terça-feira, 4 de setembro de 2007

"Turistas (2006)" - O pior filme de sempre? Desculpem..O filme mais perigoso de sempre!

Prólogo inicial: Atenção ao poster...Turistas - Go home
sim ...sim fujamos todos!

Por: Tiago Pereira da Silva

E de repente pensei: a minha vida mudou um pouco depois de ter visto determinados filmes. A “Cidade Deus” por exemplo, considero mesmo, ser um dever cívico, assisti-lo.
“Apocalyse Now” e “Laranja Mecânica” dois dos que, maior impacto produziram sobre a minha pessoa.


Mas se existe a necessidade de reconhecer o quase, antes e depois, de ter assistido a filmes como estes, o equivalente contrário, também. E não estou a falar de filmes de série Z, nem tão pouco de equívocos cinematográficos como as sequelas: “Tubarão III”, ou “Super-Homem IV”, é que para mim, “Turistas”, tratar-se-á do pior filme de terror de sempre, se é que pode ser assim considerado, para além de que é extremamente perigoso na abordagem temática, o que os outros inocentemente não conseguiam, pelo menos, são simplesmente maus nos aspectos técnicos e não tanto, na busca incessante de clichés provocando de forma intencional, um juízo de valor extremamente perigoso, sobretudo para ser exibido a um determinado grupo alvo, (maioritariamente jovem) de salas de cinema, espalhadas pelo mundo, isso é amplamente conseguido pelo filme “Turistas”.
Eu não sei se John Stockwell é o pior realizador do mundo, mas não tenho muitas dúvidas sobre a incompetência inqualificável do guionista e produtor do filme. Genericamente o filme aborda a temática, sempre na ordem do dia, de tráfico de órgãos, neste caso com o pano de fundo - o maravilhoso Brasil, transformado aqui, num barril de pólvora prestes a explodir. As vítimas são, quem mais poderiam ser, um grupo de amigos turistas.

O filme tem início com um aparatoso acidente rodoviário em que o “ônibus”, onde seguiam os turistas maioritariamente anglo-saxónicos (Americanos, Ingleses, Australianos), para não embater em pedestres, que circulavam na estrada, despista-se a pique para uma ribanceira prestes a cair. Desde do princípio do filme e graças aos comentários iras cíveis de um dos protagonistas, apercebemo-nos logo da previsibilidade da cena. Importa aqui salientar, que a imagem que o filme transmite destes condutores de “ônibus” turísticos brasileiros, é a de uns completos assassinos na estrada. Tem graça, eu fartei-me de viajar de ônibus pelo Brasil, nunca em classe turística e jamais vi um pé pesado assim! Mas pronto, devo ter tido azar!

Mas continuando, o filme vai deambulando nos juízos de valor mais superficiais, estereotipados, preconceituosos e perigosos que vi, alguma vez, abordados no cinema.
A certa altura, um grupo de amigos-turistas, acabadinho de se formar, depois de recuperadas as malas, consegue alcançar a praia… O cenário idílico, de um Brasil bem de Cartão Postal, areia branca fina, um azul do mar indescritível, aquela mata densa a cobrir a praia e junto de uns coqueiros, um bar de praia, com as belas mulatas (escolhidas a olho, diga-se de passagem) …Portanto, o verdadeiro paraíso, que procuram milhares de turistas anualmente, eu chamar-lhe ia, e perdoem-me a expressão, putas, copos e vinho verde. É claro que temos de arranjar uma adaptação brasileira. Quem assistiu ao filme e está a localizar a cena a que me refiro, deverá ter tido uma sensação do tipo: Onde é que eu já vi este filme? Com uma cena vergonhosamente igual à chegada de Leo Dicaprio à praia no filme, justamente, chamado “A Praia”. O filme está cheio de referências ao filme de Danny Boyle. Aliás, John Stockwell terá visto também, a “Cidade de Deus” só que evidentemente, terá sido mal informado, ou pesquisado erroneamente, ou até, quem sabe, manipulado propositadamente a informação que adquiriu sobre o Brasil. Estamos a falar obviamente de um país com enormes discrepâncias sociais, em que muitas vezes os fenómenos de pobreza são impulsionadores, sobretudo nos jovens, para entrar no, muitas vezes fatal, mundo do narcotráfico. Mas criar um enredo e uma história, em que mais aprecia a dada altura do filme, que qualquer um das personagens principais de “Turistas” corria risco de vida, só por se encontrar numa aldeia ou vila pobre, parece-me extremamente arriscado. Para “Turistas” quase sempre pobre, significa ladrão, excepção feita no final, com um típico final feliz Hollywoodesco.

