domingo, 19 de agosto de 2007
A propaganda política do CSI Miami...
O fervilhar de ideias
Quem não gosta do CSI?
Definitivamente, eu!
Confesso, que muitas vezes nem sei responder exactamente porquê. Não sei se a reposta tem que ver com o formato da série, creio que não, ou se tem mais a ver com a qualidade do produto em causa. Não acho, nem nunca achei a série CSI (caiba aqui uma certa distinção entre as diferenças – Miami, Nova Iorque, etc) muito bem representada, admitindo porém que, também não sou grande adepto de modas criadas. Sobre a primeira razão, bem sei que não sendo da área e não tendo competência técnica para avaliar a, quanto a mim, inexplicável direcção de actores, sustento a opinião que a série parece-me, uma espécie de fast-food televisivo, bem ao jeito dos senhores do norte da América. Dar-vos-ia imensos exemplos de séries que, como produto acabado para consumo de massas, cumprem em muitos domínios, aquilo a que, quanto a mim a série CSI se propõem, mas está efectivamente a milhas de distância.
O que me leva a escrever sobre uma série que me faz, ou fez, perder poucos minutos do meu tempo, presenteando as magníficas audiências da mesma, é o facto de considerar extremamente perigoso, para não usar outra palavra melhor, a utilização deste tipo de série como um meio de propaganda politica. Bem sei que isso é feito a “torto e a direito” no cinema. Nos anos 60 e 70 no período mais que complexo da guerra fria as séries eram, também elas, um meio de e influenciar as massas.
Mas vejamos uma coisa! Qual será o público-alvo do CSI, nomeadamente em Portugal? A verdade é que quase todas as pessoas que conheço nos (vinte e…) vêem. O episódio de ontem exibido num canal português, foi pérfido, de tão real militância politica. Genericamente, ontem passou um episódio anti-castrista (Fidel Castro). O alvo até podia ser Fidel implícita e explicitamente, mas o pano de fundo e que acaba inadvertidamente por sofrer as consequências é o povo Cubano. Tratava-se naturalmente de um episódio de propaganda politica da série do CSI Miami. Não vou para aqui começar a atirar “postas de pescadas” sobre o regime cubano, aquilo que maioria de nós faz e até, ou sobretudo, analistas políticos. Bem sei que o regime em Cuba não é perfeito e pior, está muito longe de o ser. Existem efectivamente situações inexplicáveis em Cuba. Mas decididamente, não dou daquela “turma” cujo alvo a abater é um Sr. Chamado Fidel Castro.
Invocando uma entrevista recente de Chico Buarque, entrevista essa (e é importante não se pensar o contrario) de um descomprometimento político acentuado, Chico dizia a propósito de Cuba e Brasil, que pelo menos os Cubanos tinham resolvido grande parte das necessidades básicas de um povo. Saneamento básico, acesso gratuito ao ensino, uma saúde de primeiro mundo, investimento brutal na cultura. E não, mantê-lo propositadamente adormecido nos contornos perigosos da ignorância, como tão bem denunciou Chico no seu livro Fazenda Modelo – Novela Pecuária sobre o seu Brasil da ditadura militar, livro que parece hoje esquecido. Devia mesmo ser ensinado nas escolas de tão importante na construção critica que exige do leitor. Com o mérito brutal de nos desafiar a ser críticos e de lutar contra estas sociedades acriticias e sem expressão. É que se olharmos bem para quase toda a América Latina, defronta-se com a pobreza que existe em Cuba, mas certamente não tem o prestigiante modelo social Cubano.
Voltando aos perigos, manifestamente demonstrados na série de ontem, quantos jovens questionarão a mensagem politica que se habituaram a ver nos meios de comunicação portuguesa. Tomarão já como verdade irrefutável? E pior, quantos estarão na eminência de poder ser críticos do produto que consomem? Não basta só mudarmos de canal… é preciso denunciar, espevitar as mentalidades. Ter, de certa forma, uma acção cívica. O silêncio não é uma arma dos fracos, é aquela que parece devolvida à génese de um povo, por razões de natureza endémica de décadas e décadas de um regime cinzento e que, demora e teima em desaparecer.
Por: Tiago Pereira da Silva
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1 comentário:
ótimo texto.
não sou fão de csi mas confesso o ser de outras tantas séries norte-americanas com intúitos parecidos. o ponto de vista americano está e estará sempre nas entrelinhas destes tipos de entretenimento, ainda mais quando se trata de televisão.
o fato é que algumas pessoas já não pensam mais nisso ou naquilo qdo chegam estarrecidas do trabalho diário e a única coisa que lhes interessa ver é a primeira besteira a lhe estampar na frente.
infelizmente é assim, e ás vezes até mesmo eu me pego num dia destes. mas ainda me incomoda - e muito - esta desatenção.
lol.
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