase sempre autista - imprensa musical. Na verdade não existiam muitos teclistas como Keith Emerson nos anos 70, como fica claramente demonstrado neste tema, talvez só Jon Lord dos Deep Purple...Só para falar dos mais conhecidos.
Aliás, não existiam muitas bandas comos Emerson, Lake & Palmer.
A música, a partir do 3 minuto parece remeter-nos para um caos Apocalíptico... Nunca ouvi nada igual.
Depois de uma audição - não serão mais os mesmos. Eu ouvi aos 12 anos e nunca mais recuperei do seu impacto.
Tiago Pereira da Silva
segunda-feira, 10 de dezembro de 2007
"Chamaram-me cigano" - Zeca Afonso
Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela
A minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive
O diabo na mão
Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi
O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito
De penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão
Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá
Outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive
O diabo na mão
Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio
O diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas
Que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive
José Afonso
Versões recomendadas: Para além da original do Zeca, Cristina Branco no seu recente "Abril"; Resistência, Filhos da Madrugada...
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela
A minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive
O diabo na mão
Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi
O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito
De penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão
Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá
Outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive
O diabo na mão
Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio
O diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas
Que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive
José Afonso
Versões recomendadas: Para além da original do Zeca, Cristina Branco no seu recente "Abril"; Resistência, Filhos da Madrugada...
Lus - Nancy Vieira
(…) O mais original nessa música abençoada desse maravilhoso continente, é que a dada altura, num lugar, num espaço, tudo parece convergir num momento, em que a música e a dança se fundem, como um louvor de alegria, uma bênção, um respirar. Nessa estrada de sonho, os músicos parecem celebrar a música toda do mundo… Celebrar a vida. A música de Nancy Vieira é isso.
“Lus” - conta-nos o que ainda não sabíamos.
Por: Tiago Pereira da Silva
terça-feira, 4 de dezembro de 2007
Eu já tenho - Dave Matthews Band Live Trax. 10 - Lisbon, Portugal
Existem dias difíceis de esquecer e ponto final.
O dia 25 de Maio de 2007 vai ser para sempre lembrado, como uma das mais gratificantes experiências musicais da minha vida. Assistir ao concerto da Dave Matthews Band no Pavilhão Atlântico, foi certamente e apropriadamente inesquecível. Agora, quem quiser recordar o, quase único, concerto de mais de 3 horas desta banda fantástica em Lisboa, já pode fazê-lo. Eu já tenho.
Chamo a vossa atenção para a música “American Baby Intro” nesta versão única, em Lisboa… que privilégio ter assistido aquilo… Sem querer adiantar muito, porque a audição é obrigatória (Play it Loud), com Tom Morello a juntar-se à festa, para aquilo que é talvez a maior virtude desta banda - deliciar os fãs em pequenas jam(s)… Sobretudo Tom e Cárter Beauford parecem desafiar-se em crescendo…A dada altura Carter como a deliciar-se com pequenos solos de percussão, remetendo-nos para uma sonoridade latina: Resultado – um dos melhores momentos que já ouvi da Dave Matthews Band.
domingo, 2 de dezembro de 2007
Maurice Béjart (1927-2007) - A Coreografia da coragem
Na resistência ao Salazarismo, é pouco recordado o papel de estrangeiros como o coreógrafo e bailarino francês Maurice Béjart, agora desaparecido com 80 anos, que no dia 6 de Junho de 1968 ousou desafiar o Estado Novo no Coliseu de Lisboa. Depois da representação de Romeu e Julieta, Béjart, que estava em Portugal a convite da Gulbenkian, referiu-se em palco ao assassínio de Robert Kennedy, ocorrido nesse dia, e acrescentou: «Ele foi vítima da violência e do fascismo. Como todos os que estão aqui esta noite, somos contra as ditaduras… Peço um minuto de silêncio.» O público não fez um minuto de silêncio, mas 20 de aplausos. Na plateia encontravam-se o ministro Franco nogueira e Natália Tomás, filha do «venerando Chefe de Estado». Como consequência, Béjart foi preso pela PIDE e levado de automóvel à fronteira espanhola, onde foi deixado. As relações entre Azeredo Perdigão e o ditador azedaram. Esta é apenas uma das muitas histórias que poderiam ser contadas acerca de um homem corajoso que foi também coreógrafo genial, revolucionador da dança e grande referencia cultural do século XX.
Gonçalo M. Tavares
In: Obituário - Revista Visão
Prosa livre às cartas de alguns leitores de jornais
Inspirado numa entrevista de Chico Buarque, denunciando alguns leitores de jornais brasileiros que reivindicam medidas fascistas, para exterminar os meninos de rua.
Reclamas pelos
“Direitos Humanos”…
Com esse trocadilho infame,
Ousas dizer “humanos direitos”,
A tudo, te propões… orientar.
Da capital ao Senegal,
Retiras a essas aves,
Todas as penas.
Da prisa, ao linchamento,
Sem esquecer claro,
A pena Capital.
Devolves a santa dignidade,
À tua tranquilidade.
E do Caos Urbano,
Fazes um simples Tirano.
Devemos, agradecer-te
Claro!
Sem ti,
Estaríamos infinitivamente,
Mais pobre.
Sabes…
Já é tempo,
De reconhecermos,
O bem que fazes
Para o crescimento,
Desta nação.
“Selecção Artificial”, dirias!
“O mais apto - sobrevive”
Já dizia o outro:
“Ordem para o povo,
Progresso para a Burguesia”.
Mas a cada carta que escreves,
Lembra-te só…Se der, claro!
Enquanto travas nesses,
Intermináveis baseados…
Alimentas esse texto,e,
Quantas mais e mais,
Crianças dessas,
Empurras para esse
Poço sem fundo,
Afogas cada uma
No “Saboroso” e sedutor,
Mundo do crime…
Esqueces também que:
Esses estorvos sociais,
A quem chamas: Vagabundos!
Por te retirarem o direito,
De andares livres na rua,
São esses mesmos,
Que desconsideras, na
Ostentação da tua riqueza.
Considera também…
A possibilidade
De vires de colete
Para as Ruas…
Pois já vives livre
De tudo isso,
Na prisão eterna
De tua casa.
Essa ascensão miraculosa,
Dos que levitam na tua merda,
Só se faz, nessa insistente realidade,
De uma trilogia:
Futebol, Pagode e Tráfico.
Lembra-te também,
Da tua cor…e tua cor...
E já agora,
à noite,
Quando estiveres
Com a esposasinha,
Comandados
Pela novela da Globo.
Vê lá, se encontras,
Nessa programação maldita,
Um taxista, cozinheiro, jardineiro,
Empregado, motorista, etc.
Que seja,
Da tua corzinha…
Rodrigo Camelo
Foto: Sebastião Salgado in Amazónias
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