Provavelmente o realizador de “Turistas” não sabe, que a percentagem de criminosos de agregados habitacionais (favelas) numa cidade como o Rio e só considerando as mais perigosas, é na ordem dos 2%. Essa é certamente uma das razões, pelas quais, não se vê associado ao filme, nenhum actor brasileiro conhecido. Não devem ter passado da terceira página do guião. No filme, as personagens encontram-se perdidas algures no nordeste. Nem sequer vem bem explícito.

Bem sei que as próprias autoridades brasileiras, tiveram e têm culpa, pelo facto de, durante décadas, terem exportado o Brasil como o país da mulata, do Carnaval, do Samba e do futebol. Mas estou feliz, por ter assistido ao filme. É um pouco paradoxal, já sabíamos um pouco ao que íamos e apesar de nunca ter visto o Brasil tão mal tratado, o visionamento é muitíssimo importante, quase obrigatório para se retirarem ilações e denunciar.

O filme e sublinho, do meu ponto de vista, só acertou num cliché… A paginas tantas depois do ônibus se estatelar na ribanceira, sem vitimas, já que heroicamente toda a gente consegui salvar-se primeiro, depois é que o inevitável aconteceu, e a viatura lá acabou, com menos peso, por cair..Bem como na vida real, mas estava eu a dizer, exacto..o protagonista americano pergunta: Ninguém fala espanhol? Ao que a nova amiga Australiana responde: Aqui o idioma é o português. Sem comentários. Posso colocar um LoL neste texto?? É que ainda hoje me estou a rir.. Pensei inclusive e tenho testemunhas, se isto seria matéria para o “Sapo e a parafusa” ou este “Manipulator of Crowds”.
Temos de tudo o que pode haver de mau e perigoso, desde a Brasileira mulata que parece interessar-se numa festa por um inglês, e depois de seduzi-lo e leva-lo para a cama, retira, nas barbas dele, dinheiro, como quem diz: Tudo tem um preço meu amigo!

Mas o pior de tudo, quanto a mim é a passagem da operação, em que o médico brasileiro vai retirando os órgãos de uma das suas vítimas turísticas aprisionadas, e vai conversando num estilo macabro-pedagógico, do estilo: Vocês sugaram-nos durante séculos, retiraram-nos tudo, vêm para aqui gozar férias como se fossem reis e senhores, está na altura de fazer alguma coisa pelos pobres dos brasileiros que esperam um órgão nos hospitais. Do género de um Messias, justiceiro ou Robin dos Bosques… é pior que mau.

É um dever cívico assistir a “Turistas” de tão mau que é… A dada altura, não sei se estava mais chocado com os disparates do mesmo, ou se com os comentários exasperantes de uns “simpáticos” jovens de 15 anos na fila de trás, com barbaridades do género: “Vê-se mesmo que é um filme Brasileiro” ou, após acena em que uma pobre, de uma favela, partilha um prato quase vazio de comida com um turista, com um ar, de quem diz, é pouco, mas é o que eu tenho para dar..”Risos, lol, Epá esta a oferecer um prato vazio, alta cena”. Os mesmos seres, que amanhã vão andar a espalhar pela escola, que o Brasil é o país mais violento do mundo.

Querem um conselho? Nunca mais vão ao Brasil...

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois é! Foi, de longe, o pior filme dos últimos tempos! Quase traumático!
A tua crítica, como não podia deixar de ser, é uma flecha certeira apontada, e bem, à mediocridade reinante nas mentes desses que se julgam donos do mundo...e pior, da verdade!
Mas nós sabemos que a estupidez e a ignorância são a mais profunda cegueira de que pode sofrer um ser humano...
Hollywood está, desde há muito, cego! (Excepção feita para alguns, muito raros, lamentavelmente!)

Mas o melhor do filme, tenho de confessar, foi a reacção que provocou em ti.
Quem já se habituou a ler os teus textos, certamente reparará que a raiva foi tanta que comeste os pontos finais!!!!

Mais uma prova de que a pontuação é fundamental e pode ser (voluntariamente, ou não) um excelente exercício de estilo!

beijão, " meu camarada"