quarta-feira, 2 de julho de 2008

Bolero da minha infância



Arranca de Bolero em Bolero,
Tudo o que para trás ficou.
Desprende-te da continuidade de Ravel e
Percebe que a confusão é, também ela, clara.
Como a água que destila deste corpo suado
Que afoga cada poro e a cada pólo.
Alavanca em alavanca, começas a desbravar caminho
Para o universo ao teu redor.
Com a impetuosidade de uma vida
Tentas abranger em ti
A cada braço, a cada gesto
O que está noutro plano
O que está above you
O que ainda não consegues enxergar.

Vês-te num labirinto de espelhos
Em que te encontras cerrado.
E neste eco de imagens
Vasas de uma dor dilatante.
A orquestra é inteiramente tua
Replicas-te em mil e uma vozes
Em cem mil corpos e questões.
Apêndices tornam o teu imaginário razão
A razão, do teu inteiro ser.
Fechas, por fim, a cópula.
De pétala em pétala e
Não permites mais que do teu mundo
Ouçamos essa voz transcendental.

Rodrigo Camelo

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