quarta-feira, 21 de maio de 2008

Adriana Calcanhotto no Coliseu - uma história em dois capítulos.



Prólogo Inicial: Segunda-Feira tentativa de concerto...
Terça-Feira, para os que voltaram (a organização optou por esta resolução, ou/em vez da devolução do diheiro), concerto e algumas surpresas.


Por: Tiago Pereira da Silva

Quando na segunda-feira entramos no Coliseu dos Recreios para o concerto da Adriana Calcanhotto, nada faria supor estarmos na presença de um concerto, que em tudo, se tornaria diferente. Depois de deambular pelo universo de suas canções do recentíssimo “Maré” - interpoladas com temas de uma carreira, já, com mais de 15 anos; eis que sucede o inesperado a pouco tempo do final do concerto. Um monumental corte de energia, que apelidámos rapidamente de “Apagão”, deixando toda a gente estupefacta durante uns minutos (incluindo os elementos da banda). Quando todos nós percebemos que a falha de energia não seria prontamente reparável, sendo aliás independente da própria estrutura do Coliseu dos Recreios (soubemos mais tarde que a própria Avenida da Liberdade tinha tido diversos problemas), chegou-se a temer o pior fiasco. Mas existe uma velha máxima que diz: que nos momentos de grandes problemas, surgem as melhores soluções. Esta, no entanto, como poderão fazer as vossas próprias análises, não está ao alcance de todos.

Mas quem melhor, para contar a história do que um próprio elemento da banda, neste caso um ex Los Hermanos - Bruno Medina (teclista da banda de Adriana), que no seu interessantíssimo Blog: Instanteposterior - conta o sucedido:
(…) Muitas explicações tentaram justificar o imponderável, mas a verdade é que não havia solução conhecida para o problema. A platéia começou a se inquietar, e foi aí que uma brilhante idéia transformou o que seria um desastre num momento inesquecível.
Munida de seu violão, Adriana caminhou até a beira do palco, os músicos se sentaram perto dela, no chão. A essa altura já havia uma luz de emergência, ao menos o suficiente para que nos enxergassem. Sem microfones ou amplificadores Adriana começou a cantar. A beleza do momento foi indescritível.
Como na história de David e Golias, éramos muito pequenos perante o gigante à nossa frente. Milhares de pessoas inertes continham a intensidade da respiração para ouvir o delicado resultado de nossa determinação em continuar tocando frente àquela condição. Ao final, o empenho foi recompensado com uma ovação que certamente constará da história daquele teatro
. (…)

Palavras para quê! A palavra Arrepiante nem cabe em toda a fantástica descrição feita por Bruno Medina. Inacreditável foi ter presenciado um momento de improvável beleza junto do gesto da artista Adriana Calcanhotto e seus 4 músicos em palco. Esta simetria é indissociável, pois o respeito de Adriana pelo seu público, o seu profissionalismo em palco começam a escassear no panorama musical actual. Mais de 90% dos artistas consagrados que conheço (outros não tão consagrados) ter-se-iam, vindo embora, alheando-se do sucedido. E se errar na percentagem é por defeito.

Não querendo fazer uma descrição exaustiva do alinhamento, nem tão pouco das questões mais técnicas do concerto, no que concerne ao espetaculo da segunda noite, não deixo porém de constatar, de certa forma desiludido, que o público procura, cada vez mais, (num exercício de saudosismo invulgar) um concerto ou alinhamento do tipo Best Of. Não deixou de ser caricata, alguma frieza e distanciamento de grande parte do publico, sobretudo no que diz respeito aos temas novos, e, a euforia e rejubilarem-se sempre que Ariana recorria ao repertório mais antigo. Sobretudo no universo mais recente, o de Adriana Partipim. É como assistir a “um” Caetano Veloso sempre com as mesmas pessoas a gritarem e a pedirem “Leãozinho”, “Sozinho”, Você é linda”, etc.
Devo confessar que, utilizando o português bem do Brasil, não tenho Saco para essas coisas…

Foi justamente já perto do final que o concerto se ampliou dum interesse muito pessoal. “Porto Alegre” numa versão arrojada de canto. Talvez o exercício vocal mais difícil de Adriana, em todo o espectáculo.
Quando Adriana, inteligentíssima (como sempre), guarda para o final do concerto, pequenas homenagens a compositores da nova geração como Los Hermanos e Moreno Veloso, seria de se esperar outra reacção do público, que infelizmente não sucedeu. Quase que daria para perguntar do palco: se alguém da assistência conhece Los Hermanos ou o próprio Moreno Veloso?
Que só pelo seu contributo ao álbum Maré já justificaria ser muito mais do que - um filho de peixe que sabe nadar.
Adriana é uma artista moderna. Talvez até demais para a maioria do seu público. E este demais, sem retirar uma gota de prestigio à sua modernidade, que é aliás uma das suas maiores qualidades. A outra, é ser provavelmente a maior compositora-lestrista brasileira da sua geração. Disse.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Adriana pode tocar t�o leve como uma borboleta que voa nos c�us como tamb�m incendiar a plateia com sua vibrante interpreta�o."
Mais um feliz momento..

Anónimo disse...

Ó Tiago, o Djavan vem cá, pá!

Gonçalo L.

Tiago Pereira da Silva disse...

Esse é outro que nunca vi... A esse eu tiro o chapéuuuu.
Se conseguires lol